quarta-feira, 18 de maio de 2016

De Voyeur

De Voyeur

Chegou em casa depois de mais um dia de trabalho, muito cansado
Seus movimentos lentos, ritmados e calculados, mostravam o quanto ele sentia o perigo
Ao se aproximar da soleira de casa, percebeu que a porta estava aberta
Percebeu que assim o seu lar, pra ele, não era um poderoso abrigo

Sorrateiramente se esgueirou pelo espaço da porta para dentro de casa
A penumbra traía os seus sentidos e o silêncio ocupava o seu lar
Teve taquicardia e palpitação ao caminhar pela sala vazia
Cada som do silêncio como estampido em seus ouvidos a ressoar

Ao se aproximar do corredor, começou a ouvir algo irreconhecível
Não sabia do que se tratava ao certo, mas dava ainda mais medo
Um calafrio lhe subiu pela espinha e suas pernas logo bambearam
Mediu cada um dos seus passos como se estivesse ali em segredo

Quanto mais se aproximava do quarto, mais o barulho aumentava
Era um sussurro abafado, como que se alguém estivesse com mordaça
Sacou de um porrete no armário e foi caminhando com ainda mais apreensão
Sufocava seus pensamentos pois naquele momento estava em estado de caça

Cada passo parecia o desenrolar de uma maratona
Esfregou os olhos buscando aprimorar sua visão para o breu
Alcançou a porta do quarto, quando pra dentro olhou pela fresta
Para sua surpresa, ele então viu, que alguém mexia no que era seu

Pela fresta avistava um corpo na cama se retorcendo
Um gemido baixinho escapava por entre o lençol e os lábios
A lúdica imagem de uma criança se divertindo com o melhor dos brinquedos
Percebeu que só de longe observar, por um tempo, era o mais sábio

Empurrou a porta cuidadosamente, contudo, notou que não fazia diferença
A esposa se possuía em alguma intenção muito específica
O corpo estava em êxtase tão grande que parecia flutuar
Estado de excitação tão grande que logo se verifica

Ele olhava fixamente aquela cena parado no tempo e no espaço
Maravilhado com aquilo, sentiu que suas calças encolheram
Aproximou-se da cama e ela despertou do transe
Olharam-se apaixonados e ficaram felizes porque se escolheram

Ela não parava de seduzi-lo, só queria ser olhada
Acabou curtindo ser observada, gostavam do voyeurismo
O desejo dele já pulsava em cada parte do seu corpo
O casal assim se divertia exercitando o seu erotismo

Ela controlava a situação com maestria
Dançava nua, estava muito à vontade
Ele sentia-se enfeitiçado pelo gingado dos quadris
Se comportava como um plebeu diante de vossa majestade

Podia ver, mas não tocar, assim era a brincadeira
Ela usava toda a extensão da cama para provocar
Ele já estava ali, já a ponto de explodir
Mas ficava de voyeur, só pra a ela agradar

Sentia-se como dançarina de cabaré
Aquela que era capaz de atrair cada olhar
Seduzir pra ela era puro lazer
Ainda mais se fosse pra sempre amar

Beijaram-se apaixonados, como se só aquele momento importasse
Buscava saciar com ela o seu desejo mais primitivo
Agia conforme o mais louco dos critérios
Se entregava pra ela do jeito mais instintivo

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