Meu
Nome Não É Johnny
Beleza, e o Johnny Depp
bateu na mulher, e então surgiram as defensoras do cara. Nada contra você ter
um ídolo, de verdade, nada contra mesmo, eu mesmo tenho meus ídolos, pessoas
que eu acabo meio que colocando uma aura em volta, o que acaba me tirando o
discernimento sobre as suas atitudes e afins. Pena que tal fato ocorreu numa
semana em que estamos discutindo o estupro coletivo de uma menina de 16 anos no
Rio, outro de 4 no Piauí.
Aí vão falar, mas você
está comparando uns tapinhas na mulher com o estupro?! Sim, estou! E vou te
falar o porquê, estupro não tem a ver com o sexo, mas sim com a violência, o
sexo é mera consequência, na realidade no estupro, a ideia é de violência,
poder, submissão, o sexo é mero instrumento final da coisa.
Então, no momento em que
um homem famoso está sendo acusado de ter dado uns sopapos na mulher e várias
mulheres relativizam isso unicamente por ele ser o Johnny Depp. Isso é ruim
para a causa e também é ruim para a luta das mulheres em buscarem respeito
nessa questão da violência contra a mulher.
Mas isso não é uma
novidade, não é a primeira vez que essa relativização é feita pelas mulheres.
Lembro que quando surgiu aquele livro 50 Tons De Cinza, eu acabei lendo aquele
livro, pra entender o porquê de tantas mulheres estarem encantadas com aquilo.
Li o livro e realmente não entendi, afinal o cara não gosta da mulher, só pensa
em humilhá-la e saciar seus desejos sexuais com ela.
Levantei o questionamento
para algumas amigas, se elas vivenciavam isso com seus namorados, noivos,
maridos ou parceiros, e elas diziam que não, que aquilo não era coisa para se
fazer com qualquer um. Daí eu me pegar tentando analisar qual era a diferença
que existiria entre o Mr. Grey e o Zé das Couves qualquer, parei pra ver e era
simplesmente a questão do dinheiro.
No caso, as mulheres
lutam contra a violência contra elas, contudo, relativizam isso se o cara é
bonito, rico, famoso... Isso é um desserviço à luta das mulheres. Seria como se
eu fosse contra a escravidão, mas que aceitasse escravizar alguém se fosse me
beneficiar. Não faz o menor sentido, ou eu sou contra a coisa ou eu não sou.
Defender o Johnny Depp é
compreensível e aceitável, até é, mas desacreditar a esposa, ex, sei lá, é um
absurdo, é igual o caso da menina estuprada na Praça Seca, onde várias pessoas
estão falando que a culpa foi dela, afinal ela andava com traficantes, ela frequentava
baile funk, ela era promíscua... Tudo isso podem até ser características da
menina, mas nada disso justifica a violência sofrida.
A nossa sociedade precisa
entender, que não é culpa da vítima que ela sofre uma agressão, não é culpa da
mulher que ela sofre o estupro, não é culpa do cidadão que ele é assaltado. O
ato é praticado por outrem, então, a vítima não tem qualquer influência sobre
isso. Então, vamos lá, senão, vejamos, você não poderá mais andar na rua,
afinal, a cidade do Rio de Janeiro está totalmente insegura, a polícia tenta
até a fazer a nossa segurança, mas não tem condições ideais para isso.
Deste ponto, se você, uma
pessoa maior de idade, capaz e com consciência dos acontecimentos, se sai na
rua e for assaltado, a culpa vai ser sua, certo? O bandido em nada tem culpa.
Temos a cultura em nosso país de culpabilizar a vítima, sendo assim, “inocentando”
o bandido. Lembro que em muitos casos, falamos, mas também, deu mole, né? Nesse
ponto, estamos tirando da vítima o direito dela de buscar uma reparação.
No caso do Jonnhy, surge
a notícia de que a mulher dele estava saindo com a Cara Delavingne, que ele
estava sendo traído com uma outra mulher. E muitas conhecidas minhas falaram
já: Ah, mas tem que tomar porrada mesmo, com o Johnny Depp em casa, vai pegar
uma outra mulher?! Esse tipo de pensamento só confirma a ideia de que a nossa
sociedade não abomina a agressão e a violência, só a relativiza.
