terça-feira, 19 de julho de 2016

O Medo Do Medo Que Dá

O Medo Do Medo Que Dá

Gosto muito do Lenine e ele tem uma canção chamada “Medo” que trata dos medos que afligem a existência humana como um todo. Acho essas temáticas sobre a psique humana superinteressantes, ainda mais quando envolvem medos pouco comuns, medos que geralmente não são os comuns ao senso comum, e não estou falando de medo de palhaço, de pessoas altas, de amigos imaginários... Não, estou falando de medos tão absurdos que até as pessoas desajustadas socialmente acham estranho alguém sentir tais medos, aqueles medos tão bizarros que causam estranheza a qualquer pessoa, até as que os sentem.
Falo isso, pois tenho convivido com pessoas com as mais diversas fobias, mas algumas possuem justamente essas fobias que são dignas de estudo. Por exemplo, convivo com uma pessoa que tem medo de ser feliz. É, é isso mesmo, MEDO DE SER FELIZ. Você vai achar que eu estou exagerando, mas não, é a mais pura verdade. Ela faz parte do grupo de pessoas que causa estranhamento nos desajustados sociais.
E quando digo que é medo de ser feliz, é medo mesmo, é tão sério isso, que ela sabota qualquer relação que lhe aproxime da felicidade. Afasta pessoas que lhe trazem um pouco mais de graça para a sua vida, sejam elas amigos, parentes, conhecido, colegas de trabalho ou até mesmo os seus interesses amorosos.
Sobre este último tema eu já estou escolado, conheço ela bem o suficiente, ela é o tipo de pessoa que se apavora com a possibilidade de felicidade em um relacionamento, prefere se enfiar em relações que ela mesma enxerga como sem futuro do que se jogar em um relacionamento que lhe traga um pouco mais de estabilidade e pareça ter um futuro um pouco diferente de todos os seus relacionamentos até o presente momento. Ela não quer se jogar em um relacionamento com alguém que lhe faça realmente feliz, prefere abrir mão de ter um relacionamento maduro por achar que pode machucar o outro e com isso, perdê-lo em sua vida. Mas me digam vocês, quem disse que no amor a aposta é certa?
Claro que ao vermos um vislumbre de felicidade nos causa um pouco de pânico, afinal, todo mundo quer ser feliz, mas nem todo mundo tá preparado para isso, basta ver que existem pessoas que mesmo com uma vida tida como perfeita acaba cagando no pau. Mas a maior parte das pessoas ao verem um prelúdio de felicidade, mesmo que apavoradas, se apegam àquilo como uma tábua de salvação, passam a valorizar cada vez mais e mais a possibilidade de ser feliz, fazendo o vislumbre tomar forma e virar felicidade plena.
Mas o que leva alguém a sabotar a sua felicidade com outra pessoa? Bem, no caso dessa pessoa com a qual eu tenho muita intimidade para falar, é o medo de perder. Acho curiosa essa postura dela, porque ela realmente é uma pessoa maravilhosa, merece muito ser feliz, passou já por muita coisa nessa vida, mas é o tipo de pessoa que perdeu um pouco daquela crença infantil de que a vida é um conto de fadas, em que no final todo mundo tem um final feliz. Não, ela age como se ser feliz fosse errado, pois não vê a felicidade em sua vida há tempos. É mais uma questão de conscientização do que de coração mesmo, ela até acredita que uma relação possa fazer ela feliz, mas prefere que seja por alguns momentos e não para todo o sempre.
Outro ponto é que ela não se vê sendo capaz de não fazer merda em um relacionamento, ela se julga indigna de ser amada e por isso, prefere afastar as pessoas que gostam dela de verdade, que a conhecem bem, que a fazem feliz, simplesmente por achar que mantendo essas pessoas numa área de “não namoro”, elas vão ficar na vida dela e assim, ela poderá ter a sua felicidade de uma forma o tanto quanto estranha.
