Agora Sou Grande

Agora Sou Grande

Hoje eu acordei e olhei no espelho

Como eu mudei de ontem para hoje

Já não tenho mais o medo de luz apagada

E nem penso no monstro dentro do armário

Os brinquedos deram lugar aos boletos

As amizades sinceras se tornaram escassas

Os sonhos que eu tinha se tornaram devaneios

Alguns dizem que eu agora cresci

Mas que graça tem em crescer? Me diga você!

Não posso mais ter o carrinho que eu quero

As balas em meu caminho não são mais doces

O choro já não é mais de alegria

O cansaço já não é mais de tanto brincar

Antes eu brigava para não ir dormir

Hoje eu só quero conseguir dormir em paz

As coisas mudaram muito

Me olho e não vejo o menino que fui

Os planos eu adaptei pelo caminho

Me tornei um esboço do que queria

Não lamento as decisões que tomei

Eu só queria poder voltar a ser leve

Ser livre, ser eu mesmo

Hoje eu sou eu, mas não sou o mesmo

A vida adulta cobra um preço muito caro

Os sorrisos se tornam raros

Ai, mas que saudade da minha infância

Queria voltar a ser criança

Não para ser mais jovem

Mas para ser mais inconsequente

Poder ser destemido e enfrentar tudo

Sem temer o que vem depois

Eu era uma criança com medos bobos

De monstro do armário, de luz apagada...

Hoje eu temo saber o que me tornei

Agora sou grande e temo não ser o herói da minha infância

Não ter me tornado tudo aquilo que eu sempre quis ser

Mais Um Na Multidão

Mais Um Na Multidão

Estou acordado há mil séculos

E sinto que o mundo parece andar pra trás

A minha consciência é etérea

Estou acordado há mil anos

E sinto que a vida parece andar pra trás

A minha vivência é etérea

Estou acordado há mil dias

E sinto que a mente parece andar pra trás

A minha vontade é etérea

Estou acordado há mil horas

E sinto que o tempo parece andar pra trás

A minha passagem é etérea

Os ponteiros do relógio rodam pra trás

Envelhecemos e ficamos menos sábios

Perdemos a consciência coletiva

Passamos a viver por viver

Nos tornamos cada vez mais egoístas

Somos cada vez mais descartáveis

Os ponteiros do relógio apontam

Falta um minuto para o juízo final

E ninguém mais se dá conta

O tempo vivido será em vão?

As dores sentidas só machucaram?

Sou só mais um na multidão

Meus Corações

Meus Corações

Eu sempre me achei incapaz de amar

Achava que meu coração veio com defeito

Pois por mais que eu deixasse o amor entrar

Ele não prosperava no meu peito

Eu errava, rotundamente, no amor

Tinha um toque de Midas às avessas

Tudo sempre acabava em muita dor

Potencializando todas as mágoas pregressas

Mas um dia o amor me alcançou

Me fez ver para que o coração serve

Nada mais na vida me importou

Só entender como o sangue ferve

Só que ele foi feito para funcionar errado

E quebrou de forma que sempre ia soer

Achei que era um alívio ter meu coração quebrado

Porém, agora são só mais pedaços de corações para doer

Preto No Branco

Preto No Branco

O papel é branco

A tinta é preta

O papel sozinho não diz nada

A tinta sozinha não diz nada

Tal qual Deus com as raças

O poeta sabe como juntar os dois

E dessa mistura surge o que se tem para dizer

Sobre união, paz e respeito

É a coisa mais linda

Ver a junção da tinta com o papel

O branco e o preto amalgamados

A tinta preta que se derrama sobre o papel branco

É como o sangue negro no chão do Brasil

Servindo para escrever a nossa história

Não se escreve Brasil sem o branco e o preto

É a combinação que nos descreve

Só a harmonia da poesia para demonstrar

A beleza da tinta sobre o papel nos mostra

O preto e o branco que se mesclam

E desse encontro se moldam com perfeição

A igualdade das cores no poema

Aglutina o melhor das palavras

A coalizão das ideias é épica

E eu que sou poeta

No auge do meu poder sobre as palavras

Junto o preto com o branco

E em branco e preto digo:

Viva o preto!

Viva o branco!

Viva a tinta!

Viva o papel!

Viva a união!

Viva a poesia!

Viva a consciência negra!

Sob A Lua

Sob A Lua

Sabe aquela lua que sempre nos escoltou?

Que nos guardava lá de cima quando estávamos juntos?

