A Geração De
Ídolos Estéreis
É sempre
complicado falar de gerações distintas, né? A geração dos meus pais deve ter
sofrido do mesmo mal que a nossa geração sofre agora em relação as gerações
mais novas, assim como essas irão sofrer em relação as gerações futuras. Isso
sempre ocorreu e sempre ocorrerá, contudo, acho que atualmente estamos numa
crise de valores sem tamanho que está fazendo com que esse choque de gerações
seja ainda mais acentuado.
Falo isso não
apenas por conta da minha dificuldade em ver graça em determinados tipos de
sons e imagens produzidas pelas novas gerações, mas principalmente pelos ídolos
e símbolos que eles estão criando. Veja bem, não sou daqueles saudosistas que
acha que tudo o que é da minha época é melhor. Reconheço que os avanços
tecnológicos facilitaram a comunicação das pessoas, todavia, facilitou que as
pessoas pudessem ganhar um alcance que muitos dos maiores escritores
brasileiros nunca sonharam em ter.
Vejo algumas
coisas como emblemáticas. Na minha infância, a liberdade sexual era muito menos
liberal, se é que vocês me entendem. Tínhamos a liberdade de beijarmos quem
quisermos, quando quisermos e como quisermos, desde que essa pessoa fosse do
sexo oposto ao nosso. Hoje em dia, os jovens possuem a liberdade geral, não se
criticam mais orientações sexuais como na minha adolescência. Os jovens se
beijam, se curtem, como na época pré-AIDS, nos anos 70, o amor livre.
E você vai se
perguntar o porquê de eu estar falando isso. Bem, é simples, eu não sou
obrigado a gostar de qualquer coisa. Seja o estilo de arte que for, escrita,
falada, cantada, encenada, pintada, esculpida... Toda forma de arte tem um
objetivo contestador que independe do seu teor estético para ser apreciada como
arte, contudo, só agrada realmente se vier com um valor histórico e também, com
uma carga estilística que defina a sua geração.
Entrando nessa
seara, pois me pego observando os ídolos atuais e não vejo eles acrescentando
nada. Não existe uma voz, um discurso, uma postura, uma visão, um movimento,
nada. Essa geração é uma geração que fala muito e não tem nada a dizer. É uma
geração que vive da imagem, do status nas redes sociais, de curtidas, de
visualizações, mas que não apresenta um sentido pra isso tudo.
Essa geração está
se tornando a geração mais contestadora de todos os tempos, mas sem apresentar
um sentido para o movimento. Criam ídolos vazios, pessoas sem conteúdo, mas que
por algum motivo chegaram ao posto de vozes dessa geração. Mas aí eu tento
acompanhar os seus discursos e me pergunto, mas são vozes de que?! O que eles
querem dizer?
Não me levem a
mal, vou citar alguns ídolos dessa geração e espero que as pessoas não se
ofendam, é apenas uma opinião simples, que não quer dizer que eu desgosto
dessas pessoas, mas sim que não vejo um discurso contundente vindo delas.
Peguemos por
exemplo o Neymar. O cara é um craque, dentro das quatro linhas é um gênio, faz
com a bola coisas inimagináveis e pode ser o próximo grande craque a conduzir a
Seleção ao esperado hexacampeonato de futebol. É normal que desperte interesse
das pessoas que gostam de futebol e que se interessem pelo esporte em geral.
Mas vocês já viram uma entrevista do Neymar? Pois então, as entrevistas do Neymar
são entediantes toda vida. Até quando pensamos que ele vai falar algo
interessante, como foi quando se machucou antes da semi-final da Copa de 2014
ou quando foi se transferir do Barcelona para o PSG, o cara não foi capaz de
produzir uma entrevista interessante, falar de problemas relevantes, de
questões que fossem além de eu estou pronto para novos desafios.
Neymar é um
produto de uma mídia que num mundo tão rarefeito de discurso, se coloca como
uma voz estéril, que em nada acrescenta ao mundo. Fazendo um paralelo com a
minha época, Romário, quando às vésperas da Copa de 94 foi entrevistado, deu a
seguinte declaração: “Vou trazer a Copa para o Brasil”. É uma diferença brutal
de discurso, até porque, naquela época, os atletas gostavam de falar, ao
estarem na mídia, sempre eram personagens icônicos, engraçados e interessantes.
O bom mocismo de
Neymar nas suas entrevistas contrasta com a sua índole mimada em campo, sendo
uma pessoa irritadiça, que não gosta de receber faltas e muito menos ser bem
marcado, ainda que com lealdade. Daí, me vem essa irritação com ele, dentro de
campo você pode esperar que ele faça de tudo, até de repente sair no braço com
um adversário, mesmo sendo franzino e relativamente pequeno para os padrões
atuais de atletas.
