domingo, 3 de janeiro de 2016

Sobre Partidas, Adeus e Despedidas

Sobre Partidas, Adeus e Despedidas

Engraçado como o ato de se despedir de alguém nunca me foi agradável. Acho que sou como Leandro e Leonardo e não aprendi a dizer adeus. Abrir mão de estar com alguém, sem saber quando essa pessoa vai aparecer de novo me causa sempre um aperto no peito, angústia e um sentimento de perda do controle sobre as coisas, mesmo sabendo que não controlo nada, que me trazem uma impotência que é atroz.
Desde pequeno eu nunca soube lidar com isso, toda vez que eu tinha que dar as costas para alguém que eu amava e via essa pessoa sair de perto de mim, sempre me vinha a sensação de que aquela poderia ser a última vez que eu a vi, algo que não sei se se passa na cabeça de todas as pessoas, porém, tenho certeza que não é muito comum na cabeça de crianças de 4 anos, de quando me remete a minha lembrança de me despedir de alguém que eu amava.
Pra quem me conhece, sabe que tenho uma família composta inicialmente por 5 pessoas, meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho e minha irmã. Sempre convivemos juntos sob o mesmo teto até o dia que minha irmã se “casou” e depois quando o meu irmão se casou também. Eu sempre tinha a certeza de encontrá-los no final do dia, após a aula ou o trabalho, contudo, sempre dava tchau, nunca falava adeus.
Sempre soube reconhecer o valor das palavras, desde garotinho, quando comecei a entender o que falava e o que ouvia, sempre busquei usar as palavras sabiamente, tanto para o bem, quanto para o mal. Então eu nunca dizia “adeus”, era sempre tchau, até logo ou até breve, adeus era uma palavra tão forte para mim que eu criei uma aversão a ela.
Sempre me pareceu que ao dizer adeus, você estava abrindo mão de ter aquela pessoa pra sempre, parecia que era uma despedida eterna, sempre me lembrou a morte ou rompimento, coisas que eu nunca fui muito fã e sempre “evitei” na minha vida.
Com o passar do tempo, tive que aprender a lidar com os dissabores da vida, com as mudanças e variações da vida, me dando mais experiência para lidar com essas situações, embora, nunca tenha tido que me despedir dos meus entes mais próximos, me despedi de amigos, de colegas de colégio, de professores, de vizinhos...
Contudo, em 1994, tive que lidar com a morte da primeira vez e também com o meu primeiro adeus, minha primeira despedida de um ente querido, quando do falecimento do meu avô materno. Um garoto de 11 anos que nunca lidou com a morte, a não ser de seus animais de estimação, ter que encarar uma cerimônia de velório e depois um sepultamento foi muito ruim. Dizer adeus realmente não fazia parte ainda do meu vocabulário e eu tive que aprender na marra isso, tendo que dizer adeus ao meu avô, seria de uma vez só, uma forma bem dolorosa e bem direta e simples, iriam levar meu avô, colocar num buraco, fechar e eu nunca mais poderia vê-lo. Ou seja, eu perderia o controle da coisa, viria a angústia e também o aperto no peito, tudo, por saber o significado das palavras.
Hoje, já aprendi a dizer adeus para as pessoas, mas continuo sem saber dizer adeus para quem eu amo, é um sentimento egoísta, eu sei, mas não aprendi a lidar com isso. Sou do tipo que não preciso ver uma pessoa todos os dias, mas só de saber que posso vê-la quando eu quiser eu já fico mais tranquilo, saber que é só pegar um telefone e ouvir a sua voz, me deixa sossegado. Agora, lidar com distância, com ausência, com a falta que a pessoa faz, não é muito a minha.
Sou um típico cara que gosta de estar em família, com os seus, com quem eu amo, com quem me faz bem, com quem eu posso contar e com quem pode contar comigo, sou fiel aos meus princípios de querer bem, claro que tenho os meus defeitos, mas para a minha família eu abro mão de qualquer coisa para poder ajudá-los querer o seu bem e fazer com que eles estejam bem e felizes.
Tive que lidar ainda algumas muitas vezes com o adeus por conta de morte em minha vida, perdi os meus 3 avós restantes, 3 tios, alguns amigos, mas sempre estive próximo do meu núcleo familiar mais chegado, mesmo com os meus irmãos não mais morando conosco, minha irmã faz questão de ligar pra casa tantas e tantas vezes quanto ela julga necessárias, muito mais do que as vezes que eu julgo, tenham certeza e meu irmão também sempre se fez presente, assim, a ausência, a distância e a falta de convívio eram supridas pela facilidade das tecnologias, até porque, cada um deles está há no máximo uma hora de distância de carro daqui de casa, o que sempre facilitava para nos vermos.
No dia de hoje tive que levar meu irmão para a rodoviária para ele encarar um novo desafio em sua vida, ele tá indo viver em SP e não terei mais essa certeza de poder a qualquer momento fazer algo que possa ajudá-lo, cuidar dele ou até mesmo contar com ele quando eu precisar. Hoje eu tive que dizer adeus pela primeira vez para alguém do meu núcleo familiar. Estou com o triplo da idade de quando tive que dizer adeus para um parente próximo e ainda assim não estava pronto. Não ter o controle de quando vou poder ver, abraçar, conversar no mesmo ambiente é uma sensação de vazio que não tem tamanho.
Claro que estou feliz pelo meu irmão estar indo para esse desafio, ele vai estar fazendo o que ele gosta, na cidade que valoriza o talento dele e tudo mais, mas, contudo, eu ainda não aprendi a dizer adeus. Desapego é uma coisa que eu faço com quem eu posso descartar, ou quando realmente não posso fazer nada sobre o assunto, como a morte, mas pras pessoas que eu quero bem, que fazem parte do meu ninho, dizer adeus é uma tarefa dolorosa e árdua.

Hoje eu disse adeus, mas foi sem querer.

2 comentários:

  1. Parabéns pela atitude meu irmão! Continue alimentando essa arte de escrever que você sempre teve e aparentemente sempre terá!
    Sou seu fã!

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    1. Dedé, vc sabe que é parte disso tudo, né? Um amigo q sempre me incentivou e sempre me ajudou a alimentar essa arte da escrita. Aliás, temos que voltar a escrever, meu bom amigo.
      Abraço

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