terça-feira, 10 de maio de 2016

Um Conto De Amor

Um Conto De Amor

Eram melhores amigos, mas sempre rolou uma química entre eles. Nunca se permitiram ir além de um flerte, de troca de olhares. Apesar de todos a sua volta falarem que eles combinavam, nunca pensaram em ir além das provocações e insinuações que se faziam. Durante anos viveram assim, em meio a brincadeiras de cunho sexual e confissões de suas vidas amorosas de um para o outro.
Estavam sempre juntos, nas vitórias e nas derrotas, nos momentos bons e nos ruins, tinham companheirismo e compreensão, um ombro amigo e a companhia um do outro. Gostavam de sair juntos, sempre davam pitaco na vida amorosa do outro, não sentiam vergonha de serem melhores amigos, dividiam interesses em comum, gosto musical, tinham a noção exata do que representavam um na vida do outro.
Ele, mais extrovertido, despojado, ela, mais na dela, delicada. Gostavam e respeitavam as suas diferenças, aprendiam muito um com o outro. Com ele, ela aprendeu a ser mais autoconfiante e independente, com ela, ele aprender a ser mais paciente e ser menos prepotente. Se beneficiavam dessa relação, funcionavam bem assim, não se preocupavam com a opinião alheia, para eles era boa essa amizade.
Gostavam de curtir a noite, bebiam juntos, dançavam até o dia clarear, não tinham problemas para se relacionarem, eram extremamente gratos pela presença do outro em suas vidas. Não eram de se falar todos os dias, mas sabiam que podiam contar um com o outro. Sempre se buscavam quando estavam para baixo, pois tinham certeza que o outro iria lhe colocar pra cima. Seriam um casal perfeito, e tinham plena noção disso, se um dia deixassem de lado os medos que tinham de estragar a amizade.
Um dia ela se apaixonou pelo carinha que trabalhava do seu lado, ele desconfiou das intenções do cara, não julgava que ele fosse capaz de fazê-la feliz e mais, tinha certeza que ele não era confiável. Alertou-a, pareceu ciúmes, mas era mera preocupação, sabia como ela ficava com o seu coração partido.
Depois de um tempo ela começou a namorar com o carinha e os dois amigos acabaram se afastando, o carinha não gostava que os melhores sorrisos delas forrem dirigidos para o melhor amigo e isso o enchia de ciúmes o namorado dela.
E foi assim que se afastaram, ele se largou no mundo, conheceu novas mulheres, novas paixões, provou o amor pela primeira vez. E quando machucou o seu coração, quis procurá-la, mas se lembrou que da última vez que se encontraram o namorado dela brigou com ela, por ela ter dispensado tanta atenção ao amigo e não a ele.
Acabaram ficando um grande tempo separados, apenas em esporádicas situações, como aniversários de amigos em comum, ou em festas e eventos que acabam se esbarrando, mas nada além de papos protocolares e falsas promessas de colocarem o papo em dia, contudo, sentiam que aquela embora a amizade não mudara, ela também não estava como antes, a distância estava abalando-a.
Quando ela terminou o namoro, ele ficou sabendo por amigos que tinham em comum, pois ela ficou com vergonha de confirmar para ele que o seu prognóstico estava correto, e o cara realmente não era digno de confiança, mas acima disso, ele não era capaz de fazê-la feliz. Assim que ficou sabendo do acontecido, sacou o telefone e ligou pra ela.
Inicialmente ela não quis atendê-lo, mas depois pensou que ele sempre a fez se sentir melhor, sempre foi bom com as palavras para com ela. Marcaram de se encontrar, sentaram num bar e puseram o papo em dia, lamentaram os quase dois anos em que deixaram a amizade esfriar, mas não se abateram, pois sabiam que o carinho, o respeito e a admiração mútuos, não se acabaram.
Voltaram as boas, votaram a sair, às vezes só compravam algumas cervejas e ficavam conversando na beira da piscina dele, noutras, ficavam vendo filmes ou séries comendo pipoca embaixo do edredom na cama dela. De todo o jeito, estavam voltando as boas. Permitiam-se a volta da intimidade, até com mais força que antes, o que fazia com que seus flertes ficassem cada vez mais constantes e as situações de sedução de parte a parte também.
Começaram a se verem como possibilidades para algo mais, ele, como sempre mais afoito e ela, muito comedida. Ele achava que ela estava cada vez mais linda, ela achava que ele estava ainda mais legal e interessante. Ela sabia como era os relacionamentos dele e tinha medo de ser mais uma para a sua galeria de conquistas e ele tinha medo de magoar a única pessoa com quem ele realmente se importava.
Um dia, como que sem querer, numa saída com os amigos, eles beberam um pouco além da conta, conseguiram esconder a vontade que sentiam um do outro para os amigos, mas na hora de irem embora, sentiam aquela excitação juvenil, pois sabiam que iam finalmente deixando rolar.
No caminho para casa pensaram em parar para comer e se enfiaram na primeira lanchonete 24 horas que viram, comeram e como ele sempre foi meio desajeitado, sujou sua bochecha com molho, ela resolveu limpar. Com seu suave toque, ela fez com que ele despertasse e lhe puxasse para lhe dar um beijo. Se beijaram e acabaram indo logo em seguida, por se lembrarem de todas as vezes em que rolou um clima e não foram adiante.
Saíram de lá se permitindo envolver, já não viam as travas que antes os impediam, queriam queimar todo o tesão acumulado durante todos esses anos de amizade. Não tinham porquê de não se soltarem, já sabiam de cor e salteado um o que o outro gostava e queria. Se soltaram, se permitiram e se divertiram.
Acordaram no dia seguinte, sem qualquer arrependimento, ele levou café na cama para ela, comeram e conversaram, não sobre o que rolou, mas como sempre faziam, sobre a vida, política, futebol e sobre relacionamentos. Ele já lhe havia dito que para ela, que sempre imaginou que se um dia rolasse algo entre eles, seria até o fim, para a vida inteira, sendo que ela sabia que ele falava de coração, pois o conhecia há anos e sabia o quanto ele desejava arrumar alguém que fosse companheira, amiga e sincera, que o fizesse se sentir a pessoa mais importante para a vida dela, que ainda o fizesse realmente se importar, que fosse a sua melhor amiga, além do seu amor.
Começaram a namorar no dia seguinte. Noivaram, organizaram tudo, compraram um apartamento legal em Vargem Pequena, programaram uma cerimônia pequena, para cinquenta convidados, que foi realizada na capela próxima a casa deles. Foram passar lua de mel na Grécia, que era uma paixão em comum. Estão juntos há cinco anos, desde aquela noite em que se permitiram algo a mais. Já estão esperando o primeiro herdeiro, estão se amando ainda e sempre se recordam da forma como construíram essa relação, a partir de uma grande amizade.

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