domingo, 29 de maio de 2016

Meu Nome Não É Johnny

Meu Nome Não É Johnny

Beleza, e o Johnny Depp bateu na mulher, e então surgiram as defensoras do cara. Nada contra você ter um ídolo, de verdade, nada contra mesmo, eu mesmo tenho meus ídolos, pessoas que eu acabo meio que colocando uma aura em volta, o que acaba me tirando o discernimento sobre as suas atitudes e afins. Pena que tal fato ocorreu numa semana em que estamos discutindo o estupro coletivo de uma menina de 16 anos no Rio, outro de 4 no Piauí.
Aí vão falar, mas você está comparando uns tapinhas na mulher com o estupro?! Sim, estou! E vou te falar o porquê, estupro não tem a ver com o sexo, mas sim com a violência, o sexo é mera consequência, na realidade no estupro, a ideia é de violência, poder, submissão, o sexo é mero instrumento final da coisa.
Então, no momento em que um homem famoso está sendo acusado de ter dado uns sopapos na mulher e várias mulheres relativizam isso unicamente por ele ser o Johnny Depp. Isso é ruim para a causa e também é ruim para a luta das mulheres em buscarem respeito nessa questão da violência contra a mulher.
Mas isso não é uma novidade, não é a primeira vez que essa relativização é feita pelas mulheres. Lembro que quando surgiu aquele livro 50 Tons De Cinza, eu acabei lendo aquele livro, pra entender o porquê de tantas mulheres estarem encantadas com aquilo. Li o livro e realmente não entendi, afinal o cara não gosta da mulher, só pensa em humilhá-la e saciar seus desejos sexuais com ela.
Levantei o questionamento para algumas amigas, se elas vivenciavam isso com seus namorados, noivos, maridos ou parceiros, e elas diziam que não, que aquilo não era coisa para se fazer com qualquer um. Daí eu me pegar tentando analisar qual era a diferença que existiria entre o Mr. Grey e o Zé das Couves qualquer, parei pra ver e era simplesmente a questão do dinheiro.
No caso, as mulheres lutam contra a violência contra elas, contudo, relativizam isso se o cara é bonito, rico, famoso... Isso é um desserviço à luta das mulheres. Seria como se eu fosse contra a escravidão, mas que aceitasse escravizar alguém se fosse me beneficiar. Não faz o menor sentido, ou eu sou contra a coisa ou eu não sou.
Defender o Johnny Depp é compreensível e aceitável, até é, mas desacreditar a esposa, ex, sei lá, é um absurdo, é igual o caso da menina estuprada na Praça Seca, onde várias pessoas estão falando que a culpa foi dela, afinal ela andava com traficantes, ela frequentava baile funk, ela era promíscua... Tudo isso podem até ser características da menina, mas nada disso justifica a violência sofrida.
A nossa sociedade precisa entender, que não é culpa da vítima que ela sofre uma agressão, não é culpa da mulher que ela sofre o estupro, não é culpa do cidadão que ele é assaltado. O ato é praticado por outrem, então, a vítima não tem qualquer influência sobre isso. Então, vamos lá, senão, vejamos, você não poderá mais andar na rua, afinal, a cidade do Rio de Janeiro está totalmente insegura, a polícia tenta até a fazer a nossa segurança, mas não tem condições ideais para isso.
Deste ponto, se você, uma pessoa maior de idade, capaz e com consciência dos acontecimentos, se sai na rua e for assaltado, a culpa vai ser sua, certo? O bandido em nada tem culpa. Temos a cultura em nosso país de culpabilizar a vítima, sendo assim, “inocentando” o bandido. Lembro que em muitos casos, falamos, mas também, deu mole, né? Nesse ponto, estamos tirando da vítima o direito dela de buscar uma reparação.
No caso do Jonnhy, surge a notícia de que a mulher dele estava saindo com a Cara Delavingne, que ele estava sendo traído com uma outra mulher. E muitas conhecidas minhas falaram já: Ah, mas tem que tomar porrada mesmo, com o Johnny Depp em casa, vai pegar uma outra mulher?! Esse tipo de pensamento só confirma a ideia de que a nossa sociedade não abomina a agressão e a violência, só a relativiza.
