quinta-feira, 28 de julho de 2016

E Vai Ter Olimpíada

E Vai Ter Olimpíada

Eu e minha mania de me meter em polêmicas. Risos! Depois de falar dos direitos LGBT no texto de ontem, resolvi falar de uma coisa que sempre me incomoda, que é a falta de visão macro das pessoas. Muita gente hoje está aí gargalhando com os acontecimentos das Olimpíadas, alguns até mesmo com aquela esperança de que amanhã os Jogos sejam cancelados aqui no Rio de Janeiro e terceiros ainda com uma fixação em que dê uma merda gigantesca e sai tudo errado e quem sabe até, que ocorra um atentado terrorista, só pra mostrar o quanto o nosso país é subdesenvolvido, podre, tudo de ruim que possa se ter no mundo e por aí vai.
Bem, vamos começar pelo seguinte: eu não sou dos que tapam o Sol com a peneira e acho que precisamos de pão e circo para o povo como uma forma de cala a boca. Dito isso, vamos adiante com a minha linha de raciocínio, acho sim que eventos de grande porte servem para alavancar um país, uma cidade ou uma região. Tivemos as Olimpíadas Militares em 2011, a Jornada Mundial da Juventude e Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014 e agora teremos os Jogos Olímpicos, eu vejo que todos esses eventos foram importantes para trazer uma imagem melhor da Cidade Maravilhosa no mundo todo.
Não, energúmeno, não acho que está tudo às mil maravilhas por conta desses eventos, sei bem do que estou falando, sou uma pessoa que chega a levar 3 horas no trânsito para voltar do trabalho, sendo que o caminho não tem mais de 35 quilômetros. Mas sei também, que as mazelas da cidade podem ser solucionadas com tais eventos, com os chamados legados. Pois bem, senão, vejamos, a cidade do Rio de Janeiro não tinha tantas intervenções viárias há mais de 15 anos. Isso mesmo, 15 anos. Moro numa das regiões mais afetadas pelos jogos, a região da Baixada de Jacarepaguá.
Claro que aqui estamos sofrendo com obras, com transtorno, com problemas decorrentes das Olimpíadas, isso é óbvio, ninguém pode achar que não teriam transtornos. Mas hoje, me remeto um pouco ao que ocorreu em 2012/13, quando das obras da TransOeste, naquela época, tudo era caos, mas hoje já não consigo imaginar a minha vida sem tal intervenção urbana. Não, não é perfeito, não é a melhor coisa do mundo, por favor, como eu disse anteriormente, não estou aqui pra tapar o Sol com a peneira, mas que está melhor do que era, isso está.
Lembro-me bem que antes, eu não tinha muita opção para sair de casa de noite, ou ia de carro e não podia beber por conta da Lei Seca, ou, se queria beber, tinha que voltar cedo ou então de manhã, pois não teria ônibus circulando de madrugada aqui pra casa. Hoje o BRT é 24 horas, posso ir pra qualquer lugar que chegando a uma estação do BRT eu volto pra casa. Não quero dizer que só porque eu tenho agora como voltar pra casa de madrugada, devemos apoiar a realização de grandes eventos. Claro que não, não é isso.
Por exemplo, sei que as novas “arenas” (ainda prefiro o termo estádio, mas tudo bem) foram superfaturada até na colocação de minhocas para aerar o terreno dos gramados, mas não é isso só que conta, até porque, infelizmente em nosso país, o esquema para se levar um a mais é enorme, até na fabricação de escolas ou hospitais e até mesmo cemitérios, temos esse superfaturamento, isso não é uma prerrogativa dos grandes eventos. Contudo, os novos estádios ficaram prontos para a Copa, a Copa foi um sucesso de crítica e público, o povo se divertiu, conseguiu se orgulhar da organização do evento e mais, pode mostrar para o resto do mundo que não somos os incompetentes que muita gente contava que seríamos, inclusive alguns dos brasileiros.
Eventos grandes assim, mexem com a autoestima do povo, alteram a dinâmica como o povo se enxerga no mundo, como os outros vão nos ver. Se por um lado, essas questões de problemas com a Vila Olímpica são embaraçosas, ao mesmo tempo, não são lá grandes coisas, realmente foi um certo desleixo por parte das construtoras e organizadores, mas nada que balde, água, sabão e encanadores não tenham resolvido em menos de um dia. Isso não vai abalar o efeito positivo que a elaboração de um evento grande desse trará, ao menos para a cidade do Rio e aos cariocas. Vejamos, australianos (que reclamaram de tudo, desde a nossa escolha como país sede) e espanhóis, estão reclamando, mas em Londres também houve problemas com a Vila Olímpica e não foi feito esse estardalhaço por parte das pessoas.
Pra mim, existem pessoas que adoram ser do contra e pessoas que veem tudo como uma oportunidade. Eu sou do segundo tipo de pessoa, vejo tudo como uma grande oportunidade. Somos uma cidade que adora receber as pessoas, somos solícitos e simpáticos, mesmo com todas as mazelas. Claro que vão haver incidentes vergonhosos, como já ocorreram, como o assalto aos repórteres estrangeiros na praia, mas me diga, qual grande cidade no mundo é livre de violência? Tirando talvez as capitais escandinavas, que realmente são uma civilização fora do comum, mas de resto...
Ontem estava vendo o documentário sobre a conquista das medalhas de Ouro e Prata pelas meninas do vôlei de praia em Atlanta. Na época eu estava com 14 anos e havia me esquecido que houvera um atentado terrorista durante os jogos. Pois é, em pleno EUA, houve um atentado, durante um evento de grande porte, e nem por isso as pessoas deixam de idolatrar e fantasiar com aquele país.