Outra pessoa que é
ídolo dessa geração é o Whinderson Nunes. Nada contra, o cara é engraçado, mas
tal qual o Neymar, é puro entretenimento, não espere um grande discurso, uma
opinião mais contundente sobre determinado assunto ou ainda uma postura
relevante sobre alguma polémica nacional ou mundial. Tanto um, quanto o outro,
em nada acrescentam às discussões necessárias para um mundo melhor.
Mas você pode me
questionar: Mas Victor, nem tudo precisa ter um questionamento ou um discurso.
Concordo plenamente, mas quando você coloca certas pessoas como as vozes de uma
geração, você vai nortear essa geração por esses discursos. Aí, quando daqui a
30 anos forem olhar para trás, vão ver que essas pessoas não diziam nada além
do trivial.
Até os discursos
de engajamento dessa geração são mais estéreis que os de gerações passadas.
Caetano falou com propriedade: “É proibido proibir”. Algo que tem tudo a ver
com essa geração, contudo, até mesmo esse tipo de discurso de Caetano, se perde
em uma geração que é liberal e retrógrada ao mesmo tempo. Que consegue votar no
Bolsonaro e no Freixo ao mesmo tempo e não vê antagonismo nisso, que acha que
toda forma de amor é possível, desde que não se seja gay, negro, pobre ou
qualquer outra forma “inferior” de ser humano.
Quando vamos para
o universo virtual, aí então que vemos o quanto essa geração é carente de
ídolos. Biel, Justin Bieber, Neymar, Whinderson, são ídolos ocos, que não têm
conteúdo para acrescentar algo de valioso para os seus contemporâneos.
Acontece, que nem tudo é ruim.
Temos algumas
vozes nessa geração sim, pessoas que não são tão idolatradas quanto esses
citados e tantos outros que possuem legiões de fãs e tudo mais. A Emma Watson,
a Hermoine de Harry Potter, é uma das vozes mais contundentes quando o assunto
é igualdade de gêneros. Temos alguns artistas que falam sobre liberdade sexual,
como a Valeska Popozuda e Carol Konka, ainda temos outros que falam sobre o
amor livre, como Johnny Hooker, Linieker e Pabllo Vittar.
Não estou aqui
questionando a qualidade musical dessas pessoas, até porque, alguns desses artistas
eu curto o som e outros nem tanto, mas ao menos eles apresentam um discurso, têm
mais o que dizer, além do básico, conseguem conceder entrevistas interessantes
e apresentar uma visão de mundo melhor.
Não por acaso, os
artistas por mim citados são gays ou mulheres ou negros, pois esses são os que
mais têm a questionar no nosso mundo de hoje. Afinal, depois de milênios de
nossa civilização, continuamos machistas, homofóbicos, retrógrados, sem que
vejamos o outro como um igual.
Criamos uma geração
sem sal, onde tudo é extremo, tudo é errado, mas que nada é questionado de
fato, onde se pode tudo, mas desde que você não questione nada, onde se fala de
tudo, mas de forma totalmente abstrata, onde se pode tudo, desde que não se
faça realmente nada.
Cazuza cantou e
profetizou: “Meus heróis morreram de overdose e meus inimigos estão no poder...
Ideologia, eu quero uma pra viver”. Enquanto para muitos é apenas uma leve
crise de conhecimento, para mim se torna uma crise moral, social, política,
ideológica e humanitária. A humanidade está abandonando o seu lado humano e
passando a ser cada vez mais individual, egoísta e mesquinha, estão se
preocupando mais com quem o outro se relaciona, com a cor da sua pele do que
com o fato de que só quando conseguirmos deixar de ver nossas diferenças,
seremos realmente soberanos dos nossos destinos.
Sendo assim,
espero que consigamos derrubar os inimigos da humanidade do poder, deixemos de
lado os nossos pensamentos pequenos, voltemo-nos para ideologias de
engrandecimento, de união, de paz, de harmonia e de felicidade, que possamos
pregar a vida plena, que possamos pregar a ajuda, o crescimento, o conhecimento
universal... Que surjam mais pensamentos questionadores, que os jovens possam
voltar a se interessar por política, que as músicas parem de ser apenas arte
estética e de entretenimento, mas tenham engajamento político, sentido
ideológico e discurso humanitário. Que possamos voltar a ver que a humanidade
está evoluindo, tem jeito e ainda vai nos fazer ter muito orgulho de dizermos,
que somos humanos e por isso mesmo somos a maior maravilha do planeta Terra.