Vai muito daquilo: Ah,
não pode me bater, mas se bater naquela vizinha piranha que dá pra tudo quanto
é homem, aí pode. Eu sou um cara que sou contrário a qualquer violência contra
a mulher, seja ela física, mental, estupro ou qualquer outra. O estupro então,
eu realmente não consigo entender. Nos dias atuais, um homem solteiro nem
precisa se esforçar muito para conseguir um bom sexo, basta ele se colocar à
disposição, pois as mulheres estão mais liberais quanto ao sexo. Aí vem um cara
e se acha no direito de usar a força para obrigar uma mulher a fazer sexo com
ele?!
Cara, você não é doente,
você é só um grandessíssimo babaca, que acha que suas vontades são mais
importantes que as dos outros. Eu vi um vídeo do Louis CK falando sobre o
assunto, que é muito aquilo que eu penso. No vídeo, ele relata uma ficada que
ele teve com uma moça, onde ele colocou a mão nos seios dela e ela tirou a mão
dele e disse: não faça isso, depois eles continuaram a pegação e ele colocou a
mão na bunda dela e ela novamente disse: não faça isso, e nos dois casos ele
respeitou a opinião dela e a vontade dela. Depois de um tempo, eles pararam a
pegação, a mulher foi embora pra casa, pouco tempo depois eles se encontraram e
ela falou: Cara, o que aconteceu naquela noite? Achei que a gente ia transar.
Ele respondeu: Eu também, mas você não quis. Quando a mulher se justificou: Eu
sou um pouco estranha, eu gosto quando o cara fica frustrado, aí me pega com
raiva e me fode com força. E ele: Como assim, você é doente?!
Pois é, é assim mesmo que
eu penso, se a mulher diz que não quer, ela não quer e pronto e acabou, se ela
fala que não tem que rolar algo, não vai rolar, não vou usar da força para
conseguir isso. Já aconteceram comigo situações em que a ficada/transa,
pareciam certas, mas mesmo assim, acabou não rolando, pois eu preferia
respeitar a vontade da moça, mesmo depois ela falando que eu não fiquei com ela
porque eu não quis.
Não vou agarrar ninguém,
não vou fazer nada a força, não pensaria nunca em fazer algo desse tipo. Acho
que temos que entender isso, quando alguém agarra uma mulher pelos cabelos e
diz que só vai soltá-la se ela o beijar, isso é uma violência, pode ser
caracterizado como uma forma de estupro. Assim como um cara que fica se roçando
numa mulher num transporte público, tudo isso é abuso, é um assédio sexual
agressivo.
Nós homens temos que
fazer a nossa parte também é criticar esse tipo de atitude, seja o Johnny Depp,
o Mr. Grey ou um homem qualquer no meio da rua, quem tá errado é quem pratica
tal ato, é quem quer se aproveitar de uma mulher. E como eu disse, há tantas
mulheres que querem ser assediadas, que querem ser agarradas, que querem beijar
na boca, que querem transar, porque você vai querer logo a que não está afim?!
Prese pelas mulheres, pense que você tem ou teve mãe, amigas, e diversas outras
mulheres que são importantes na sua vida.
Alguns amigos meus não se
ligam nisso, acham que não existe essa cultura machista que culpabiliza a
mulher pelo estupro, criticaram a campanha das feministas pelo fim da cultura
do estupro, descreditando, criticando e mais, ridicularizando... Pena que nem
todos ainda conseguimos entender que o respeito a luta dos outros é a luta de
todos nós, porque só quando realmente não houver necessidade de lutas como
essas, que teremos realmente uma sociedade justa. Por isso mesmo, vamos
continuar a luta, não nos deixemos enganar, seja o Johnny Depp, o Brad Pitt, o
Tom Cruise, o Rodrigo Santoro, o Wesley Safadão ou qualquer outro homem, por
mais famoso ou rico que ele seja, ele não tem direito de agredir qualquer
mulher, e caso ele agrida a mulher, não foi por culpa dela, simples assim.
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