Vai aparecer alguém com o argumento que o dinheiro aplicado nos jogos poderia se construir várias escolas e hospitais. Bem, quem usa tal argumento não entende nada de administração pública ou de orçamento público. Como costumo dizer, são dinheiros diferentes. Dinheiro destinado a saúde e educação são oriundos dessas pastas ministeriais, onde orçamentos robustos os preenchem, o dinheiro das Olimpíadas vem de outras pastas, como esportes, planejamento e infraestrutura (que se não me engano, agora está no ministério das cidades) e cada uma dessas pastas vai usar os recursos, de acordo com os seus interesses. Por exemplo: Esportes – Arenas e Aparelhos Esportivos, Planejamento – áreas de grande interesse para o país, como aeroportos e outros meios de transportes, Infraestrutura/Cidades – Infraestrutura para as localidades onde ser realizarão os eventos. Ou seja, não adianta querer, pois o dinheiro de cada área tem que ser usado com aquela área. Não dá pra você querer tapar buraco em estrada com o dinheiro da saúde, assim como usar dinheiro para esporte para pagar médico.
Aí você vai rebater, dizendo, mas isso é questão de canetada, só transferir o dinheiro para a Saúde e Educação por projeto de lei ou decreto. Sim, poderia se fazer isso, mas os orçamentos desses ministérios já são bem voluptuosos, o nosso problema não são os recursos, mas sim a má utilização deles, como disse antes, até pra compra de papel higiênico nesse país, o cara quer levar uma vantagem. E o outro ponto, são as contrapartidas recebidas por conta dos grandes eventos.
Pensa comigo, você tem sua casa, e vai alugá-la para realizar uma puta festa nela. Você vai ter que pesar os prós e os contras, certo? Vai ver o quanto vai precisar investir, o quanto você vai ter de transtorno, o quanto que você vai se beneficiar depois com tudo isso, certo? Suponhamos, que você pesou tudo e resolveu que vai alugar sua casa para a festa. Você tem que se beneficiar de alguma forma com tudo isso, por todo o transtorno que você vai passar, certo? Nem que seja meramente financeiro o seu ganho.
Pois bem, aí está a maior causa de se realizar grandes eventos, o benefício financeiro. O Rio abriu mais de 30 hotéis nos últimos 3 anos, se comparado aos 3 anos anteriores, o crescimento é esplêndido. Com o surgimento de novos hotéis, surgem novas oportunidades de empregos diretos e indiretos. Fora bares e restaurantes, tantos outros empreendimentos surgindo a reboque dos grandes eventos.
Cara, escuta, não estou falando que está tudo às mil maravilhas, claro que não, temos muito o que cobrar dos nossos governantes, só ver que a maior parte das construtoras que fizeram os novos estádios da Copa estão ligadas com a Lava Jato, provavelmente teremos o mesmo problema com as Olimpíadas, contudo, isso é problema de justiça e política, não tem nada a ver com o evento.
O evento em si, é a celebração da união dos povos pelo esporte. Me diz, qual cidade no mundo tem mais a cara de Olimpíadas do que o Rio?! Aqui o árabe e judeu tomam cerveja juntos à beira mar, o americano é vizinho do russo e saem para curtir a noite juntos, o paquistanês anda com o indiano, sem se importarem, pois é bem esse o espírito dos Jogos, povos unidos confraternizando.
Fora tudo isso, se você ainda não está convencido, esse é o maior evento esportivo da Terra, onde os maiores atletas das maiores modalidades esportivas estarão presentes na nossa cidade, mostrando o seu talento, andando pelos lugares que nós andamos, podendo cruzar com a gente, como pessoas comuns, demonstrando sua capacidade atlética sob os nossos olhos, para que qualquer um de nós possa ver e se maravilhar com eles, incentivar a prática esportiva para crianças, jovens, adultos e idosos, servindo de exemplo, mostrando que o impossível pode ser real, trazendo para nós um pouco da mágica e da mística do Olimpo.
Se você não consegue ver, que isso só trará benefícios ao Rio, você é estúpido. E mais, se você não consegue ver que o povo brasileiro realizar um evento deste porte, sob os olhos do mundo todo e tudo correr bem, vai trazer ainda mais benefícios à cidade, bem, você não consegue enxergar a coisa macro, não consegue perder o espírito de vira-lata, que Nelson Rodrigues tão bem explicou. Afinal, não somos o melhor país do mundo, tenho certeza disso, mas nem por isso, estamos aquém de realizar uma grande Olimpíada e não ser motivo de chacota para o mundo. Problemas, podem ocorrer, como ocorreram em todas as últimas edições dos Jogos, de 92 pra cá, que é a primeira que me lembro, contudo, nada superará os benefícios, as boas lembranças, a festa e o sentido de dever cumprido, quando no final das Olimpíadas, virmos se apagar a pira no Maracanã.
Que venham os Jogos, que venham os atletas, que venham as grandes histórias, que venham os turistas, que venham os novos heróis brasileiros, que venha a alegria, que venha a festa, que venha o espírito olímpico, mas que acima de tudo, venham novos ares para a nossa cidade, que está precisando de boas novas.

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