Dever
Cívico: Ser Uma Pessoa De Bem
Tentando
entender um pouco esse mundo, me pego cada dia mais percebendo o quanto o mundo
está ao contrário e poucas pessoas só que perceberam, bem como disse o poeta e
Cássia Eller bem cantou em Relicário. As pessoas andam cada dia mais
esquisitas, impacientes, implicantes, desprovidas de educação, desrespeitosas e
tantas outras coisas ruins que posso falar do que tenho visto no dia a dia andando
pela cidade do Rio de Janeiro.
Uma
vez, li: “ O melhor do Brasil é o brasileiro”, concordo muito com essa frase,
afinal de contas, somos um povo capaz de surpreender com criatividade,
solidariedade e coisas assim, mas ao mesmo tempo, essa frase deveria de ser
acompanhada de um complemento: “e o pior também”, afinal, temos todas as
mazelas que citei acima, fora tantas outras que eu não me darei ao trabalho de
comentar.
Tenho
andado muito de ônibus e quanto mais eu ando, mais eu percebo as mazelas do ser
humano. São pessoas muito despreparadas para viverem em sociedade, muitas vezes
incapazes de serem chamadas de humanas. Hoje, aconteceu um caso, que me
entristeceu muito, um senhor já com idade bem avançada, entrou no ônibus
Integrada8, o que eu pego, na avenida das Américas. Como o ônibus já estava
cheio, ele ficou em pé, eu estava nos últimos bancos, pois eram os únicos lugares
disponíveis. Quando o senhor ia passando pelos bancos, as pessoas iam se
virando para o outro lado, como se esse senhor tivesse alguma doença
pestilenta.
Me
levantei e ofereci meu lugar para o senhor, que já estava mais que
desequilibrado no ônibus, contudo, conseguiu, aos trancos e barrancos se sentar
no lugar que eu tinha oferecido a ele. Um ponto depois, um jovem, acho que
devia de ter no máximo 21 anos, se levanta para saltar, me causando
estranhamento, pois quando o idoso passou, o mesmo fingiu que nem era com ele.
Esse
é o mesmo tipo de pessoa, que reclama que o Brasil está desse jeito por causa
dos outros, mas é justamente isso que está faltando ao nosso povo, a
autocrítica, o senso de ridículo, o famoso simancol. São as pessoas que têm
essa atitude com idoso, grávida e deficientes que reclamam que o governo é
corrupto, que as instituições são falidas, que não aguenta mais o Brasil,
porém, que não faz a sua parte.
Não
sou uma pessoa totalmente correta, tenho meus desvios também, cometo minhas
falhas, mas ao menos estou tentando fazer a minha parte. Não sento em bancos
prioritários, evito de ficar na porta dos transportes públicos, para facilitar
a entrada e saída do mesmo, não me isento de culpa por conta da situação em que
o país se encontra, tento buscar soluções, ser uma pessoa melhor.
Estamos
numa fase em que não atrapalhar, já é pouco, em que fazer o seu, já não é o
bastante e que fazer a coisa certa não é um privilégio, é uma educação. Somos
uma geração que aprendeu os seus direitos, mas que liga muito pouco para os
seus deveres.
Uma
geração que idolatra pessoas que cerceiam direitos, que discriminam, excluem,
maltratam e ainda por cima, dividem cada vez mais uma sociedade desigual, por
outro lado, reclamam de defensores dos direitos humanos, taxando-os de
defensores de marginais, quando na verdade, não fazem nem ideia do que tratam
os direitos humanos.
Hoje,
encontrei um rapaz no ônibus que me pareceu um viajandão, estilo novo hippie,
sabe? Cabelos e barbas longo, estilo skatista, com aquela pinta de
maconheiro... Acabamos nos conhecendo, pois fomos pegar o mesmo ônibus e o
motorista resolveu nos fazer correr um pouco atrás do ônibus, pois não quis
seguir as leis de trânsito e trafegar pelas faixas mais à direita.
Assim
sendo, quando entramos no ônibus, depois de uma corrida de uns 200 metros, fizemos
aquele desabafo básico, de quem trabalhou o dia inteiro e tem que aturar um
destrato desses, por parte do motorista, ainda para encarar uma viagem no
ônibus lotado.
Começamos
o desabafo praticamente da mesma forma, reclamando do serviço prestado pelas
empresas de ônibus e acabamos papeando animadamente de Ipanema até o Recreio.
Bota duas horas de trânsito aí. Conversamos sobre sociedade, política,
transportes, educação, violência... Ou seja, as agruras do Rio de Janeiro.
Foi
um papo muito proveitoso, ainda mais vindo de um jovem que eu nunca teria a
oportunidade de conversar, se não fosse o acaso do caos do Rio. Porque estou
falando isso? Simplesmente porque eu quis corroborar com a tese de que o melhor
do Brasil é sim o brasileiro. Quando eu menos esperava, depois de uma
demonstração de incivilidade hoje cedo, encontrar num ônibus, seria uma voz que
se alinha com os meus pensamentos. Alguém que também acha que nós, cidadãos é
que temos que mudar esse país, não adianta ficar achando que a culpa é do
outro. Pessoas que pensam a maldição jogada por Sartre: “O Inferno são os
outros”.
Um
sábio uma vez escreveu na parede do banheiro de um boteco que eu frequentava o
seguinte: “O mal do macaco é sentar no próprio rabo e ficar falando do rabo dos
outros”. Achei genial a frase, ela se aplica muito nos dias de hoje, muitas
pessoas apontando dedos, indicando os erros dos outros, mas elas mesmas
esquecem que tem dias em que somos pedras, mas em outros podemos ser vidraças.
Logo, para mudar o nosso mundo, ao menos o mundo a nossa volta, precisamos ser
exemplos, sermos educados, polidos, tratar bem todas as pessoas, respeitar o
próximo e acima de tudo, cumprir com nossos direitos e deveres.
Não
sejamos o mal do mundo, estamos nesse mundo para sermos luzes e iluminar a
humanidade para dias melhores e não para sermos trevas e carregar nossa
civilização cada vez mais para a escuridão. Que tenhamos sempre a consciência
que direitos só foram conquistados a duras penas, durante vários anos sob o
jugo da dor, do ódio e do mal que foi a ditadura, por isso, sejamos conscientes
de que para exercer plenamente a nossa cidadania, precisamos ser pessoas de
bem, servindo de exemplo para as futuras gerações.
"O melhor do Brasil é o brasileiro... E o pior também."
ResponderExcluirCurti!
Pois é, Flavinha, o brasileiro é um povo surpreendente, do mesmo modo que faz algo bestial, faz algo besta. A mesma pessoa que é capaz de emocionar é capaz de magoar e por aí vai. O brasileiro é bom, só que de vez em quando se esquece disso.
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