terça-feira, 17 de maio de 2016

Minha Vida Na Nova Noruega

Minha Vida Na Nova Noruega

Cara, hoje, pra variar tive provas de que a melhor coisa que aconteceu nesse país foi o impeachment da Dilma, realmente viramos a Nova Noruega, com só coisas boas, a nossa gente bronzeada realmente está mostrando o seu valor, afinal, somente a presidente é que nos impedia de sermos um país melhor, com pessoas melhores, uma sociedade melhor, com tudo de melhor que uma nação pode querer para si.
Digo isso, porque hoje, pra variar, peguei o Integrada 08 para voltar para casa depois do trabalho, perdi o primeiro, pois o motorista, um digno cidadão de Nova Noruega, resolveu cumprir as leis e resolveu cortar pela pista da esquerda, deixando todos os cidadãos da antiga republiqueta tupiniquim, a ver navios.
Como ainda não sou um cidadão tipicamente neonorueguês, fiquei lá me lamentando por ter perdido meu ônibus e acabei ficando mais uns 10 minutos esperando. É, na Nova Noruega o transporte público funciona tão bem, que você só fica esperando 10 minutinhos para pegar um meio de transporte confortável, seguro e com um motorista cortês.
Quando o ônibus chegou, creio eu que o motorista reconheceu que eu não era um neonorueguês típico e tentou passar por fora também, creio que essa atitude não combinaria com os motoristas brasileiros, mas aqui, na Nova Noruega acho que é uma atitude padrão. Sendo assim, tive que agir como um caçador e tentei me apossar do ônibus na marra, e consegui convencer o motorista, que muito irritado, creio eu que com razão, pois nesse novo e maravilhoso país, isso que eu fiz, deve ser um crime de lesa-pátria.
Entrei no ônibus, que estava relativamente vazio, ou seja, entrei e ainda haviam lugares para sentar, contudo, por ter quisto ajudar as pessoas e entrar pela roleta destinada somente ao RioCard, acabei ficando atrás de uma pessoa que se demorou por demais em fazer a engenhoca funcionar, assim sendo, acabou que a maior parte dos lugares ficaram ocupados, restando somente os lugares reservados para pessoas especiais.
Sentei-me ali, com a consciência de que deveria de me levantar assim que algum idoso adentrasse ao ônibus, atitude totalmente atípica para brasileiros, mas que para mim sempre foi normal, pois meus pais me educaram com essa consciência. Assim que um dos bancos comuns vagaram, me lancei para tais bancos e daí, pude observar o quanto o nosso país mudou da água pro vinho nesses poucos dias em que deixamos de ser a republiqueta Brasil e passamos a ser a Nova Noruega, país próspero, rico e totalmente livre de corrupção.
Observando o desenrolar da viagem, notei que nos bancos de pessoas especiais, logo do lado oposto ao que eu estava no ônibus, estava ocupado por um casal de meia idade, no máximo uns 40 anos cada, que conversavam animadamente sobre a vida, sobre o dia e sobre outras banalidades que não quis me ater muito. Me ative a atitude tipicamente neonorueguesa deles: Entrava idoso, saia idoso do ônibus, os dois continuavam sentados, impassíveis, como se nada estivesse acontecendo, afinal, eles como bons neonoruegueses só precisam se preocupar com as atitudes dos outros, as deles quem tem que se importar são eles.
Comecei a notar que outras pessoas também perceberam aquilo, mas, segui viagem, sempre que necessário alguém cedia o lugar para os idosos ou então, os mesmos se sentavam em outras poltronas, mas os dois neonoruegueses não saíam de seus lugares. Ou seja, mantinham uma das características que eu mais admiro nos habitantes da Nova Noruega, estavam pouco se lixando para o próximo, só se importavam com eles mesmos.
Acontece, que embora tenha sido criada a Nova Noruega e tenhamos diversos neonoruegueses, ainda possuímos muitos brasileiros entre nós, e você sabe como é, né? Brasileiro é um povo muito mal-educado, alienado e encrenqueiro, adora um barraco sem motivo. Logo em um dos primeiros pontos da Barra, o ônibus já estava mais cheio, e subiram no ônibus duas senhorinhas, a primeira provavelmente neonorueguesa, pois sabia que deveria de ficar em pé para que o casal pudesse desfrutar das benesses que lhes foram concedidas por terem tal nacionalidade também, contudo, como eu disse anteriormente, brasileiro é uma raça ruim. Oh bicho pra ser raça ruim. A segunda senhorinha era brasileira e logo se pôs a exigir que os direitos fossem cumpridos por todos, neonoruegueses ou brasileiros e quis que o casal se levantassem para que elas pudessem se sentar.
Um pouco constrangido, o homem se levantou, com um sorriso amarelado nos lábios, contudo, creio eu, que entendendo a situação, ficou calado. Mas, para me fazer sentir cada vez mais orgulho de ser um neonorueguês, a mulher fez o que se espera de uma pessoa que vive num país de primeiro mundo, com boa educação para a população, com pessoas bem-nascidas, com grande respeito pelos seus idosos, as leis e acima de tudo, com muita noção de civilidade e moralidade, virou-se para a senhorinha brasileira e pronunciou a seguinte frase: Porque você não vai tomar no cu?
Ah, vai dizer que você esperava algo totalmente diferente de algum habitante da Nova Noruega? Eu realmente não esperava uma atitude mais típica do que essa, afinal, neonoruegueses tendem a sempre olhar apenas os defeitos dos outros, não veem que o mal está neles também, acreditaram mesmo que o problema maior desse país era a Dilma e não observaram o todo, não perceberam que cada um de nós é parte do problema, que cada um de nós contribui de alguma forma para que essa sociedade continue perversa e mesquinha.
Neonoruegueses não conseguem se ver como parte do problema, acham que suas soluções simplórias vão conseguir resolver problemas complexos que vêm do DNA desse nosso povo de baixa autoestima e pouco conhecimento, miscigenado, mas que se julga nórdico.
Uma vez Tim Maia falou: “O Brasil é o único Pais em que além de puta gozar, cafetão sentir ciúmes e traficante ser viciado, o pobre é de direita”, eu faço um adendo, pois além disso, o brasileiro é por sua natureza um canalha, não o bom canalha, defendido por Nelson Rodrigues, aquele cara típico pelo qual a gente acaba sentindo que merece sempre ser feliz apesar de toda a sua sordidez. Não, estou falando do canalha típico, aquele que prejudica, engana, manipula, é hipócrita e ainda por cima, julga a todos, mas odeia ser julgado.
Pois é, assim são os habitantes da Nova Noruega, mostrados no mais intenso grau de aproximação, pois eu, como um cara facilmente identificável como brasileiro, não posso me aproximar muito, afinal, como já disse, não existem o racismo, a homofobia, o sexismo, a guerra de classes e nenhuma dessas outras mazelas nesse país nórdico dos trópicos, então, não sofro de qualquer tipo de problema, preconceito ou discriminação.
Sendo assim, só tenho que me sentar no ônibus no meu caminho de volta para casa e esperar encontrar mais brasileiros e menos neonoruegueses, como já disse em um outro texto, o melhor do Brasil são os brasileiros, mas o pior (são os neonoruegueses) também.

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