Vai muito daquilo: Ah, não pode me bater, mas se bater naquela vizinha piranha que dá pra tudo quanto é homem, aí pode. Eu sou um cara que sou contrário a qualquer violência contra a mulher, seja ela física, mental, estupro ou qualquer outra. O estupro então, eu realmente não consigo entender. Nos dias atuais, um homem solteiro nem precisa se esforçar muito para conseguir um bom sexo, basta ele se colocar à disposição, pois as mulheres estão mais liberais quanto ao sexo. Aí vem um cara e se acha no direito de usar a força para obrigar uma mulher a fazer sexo com ele?!
Cara, você não é doente, você é só um grandessíssimo babaca, que acha que suas vontades são mais importantes que as dos outros. Eu vi um vídeo do Louis CK falando sobre o assunto, que é muito aquilo que eu penso. No vídeo, ele relata uma ficada que ele teve com uma moça, onde ele colocou a mão nos seios dela e ela tirou a mão dele e disse: não faça isso, depois eles continuaram a pegação e ele colocou a mão na bunda dela e ela novamente disse: não faça isso, e nos dois casos ele respeitou a opinião dela e a vontade dela. Depois de um tempo, eles pararam a pegação, a mulher foi embora pra casa, pouco tempo depois eles se encontraram e ela falou: Cara, o que aconteceu naquela noite? Achei que a gente ia transar. Ele respondeu: Eu também, mas você não quis. Quando a mulher se justificou: Eu sou um pouco estranha, eu gosto quando o cara fica frustrado, aí me pega com raiva e me fode com força. E ele: Como assim, você é doente?!
Pois é, é assim mesmo que eu penso, se a mulher diz que não quer, ela não quer e pronto e acabou, se ela fala que não tem que rolar algo, não vai rolar, não vou usar da força para conseguir isso. Já aconteceram comigo situações em que a ficada/transa, pareciam certas, mas mesmo assim, acabou não rolando, pois eu preferia respeitar a vontade da moça, mesmo depois ela falando que eu não fiquei com ela porque eu não quis.
Não vou agarrar ninguém, não vou fazer nada a força, não pensaria nunca em fazer algo desse tipo. Acho que temos que entender isso, quando alguém agarra uma mulher pelos cabelos e diz que só vai soltá-la se ela o beijar, isso é uma violência, pode ser caracterizado como uma forma de estupro. Assim como um cara que fica se roçando numa mulher num transporte público, tudo isso é abuso, é um assédio sexual agressivo.
Nós homens temos que fazer a nossa parte também é criticar esse tipo de atitude, seja o Johnny Depp, o Mr. Grey ou um homem qualquer no meio da rua, quem tá errado é quem pratica tal ato, é quem quer se aproveitar de uma mulher. E como eu disse, há tantas mulheres que querem ser assediadas, que querem ser agarradas, que querem beijar na boca, que querem transar, porque você vai querer logo a que não está afim?! Prese pelas mulheres, pense que você tem ou teve mãe, amigas, e diversas outras mulheres que são importantes na sua vida.
Alguns amigos meus não se ligam nisso, acham que não existe essa cultura machista que culpabiliza a mulher pelo estupro, criticaram a campanha das feministas pelo fim da cultura do estupro, descreditando, criticando e mais, ridicularizando... Pena que nem todos ainda conseguimos entender que o respeito a luta dos outros é a luta de todos nós, porque só quando realmente não houver necessidade de lutas como essas, que teremos realmente uma sociedade justa. Por isso mesmo, vamos continuar a luta, não nos deixemos enganar, seja o Johnny Depp, o Brad Pitt, o Tom Cruise, o Rodrigo Santoro, o Wesley Safadão ou qualquer outro homem, por mais famoso ou rico que ele seja, ele não tem direito de agredir qualquer mulher, e caso ele agrida a mulher, não foi por culpa dela, simples assim.

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