Hoje ela estava no mesmo lugar em que da última vez que nos vimos

Ela veio aqui só para me contar como você está

E me dizer que hoje você se deita com alguém que não te ama

Se forçando a tentar esquecer o que eu te fiz sofrer

Por te fazer me amar

Mas ela é testemunha de que eu sofri também

Por não mais estar contigo

Idealizamos uma vida juntos

Planos e sonhos desfeitos com o fim da relação

Eu confessei meus erros para a lua

E sei que você também fez o mesmo

Mas não nos perdoamos como casal

Você se ressente de coisas que eu não fiz

Baseada em algo que você ouviu falar

Jogou fora nossos anos fio de amor e amizade

Rasgou nossas fotografias, jogou fora os presentes

Eu guardei tudo numa caixa no fundo do meu armário

Pois, se joga fora os bens materiais

Mas não se joga fora os sentimentos

Eu lamento que você hoje viva assim

Aceitando um amor que não te ama

Só para tentar se enganar que me esqueceu

Peço a lua para me guardar de quando te encontrar

E eu não fique triste por te ver nos braços de outro alguém

Quero apenas te ver feliz e saber que está tudo bem

Que o que passou, passou

E hoje você é feliz no abraço de braços que não são meus

Oh, lua, que bom que você ainda vem me ver

Mesmo sabendo que eu assassinei uma história de amor

Que você abençoou

Pois se compadece de mim e daquela que eu um dia amei

E que um dia me amou com devoção também

Existência

Existência

Sigo o meu caminho

Em busca de um futuro

Atrás de alguma coisa

Vivo três existências por dia

A que as pessoas pensam de mim

A que a sociedade almeja para mim

A que eu vivo para mim

Para cada pessoa eu sou um eu diferente

E tento me equilibrar nisso tudo

Vou vivendo assim, ano após ano

Aguentando, dano após dano

Abraçando, mano após mano

Mas sigo sendo o melhor de mim

Pois a vida é minha

E ninguém mais vai viver por mim

Só eu vou carregar as chagas da caminhada

Trazendo nos vincos do rosto

Todas as marcas dos meus descaminhos

Cada ruga trará escrito uma escolha

Amores vêm e vão

Lugares que visitei

Lembranças que eu guardei

E o Sol arde lá fora

Enquanto aqui dentro é só silêncio

E fúria

Abraço a ideia de uma vida longa

Mas que ela seja extremamente bem vivida

Os anos passam

Os danos passam

Os manos passam

Só não passo eu

Aqui jaz mais um

Ou simplesmente

EU

Vaga Esperança

Vaga Esperança

Busco algo que nem sei dizer

Não sei se existe ou não

Apenas especulo comigo

Tentando dar sentido a essa busca

Tão implacável quanto insana

Me deixando preso em meus pensamentos

Me tornando errático e descrente

Perdendo-me em mim

Acorrentando-me ao peso de uma ideia

Que vai crescendo aqui dentro cada vez mais

Que me força a buscar o novo

Afinal, veja o horizonte

Ele é diferente em cada pôr do sol

Assim também são as pessoas

Que mudam a cada respirar

Aprendem, sentem, evoluem

Se tornam um outro alguém

Levando embora os sonhos infantis

As ideias bobas caem por entre os dedos

Sobram as preocupações e as ilusões

Já partiram meu coração várias vezes

E ainda assim eu acredito em coisas boas

Me apego a uma vaga esperança de dias melhores

De ter um amor verdadeiro

De saber que o que vivi até aqui valeu apena

Que o choro derramado curou as feridas

E ser grato por cada relacionamento que deu errado
Pois, finalmente, eu encontrei você

5 De Novembro, Relembro

5 De Novembro, Relembro

Relembro, relembro

Do cinco de novembro

Data essa malfadada

Deu-se a revolta mal enjambrada

Mas o ideal da revolução

Era a esperança de uma nação

Acabar com o governo corrupto

Era a sina do herói irrupto

Fogo e pólvora eram seus artifícios

Que levaria vidas como sacrifícios

Pondo abaixo o prédio do parlamento

Acabando assim com a era de tormento

Acabando com o mal que ao país consumia

É a chama que até hoje alumia

Servindo de exemplo para revolucionários

Que miram feitos extraordinários

Seu ideal nunca será esquecido

Pois almeja quebrar o status estabelecido

Personagem laureado da história

Guy Fawkes, figura meritória

Nunca abandonou os seus ideais

Basilando pensamentos fundamentais

Para um mundo justo e moderno

Tornando seu legado eterno