Aos
8
Já passava da hora de
dormir, quando o relógio tocou
Pensei ter ouvido um som
atrás da porta
Parecia ser o arrastar de
uma corrente
O medo já era tanto que
me dominou
O vento balançava os
galhos da árvore torta
Fazendo um galho bater na
janela da frente
O arrepio subia por toda
a espinha
Deixando claro que o medo
se instalava
Olhei pela claraboia e vi
um gato preto no muro
Fingir-me de forte já não
convinha
Só pensava na iluminação
da lua clara
Já não escondia o meu
pavor do escuro
Era a primeira vez que
ficava sozinho em casa
Os pais confiaram e foram
sair
Depois de anos e anos sem
sossego
Por mais que evitasse,
ouvia os ruídos da escada
Ouvia sons a me distrair
Parecia que a noite era
um grande segredo
O edredom era a minha
maior proteção
Usava a lanterna como uma
arma
Iluminando tudo que eu
suspeitava
Cada barulho me fazia
prender a respiração
Cães uivando aumentavam o
meu carma
Meu coração palpitava a
cada carro que se aproximava
Queria sair correndo, mas
não podia
Sabia que aquela noite
seria importante
Encarei aquilo como um
rito de passagem
Embora, a cada susto, o
pavor ressurgia
Me toquei que não
adiantava ficar periclitante
Eu deveria mesmo era me
encher de coragem
Mesmo que o sono não
viesse
Eu ficava de olhos
fechados
Aos 8, tudo me causa
assombro
Precisava sobreviver,
haja o que houvesse
Nem que tivesse que
encarar todos os medos amealhados
Não me deixaria transformar
em escombro
Enchi-me de ousadia para
encarar a noite
Confiava que podia vencer
o desafio
Afinal, era só conseguir
dormir sozinho
Confiei que nada
estragaria o meu pernoite
Mesmo achando que minha
vida estava por um fio
Um carro parou, meus pais
entraram e me deram carinho
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