quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Só Tomo Café Amargo


Só Tomo Café Amargo

A vida é impureza em sua essência
Mazelas, desilusão, sofrimento
Sorrisos, desapegos, amor
Nostalgia, saudade, amizade
Nada disso é puro ou perfeito
Talvez por isso eu viva em desespero
Tentando achar motivos para seguir em frente
Buscando um sentido para a minha vida
Sabendo que o único destino certo é a morte
O resto é brilho e perfumaria
O fardo é extremamente pesado
A dor e a agonia são constantes
A conscientização de que só o fim é certo
Causa uma certa afazia de sentimentos
Anestesiando o coração do cativo
As chagas já não ardem nem dilaceram
A alma pena em ser o que mais dói
E o corpo sucumbe diante dos males
As borboletas no estômago já não existem
Foram comidas por todos os sapos que engoli
Só tomo café amargo
Que é para ver se a vida parece mais doce
O caos tenta vir para me limpar
Para purificar a minha existência vil
Mas a verdade é que não há pureza na vida
Nem toda a maldade está em quem faz o mal
Há maldade também em quem se omite
A vida é impureza e só a morte é pura
Pois é ela quem finda todo o bem e todo o mal
Acaba com os sonhos e os pesadelos
Finita presença insignificante é a minha
Quem sabe a morte me ressignifica
E torna puros os sentimentos que carrego

domingo, 16 de fevereiro de 2020

O Amor É Tudo

O Amor É Tudo

Quando eles se derem conta já será tarde
Sucumbirão diante da própria soberba
Marchando contra a nossa força intransponível

Seremos fortes pelos que não podem ser
Seremos resistência pelos que não resistiram
Seremos luz aonde hoje só existe escuridão

Já choramos o choro dos inconsoláveis
Já nos lamuriamos por todas as nossas crises
Já perecemos mediante a dor que nos infligiram

Mas chegou a hora de darmos um basta
A noite é sempre mais escura antes do amanhecer
É nas trevas que a esperança resplandece

Não temo mais por mim, pois eu já não existo
Revivo em cada verso meu que toma as avenidas
Em cada desesperado que se levanta contra a opressão

Não tenho mais nada a perder além de mim mesmo
Já me desfiz da vaidade de ser algo diferente de mim
E vejo o quanto isso causa espanto aos outros

Quando perceberem que o amor é mais forte que o ódio
Já será tarde, já teremos começado a nossa revolução
E mostraremos que o amor é a força motriz da Humanidade

Vocês tentam nos censurar, mas nós seguimos em frente
Ninguém vai querer nos dizer como iremos amar
O nosso amor é impopular por ser democrático

A onda de amor já está se levantando no horizonte
Não adianta tentarem calar os nossos corações
O amor é tudo o que precisamos para mudar o mundo

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Figura De Linguagem


Figura De Linguagem

Andou, correu e voou como numa gradação
Opôs-se à minha presença como numa antítese
Pensei que ia morrer de amor como numa hipérbole
E o tum tum do meu coração se fez como numa onomatopeia
O seu olhar em omissão como numa elipse
Chovendo, assim, no molhado como num pleonasmo
Seduziu, sensualizou, dançou como num assíndeto
 E dançou, e dançou, e dançou, e dançou como numa anáfora
Sorria pra mim, mas me ignorava como numa ironia
O copo de cerveja falava comigo como numa personificação
Fazendo a minha loucura parecer sã como num hipérbato
Com paixão, com amor e com tesão como num polissíndeto
Surrupiou o meu coração de mim como num eufemismo
Tornando-se a minha razão de viver como numa metáfora
Queria trocar a minha paixão por você como numa metonímia
Posso ter todas as figuras de linguagem para tentar retratar
Mas a sintaxe do nosso amor não se explica
A minha gramática e só te amar e amar
Ironicamente, nosso romance não se escreve em verso ou prosa
É literatura moderna, que toma qualquer forma ou conteúdo
É Machado, é Rodrigues, é Coloneze, é Seidel, é Marques
O nosso amor é qualquer coisa, como uma figura de linguagem

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Não Escrevo Como Antes

Não Escrevo Como Antes

Já não escrevo como antes
A vida não é só amor ou dor
Me vejo em versos distantes
E a vida não tem mais o mesmo sabor

Cansei do meu ponto de vista raso
O que sinto é diferente do que vejo
Me perco num momento ao acaso
Me perco no gosto de um beijo

Minha alma já se encontra cansada
A minha mente se perde, vagueia
O corpo se opõe a vida levada
Enquanto ainda corre sangue na veia

O caráter se molda nos sins e nãos
Narciso achava feio o que não era espelho
O vil metal ainda é riqueza para as mãos
Gosto quando o sol tinge a sala de vermelho

Queria livros que contassem a minha história
Mas não se vê glórias em perdedores
Talvez meus textos me avive a memória
E eu me desfaça dos falsos amores

Eu já não escrevo como eu escrevia
As palavras ditas hoje me são estranhas
Aquelas que eu pronunciei quando não devia
E que hoje me parecem queimar as entranhas