Tempos
Nebulosos
Estão complicados os
tempos atuais. A intolerância e a intransigência tomam conta da Humanidade. As
pessoas estão mais impacientes, mesquinhas, resmungonas, reclamando de tudo e
de todos, sem olharem para os próprios defeitos. A verdade é que a sociedade
parte para uma cisão como nunca antes vimos na História, onde cada um só pensa
em si, só cuida de seus interesses e de suas ambições, esquecendo do espírito
coletivo que nos trouxe até aqui.
Estamos vivendo uma
espécie de involução coletiva, onde nossos preceitos de igualdade, liberdade e
fraternidade estão sendo deixados de lado por um pensamento individualista,
egocêntrico e cada vez mais desumano. Estamos caminhando novamente, para a
barbárie, para a selvageria. Caminhamos a passos largos para a perda da nossa
humanidade, para perdermos o aspecto humano da nossa sociedade e assim, nos
perdermos completamente. São momentos em que parece que valores como bondade, honestidade,
amizade e amor estão desgastados e perdendo a razão de ser para outros como avareza,
cobiça, ambição e individualismo.
São tempos nebulosos, quando
uma vida vale menos do que dinheiro, amor pode ser comprado, fidelidade tem
preço, amizade se tornou relativa, passamos a pregar valores opacos, que estão
nos levando a ruína como sociedade. Daí, buscamos falsos profetas, falsos
messias, falsos moralistas, falsos heróis, pois perdemos as referências das
coisas boas que nossa sociedade pode fazer e criar, nos fazendo acreditar em
promessas falsas e pueris, que se perdem na primeira contestação que sofrem.
Contudo, isso gera um medo em nós, nesses tempos cada vez mais loucos.
A reação a esse medo é
muito previsível, sempre que somos confrontados por esse medo, acabamos nos
voltando para ideias retrógradas e reacionárias, pensamentos antigos e pouco
producentes, nos fechando ao novo e ao diferente, esquecendo que nossa
evolução, quanto sociedade, só veio com progresso, novidade, experimentação e
não repetindo os mesmos erros. Ou seja, só andamos para frente, quando paramos
de pensar como nos tempos antigos. Mas, de tempos em tempos, voltamos as
práticas de nossos pais, avós, bisavós, simplesmente porque nos apegamos ao
conformismo, ao conservadorismo e aí, perdemos um tempo precioso para a evolução
da nossa espécie. Como disse o poeta: “Minha dor é perceber que apesar de
termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos
pais”. O nosso instinto animal, é o que nos faz sempre que nos sentimos
ameaçados, acuados ou em perigo, tendermos a recuar, vamos em busca de algo
mais seguro, que geralmente já vivenciamos.
Essa onda reacionária, se
reflete no apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma, nas eleições de
Crivella, Dória, dos Ultras na Europa, Macri na Argentina e agora, do futuro
presidente do maior país do mundo, Donald Trump. Visões retrógradas de mundo
tendem a ser a saída mais fácil, contudo, nem sempre é a mais inteligente.
Assim como um animal, que mesmo quando acuado, ao pressentir a morte, ataca com
a maior ferocidade possível, sabendo que existe uma chance, mesmo que mínima de
escapar. Assim também deveria agir a sociedade, deveríamos atacar, buscar
soluções mais ousadas, menos pragmáticas, menos conservadoras. Dessa forma,
talvez, a gente consiga agir de forma diferente, ter resultados diferentes,
afinal, não tem como você somar os mesmos fatores e querer que dê um resultado
distinto do encontrado anteriormente.
Esse movimento ultra
ufanista, ultra conservador, já nos causou um dos momentos mais tristes e
marcantes de nossa história. Xenofobia, racismo, seximo, discriminação,
preconceito, pensamento arcaicos, ideias retrógradas, medo, comportamentos que
geraram o nazi-fascismo e que ganham força em todos os cantos do mundo. Brasil,
EUA, Europa, Argentina... Todos deram uma guinada para a direita, mostrando que
estamos vivendo momentos nebulosos, onde não há a certeza de nada, só de que
iremos reviver parte da nossa história, que não deveria ser revivida.
Analisando friamente a
nossa história, sempre que houve muitos governos elitistas, conservadores e de
direita, tivemos guerras, matanças, distorções, disputas e um atraso na nossa
sociedade como um todo. Só poucas pessoas se beneficiam desses governos, só as
elites e poucas oportunistas que sabem tirar proveito dessa situação. No mais,
a massa, as classes menos favorecidas, os menos informados e os menos
instruídos, tendem a sofrer as consequências nefastas desses regimes
governamentais. O maior problema é que esses governos são eleitos, justamente
com o apoio das massas que vão se ferrar, exatamente por terem apoiado esses
governos.
Vejo essas coisas de uma
forma bem clara, essa reaciacionice só nos levará ao caos, aos dias sombrios,
dias que gostaríamos de esquecer, pois teremos pessoas cada vez mais
intolerantes, sendo governadas por pessoas ainda mais intolerantes, tornando
quase impossível uma convivência pacífica entre as pessoas. Com o tempo, vamos
começar a ver que tal caminho só nos aproximou do fim, nos levando a apostar em
uma proposta radicalmente oposta, quando o caminho ideal, seria a tolerância e
buscarmos entendimento, chegando a um ponto mais central, para o progresso,
para que pudéssemos evoluir, avançar, chegar ao novo estágio sociedade humana.
Com o passar do
tempo, vejo que John Lennon tinha razão, que deveríamos parar de focar no que
nos difere e mais no que nos aproxima, do que nos une, do que nos irmana,
naquilo que nos faz termos paz, harmonia e amor. Paremos de ter medo, deixemos
de usá-lo para nos separar, para nos dividir. Unidos somos mais fortes e
podemos mais. Então, imaginemos como Lennon, imaginemos um mundo sem
fronteiras, ser religião, sem raças, sem dinheiro, sem divisões. Diferente do
que muitos imaginam, Lennon não pregou o fim de instituições, países, nações,
religiões e afins, ele apenas quis dizer que não quer que essas coisas sejam
capazes de nos dividir, que essas coisas sejam capazes de discriminar, de
separar, de transformar as pessoas de irmãs em inimigas. Então, vamos imaginar
um mundo utópico, onde nada vai nos separar, vai nos fazer ser uma sociedade
muito melhor.
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