Eu acho estranha essa postura, de verdade, não consigo ver alguém querendo se negar a ser feliz, é uma atitude, observada por determinado prisma, burra. Afinal, se consegui chegar a uma conclusão sobre o motivo da nossa presença nesse mundo aqui, é que devemos ser felizes, sempre. E por isso mesmo, não podemos deixar de buscar nossa felicidade, de acreditar que devemos ser felizes há todo momento e que essa felicidade depende das nossas escolhas e dos nossos atos.
Quanto a essa pessoa, eu realmente acho que ela apenas tem medo de acabar sendo feliz muito rápido, muito cedo, pois ela realmente curte uma liberdade, uma vida menos regrada, ou seja, uma vida mais solta, uma vida onde ela possa ser e fazer o que quiser. Ela gosta de ter o controle de suas relações, saber que pode fazer e acontecer a qualquer momento e que quem quer que esteja com ela vai ter que se sujeitar aos seus desígnios e caprichos.
Ocorre que ela é feliz com pessoas que são justamente o oposto disso, que lhe tragam mais estabilidade, que a deixem correr solta, que não tentem prendê-la, que correm com ela pra longe, que não caem nas suas implicâncias, que se divertem com isso, que sabem quando ela precisa de colo, que conseguem se fazer presente mesmo distantes, que não se deixam abater quando ela está afim de sumir da face da Terra. Ela simplesmente precisa de alguém que seja somente o que a faça feliz.
Acho que ela não precisa acreditar que a felicidade está em uma única pessoa ou em um conjunto básico de pessoas, mas ela não precisa mais ficar pulando de galho em galho, buscando saciar sua necessidade interna de felicidade, ela já tá na idade de trocar a felicidade momentânea por uma felicidade duradoura. Não quero dizer que as coisas serão eternas, mas que elas sejam eternas enquanto durem e que ela possa se livrar das suas amarras, do seus traumas e medos e encarar a felicidade plena que se vislumbra pra ela.
Muitas amigas minhas me falam que só buscam alguém que as acompanhe, com os quais elas tenham milhões de afinidade, que as façam rir, que se importem com elas, que as façam se sentir seguras e que possam ter uma relação legal, não que necessariamente será um namoro, noivado ou casamento, mas ao menos, elas se prestam a arriscar, se prestam a encarar os seus medos, seus receios, suas dúvidas, deixam tudo isso de lado, para buscar a felicidade.
Acho normal termos medo, eu mesmo, tenho milhões de medos, mas não tenho medo de amar e nem de ser feliz, acho que pra isso, sou bem destemido, me jogo e não tenho medo de lutar pelo que eu quero, pelo que eu acho necessário para ser feliz, se o meu prelúdio de felicidade está no olhar de alguém eu vou fazer de tudo para ir atrás dele, vou sempre buscar a minha felicidade e vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para isso, nem que seja necessário ignorar os meus instintos básicos, para ir atrás de algo maior.
Mas sendo como for, só quis aqui falar do medo, aquele medo que dá quando você vislumbra que pode ser feliz com alguém, quando você percebe que esse alguém pode te fazer perder bem mais por estar longe de você do que você arriscando a viver um algo mais com essa pessoa. Desta feita, só desejo que ninguém sinta medo de arriscar no amor, de buscar amar mais, ser mais, querer mais o amor e que o amor seja só o que basta, que não nos prendamos a mesmice e nem ao conformismo, que tenhamos a certeza de que a felicidade, merece todos os sacrifícios e todas as tentativas de buscarmos elas.
Eu só posso dizer uma coisa, só tenho medo de uma coisa nessa vida, do medo do medo que dá de ter medo de ser feliz, pois eu sou dos caras que acredita em final feliz, acredito que cada um ainda há de encontrar alguém para ser feliz pelo resto da vida, acredito que estamos nesse mundo apenas com o propósito de sermos felizes e acredito que tudo isso é o grande mistério pelo qual estamos nessa vida. Assim, nunca vou deixar de buscar ser feliz e que eu nunca tenha medo disso.

PS: Dedicado a alguém que eu gostaria que não tivesse medo de arriscar ser feliz.

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