Um
Conto De Amor
Eram
melhores amigos, mas sempre rolou uma química entre eles. Nunca se permitiram
ir além de um flerte, de troca de olhares. Apesar de todos a sua volta falarem
que eles combinavam, nunca pensaram em ir além das provocações e insinuações
que se faziam. Durante anos viveram assim, em meio a brincadeiras de cunho sexual
e confissões de suas vidas amorosas de um para o outro.
Estavam
sempre juntos, nas vitórias e nas derrotas, nos momentos bons e nos ruins,
tinham companheirismo e compreensão, um ombro amigo e a companhia um do outro.
Gostavam de sair juntos, sempre davam pitaco na vida amorosa do outro, não
sentiam vergonha de serem melhores amigos, dividiam interesses em comum, gosto
musical, tinham a noção exata do que representavam um na vida do outro.
Ele,
mais extrovertido, despojado, ela, mais na dela, delicada. Gostavam e
respeitavam as suas diferenças, aprendiam muito um com o outro. Com ele, ela
aprendeu a ser mais autoconfiante e independente, com ela, ele aprender a ser
mais paciente e ser menos prepotente. Se beneficiavam dessa relação,
funcionavam bem assim, não se preocupavam com a opinião alheia, para eles era
boa essa amizade.
Gostavam
de curtir a noite, bebiam juntos, dançavam até o dia clarear, não tinham
problemas para se relacionarem, eram extremamente gratos pela presença do outro
em suas vidas. Não eram de se falar todos os dias, mas sabiam que podiam contar
um com o outro. Sempre se buscavam quando estavam para baixo, pois tinham
certeza que o outro iria lhe colocar pra cima. Seriam um casal perfeito, e
tinham plena noção disso, se um dia deixassem de lado os medos que tinham de
estragar a amizade.
Um
dia ela se apaixonou pelo carinha que trabalhava do seu lado, ele desconfiou
das intenções do cara, não julgava que ele fosse capaz de fazê-la feliz e mais,
tinha certeza que ele não era confiável. Alertou-a, pareceu ciúmes, mas era
mera preocupação, sabia como ela ficava com o seu coração partido.
Depois
de um tempo ela começou a namorar com o carinha e os dois amigos acabaram se
afastando, o carinha não gostava que os melhores sorrisos delas forrem
dirigidos para o melhor amigo e isso o enchia de ciúmes o namorado dela.
E
foi assim que se afastaram, ele se largou no mundo, conheceu novas mulheres,
novas paixões, provou o amor pela primeira vez. E quando machucou o seu
coração, quis procurá-la, mas se lembrou que da última vez que se encontraram o
namorado dela brigou com ela, por ela ter dispensado tanta atenção ao amigo e
não a ele.
Acabaram
ficando um grande tempo separados, apenas em esporádicas situações, como
aniversários de amigos em comum, ou em festas e eventos que acabam se
esbarrando, mas nada além de papos protocolares e falsas promessas de colocarem
o papo em dia, contudo, sentiam que aquela embora a amizade não mudara, ela
também não estava como antes, a distância estava abalando-a.
Quando
ela terminou o namoro, ele ficou sabendo por amigos que tinham em comum, pois
ela ficou com vergonha de confirmar para ele que o seu prognóstico estava
correto, e o cara realmente não era digno de confiança, mas acima disso, ele
não era capaz de fazê-la feliz. Assim que ficou sabendo do acontecido, sacou o
telefone e ligou pra ela.
Inicialmente
ela não quis atendê-lo, mas depois pensou que ele sempre a fez se sentir
melhor, sempre foi bom com as palavras para com ela. Marcaram de se encontrar,
sentaram num bar e puseram o papo em dia, lamentaram os quase dois anos em que
deixaram a amizade esfriar, mas não se abateram, pois sabiam que o carinho, o
respeito e a admiração mútuos, não se acabaram.
Voltaram
as boas, votaram a sair, às vezes só compravam algumas cervejas e ficavam
conversando na beira da piscina dele, noutras, ficavam vendo filmes ou séries
comendo pipoca embaixo do edredom na cama dela. De todo o jeito, estavam
voltando as boas. Permitiam-se a volta da intimidade, até com mais força que
antes, o que fazia com que seus flertes ficassem cada vez mais constantes e as
situações de sedução de parte a parte também.
Começaram
a se verem como possibilidades para algo mais, ele, como sempre mais afoito e
ela, muito comedida. Ele achava que ela estava cada vez mais linda, ela achava
que ele estava ainda mais legal e interessante. Ela sabia como era os
relacionamentos dele e tinha medo de ser mais uma para a sua galeria de
conquistas e ele tinha medo de magoar a única pessoa com quem ele realmente se
importava.
Um
dia, como que sem querer, numa saída com os amigos, eles beberam um pouco além
da conta, conseguiram esconder a vontade que sentiam um do outro para os
amigos, mas na hora de irem embora, sentiam aquela excitação juvenil, pois
sabiam que iam finalmente deixando rolar.
No
caminho para casa pensaram em parar para comer e se enfiaram na primeira
lanchonete 24 horas que viram, comeram e como ele sempre foi meio desajeitado,
sujou sua bochecha com molho, ela resolveu limpar. Com seu suave toque, ela fez
com que ele despertasse e lhe puxasse para lhe dar um beijo. Se beijaram e
acabaram indo logo em seguida, por se lembrarem de todas as vezes em que rolou
um clima e não foram adiante.
Saíram
de lá se permitindo envolver, já não viam as travas que antes os impediam,
queriam queimar todo o tesão acumulado durante todos esses anos de amizade. Não
tinham porquê de não se soltarem, já sabiam de cor e salteado um o que o outro
gostava e queria. Se soltaram, se permitiram e se divertiram.
Acordaram
no dia seguinte, sem qualquer arrependimento, ele levou café na cama para ela,
comeram e conversaram, não sobre o que rolou, mas como sempre faziam, sobre a
vida, política, futebol e sobre relacionamentos. Ele já lhe havia dito que para
ela, que sempre imaginou que se um dia rolasse algo entre eles, seria até o
fim, para a vida inteira, sendo que ela sabia que ele falava de coração, pois o
conhecia há anos e sabia o quanto ele desejava arrumar alguém que fosse
companheira, amiga e sincera, que o fizesse se sentir a pessoa mais importante
para a vida dela, que ainda o fizesse realmente se importar, que fosse a sua
melhor amiga, além do seu amor.
Começaram
a namorar no dia seguinte. Noivaram, organizaram tudo, compraram um apartamento
legal em Vargem Pequena, programaram uma cerimônia pequena, para cinquenta
convidados, que foi realizada na capela próxima a casa deles. Foram passar lua
de mel na Grécia, que era uma paixão em comum. Estão juntos há cinco anos,
desde aquela noite em que se permitiram algo a mais. Já estão esperando o
primeiro herdeiro, estão se amando ainda e sempre se recordam da forma como construíram
essa relação, a partir de uma grande amizade.
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