quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Amar Não É Fácil

Amar Não É Fácil

Foi-se o tempo em que amar era fácil, na verdade, a gente que simplificava mais as coisas. Bastava uma garota ser a mais linda da sala, que todos já se diziam apaixonados por ela, ela passava a ser o “objeto de desejo” de todos os garotos e pronto. Com o passar do tempo, fomos problematizando a coisa, a beleza deixou de ser o nosso único atributo de observação, passamos a levar em consideração outros diversos fatores e esses fatores passaram a embaralhar o jogo, misturando tudo e fazendo com que o amor ficasse mais complicado.
Mas é engraçado, porque quanto mais a gente apura o nosso filtro, especificando no amor, mais ele se complica, aí, com o tempo, a coisa fica ainda mais estranha. Passamos a usar mais filtros, mais opções de escolhas, mais formas de complicar algo que era simples. Aumentamos o nível das escolhas, mas nem por isso a coisa ficou mais simples, passamos a aumentar a dificuldade da escolha, acabando com a simplicidade de se gostar de alguém.
Começamos a colocar mil itens na nossa checklist e passamos a ser uma geração de solitários e infelizes, pois paramos de ver que devemos simplificar para o amor. Nossa capacidade de escolha é inversamente proporcional ao nosso desejo de escolher. Você me perguntará: mas Victor, como assim?! E eu vou te responder de uma forma bem simples: Nosso desejo de escolha é grande demais, buscamos sempre acertar nas nossas escolhas, mas não estamos realmente preparados para fazermos as escolhas sobre amor.
Pegamos e procuramos a pessoa dos “nossos sonhos”, aquela que seja perfeita para nós. Aquela pessoa que supra as nossas necessidades, que tenha todas as características que desejamos, que faça as coisas do nosso jeito que haja do jeito que gostamos, que tenha o cabelo assim, o corpo assado, que saiba se portar em determinado lugar, que tenha um bom emprego, que não seja apenas só um rostinho bonito...
São milhões de opções quer temos para escolher, são várias coisas que podemos escolher e ainda assim, conseguimos escolher completamente errado. Um sábio me falou que você tem que escolher alguém que tenha os mesmos problemas mentais que você. Não importa quais sejam os problemas que você possui, se você encontrar alguém que tenha problemas iguais aos seus e que aceite os seus defeitos, isso já será a maior parte e a probabilidade de sucesso será enorme.
Acho que estou nessa fase atualmente, buscando estar com alguém que seja tão maluca quanto eu, que tenha tantos parafusos a menos quanto eu, que não tenha medo de ser ridícula, de falar de seus sentimentos, de se expor, de ser pragmática, de sonhar com uma vida a dois, mas sabendo que pra concretizar isso, só com os pés no chão, que escolha os nomes dos filhos, mesmo não estando oficialmente juntos, quero alguém que esteja disposta a ser quem ela é comigo e isso por si só baste para mim, que isso seja o que eu julgo necessário para encontrar a minha felicidade, que isso seja pra mim o amor.
Me causa um certo torpor, ver o quanto as pessoas colocam empecilhos para o amor, por julgarem que sabem o que é realmente bom e importante para as suas vidas. Não dá pra entender bem como é que certas coisas possam contar mais do que estar com alguém. Por exemplo, de que importa se a pessoa tem um corpo sarado, se ela tem a alma feia?
Então, se você realmente encontrou alguém que perante você seja perfeita, não no sentido de ser a personificação da perfeição, mas sim de ser uma coisa natural, nata, que você consiga realmente se sentir a vontade com ela, mesmo fora de seu habitat natural, mesmo que essa pessoa te tire do seu lugar comum, que te desperte os desejos de agir, mesmo quando seu corpo te manda parar, mas ainda assim você escuta algo lá no fundo te mandando seguir em frente, saca?
Acho que nossa geração ainda está se prendendo a certas coisas idiotas, fica com essa mania imbecil de colocar defeitos, cada vez mais, só que não tem como seguir em frente nisso. A gente aprendeu a fazer isso errado, pois não podemos complicar tanto assim algo tão simples como amar. Nós ficamos vidrados com a ideia de amor dos sonhos, que nos esquecemos de viver os amores reais, deixamos de lado as coisas que importam para focarmos em supérfluos, nos focamos em subterfúgios, em alegorias, em adereços, em ilusionismos, em coisas que ornam, mas não são o que realmente nos faz bem, o que realmente é o foco.
E assim, o amor não é pra ser complicado, o amor não é pra ser problematizado, o amor é simples, o amor é lindo, o amor é básico, o amor é aquilo que a gente quer, mas que muitas vezes tem vergonha de assumir, é aquele sentimento que todo mundo tem, mas não sabe muito bem explicar. Um amor não é qualquer coisa, não é pra ser escolhido como se fosse um concurso da mega sena da virada. Apesar de ser um tesouro inestimável, ainda assim, o amor é simples, está nas coisas simples, está nos sentimentos mais simples, está na simplicidade de um olhar, numa palavra mais doce ou ainda assim, num gesto descontinuado de desejar boa noite.
Deixemos de lado as listas intermináveis para serem preenchidas, esquecemo-nos das nossas preferências, deixemos de lado um pouco os nossos gostos, nos levemos apenas pelo prazer de uma companhia, pelo quanto é agradável conviver com alguém, por como é bom você conversar com uma pessoa por horas, mesmo que o assunto seja um casamento fictício daqui há dois anos, ou uma viagem no fim de semana para se embriagarem na serra, não se prenda aos detalhes físicos, observe o psicológico, confie numa pessoa que esteja disposta a te fazer feliz, ou mais ainda, foque numa pessoa que sempre te faça feliz, que esteja sempre afim disso.
Não se esqueça, a vida realmente é curta, o amor, ninguém ainda conseguiu definir o que realmente é, se ele é só um para a vida toda ou se você pode amar indeterminadamente, não existe um manual, não existe um sentido único, mas as pessoas precisam estar dispostas a vivenciarem o amor, a estarem em sintonia com o amor, em se abrirem ao amor.
Claro que eu tenho alguns filtros para selecionar o amor pra mim, sim, eles existem e todos nós temos, mas hoje, me foco mais na parte mental da coisa, a minha conexão com alguém precisa ser de alma, de físico eu já tentei em muitos momentos da minha vida e não deu certo. Preciso estar com alguém que eu admire, que eu tenha carinho, que eu sinta orgulho de estar ao lado, que me estimule a ser mais, que busque me fazer ser mais e acima de tudo, que me faça sim ter a certeza de que amar vale a pena. Pois ser é para amar, só se for assim.

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