Nos
Vemos Na Encruzilhada
Me
sinto hábil a lidar com a morte, sou realmente pragmático, acho que a morte é
consequência do ato de estarmos vivos e por isso mesmo a encaro com
naturalidade. Ocorre que tenho a visão normal da morte, aquela que dá sinais de
que vai acontecer, apresentando aspectos em sua trajetória, antes do seu ato
derradeiro. Sou extremamente preparado para essa morte, aquela em que a pessoa
fica doente, passa um tempo no hospital, não consegue se recuperar e vem a
óbito.
Acho
essa morte natural, inevitável e infalível. Tem um ditado americano que fala:
Só existem duas coisas inevitáveis na vida, morte e impostos. E realmente é
assim, pra morrer basta estar vivo. É simplório falar isso, mas é a verdade, qualquer
pessoa está passível de morte, basta estar viva.
Nos
últimos dias, a morte resolveu aparecer no meu convívio, levando duas pessoas
que se eu não era próximo, me fizeram sentir muito, pois as conhecia há muito
tempo e por conta dos acontecimentos de suas mortes.
O
primeiro caso foi do Pedro, menino bom, nunca fomos amigos, propriamente dito,
mas sempre tivemos um círculo de amizades que se interligava, o que nos fez ter
um convívio relativamente bom.
Pedro
era meu vizinho, morava na rua transversal à minha e na semana passada teve sua
vida, seus sonhos e sua alegria interrompidos por causa de facínoras, que o
assassinaram brutalmente, dentro de sua própria casa, deitado na cama, com requintes
de crueldade, por conta de alguns bens que os mesmos foram roubar na casa. Uma
vida não pode ser mensurada por bens materiais, ainda mais a vida de um jovem
que tinha tantos planos, sonhos e desejos.
Ontem
de noite recebi a triste notícia que um amigo de infância falecera num acidente
de carro próximo a sua fazenda na Bahia. Há muito que eu não via o Dagoberto,
um cara que eu convivi bem, durante muitos anos, por conta do grupo de jovens
da paróquia, mas que após se mudar para a Bahia e se casar eu só tinha contato
via Facebook.
Uma
amiga me informou que o mesmo sofreu um acidente de carro, capotando com o
mesmo a poucos metros de sua casa, vindo a óbito, ainda no local, interrompendo
também uma trajetória de uma vida cheia de sonhos e desejos que não irão se
realizar.
Esse
tipo de morte, assim, abrupta, torpe, estúpida, sem sentido, pra essa eu
admito, eu nunca estou preparado. Não só pelo fato de serem jovens, ambos eram
mais novos do que eu, mas pelo fato de serem assim, tão de repente, de uma hora
pra outra. É estranha a sensação de nunca mais encontrar alguém, que o ciclo
dessa pessoa se encerrou assim, de uma forma tão do nada.
A
religião consola o coração das pessoas com ideias sobre a vida, a morte e tudo
mais, eu, como católico, acredito sempre que nunca intenderemos os desígnios de
Deus e que por isso mesmo, fica complicado aceitar mortes como essas, contudo,
devemos confiar sempre que os seus julgamentos são sempre melhores que os
nossos, assim, quem sabe conseguimos reconfortar os nossos corações nesses
momentos.
A
brutalidade dessas duas mortes, me faz pensar na fragilidade de nossas vidas, o
quanto a nossa passagem por esse mundo pode ser encurtada a qualquer momento, o
quanto que nós somos insignificantes diante do todo do universo, mas o quanto
significamos para as pessoas que ficam. Pode soar clichê e tudo mais, mas
realmente é incrível como uma morte sempre traz esse pensamento de perda, de
ausência, de finitude. É impressionante, você saber que nunca mais encontrará
com aquela pessoa, nunca mais cruzará com ela na rua, nunca mais terá o prazer
de sua companhia, nunca mais... A morte é a única certeza que temos quando
entramos na vida e sempre que ela aparece a gente age como se nem soubéssemos que
ela existe.
O
que vale é que todos nós temos a nossa hora, a morte é implacável, ela
alcançará a todos nós, independente de sexo, idade, cor, credo, orientação
sexual, classe econômica, grau de instrução, e qualquer coisa que nos difere,
na morte somos todos iguais. Do pó nós viemos e ao pó retornaremos.
Vão
com Deus, meus caros, que vocês possam ter uma nova vida no céu, que possam ser
ainda melhores pessoas do outro lado, saibam que eu rezei pelas suas almas e
espero que de onde vocês estejam, possam olhar pelas pessoas que vocês gostam,
que gostam de vocês e que sentiram muito a partida de vocês. Um dia a gente se
encontra do outro lado da encruzilhada!
PS:
Aconselho a quem quiser entender porque do nome do texto, ouvir uma música do
grupo Bone Thugs N Harmony chamada Tha Crossroads, que fala justamente dessa
questão da morte, da perda e de como lidar com isso.
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