Consciência
Negra
Desde que o primeiro
negro foi arrancado do seio da Mãe África
O Brasil se beneficia de
sua luta e de sua mão de obra barata
Era só o português
atravessar o mar oceano de lado a lado
Que obtinha quando
queria, como queria, com a força escravocrata
Amaldiçoados, trazidos
amordaçados nos porões dos navios negreiros
Sendo feitos mercadorias
para alimentar a ganância da coroa portuguesa
Indignos, impuros,
sub-raça, sub-humana, espancada e trocada por dinheiro
Uma raça escravizada,
humilhada, raptada, por ser indefesa
Por essas terras, a carne
negra sempre foi desvalorizada
Açoitada, mutilada, presa
a grilhões e correntes
Mas mesmo assim, o povo
negro se rebela contra os maus tratos
E ainda arruma motivo
para sorrir um sorriso contente
Quase 500 anos sofrendo
os flagelos sobre a pele escura
Embora em nossas veias
corra o mesmo sangue quente e vermelho
Ainda assim alguns
insistem em tratar diferente
Aqueles com a cor de
ébano, que é seu igual diante do espelho
Mesmo após a Lei Áurea
ter sido, por Isabel, assinada
O povo negro sofreu e até
hoje ele ainda sofre
Afinal, todo camburão tem
um que de navio negreiro
E de fome, de lástima e
de miséria é só o negro que morre
É muito difícil, ainda
hoje, ser negro no Brasil Varonil
Mesmo embora, liberto, o
povo negro ainda sofre os males da escravidão
Afinal, hoje vivem os
filhos, os netos, os bisnetos de quem sofreu no tronco
Povo esse miserável,
sofrido, mestiço, miscigenado, que ainda não viu a reparação
A cultura se popularizou,
se modificou e se expandiu
O samba ganhou escola, a
capoeira se profissionalizou e a feijoada se tornou iguaria
A ubanda ganhou terreiro,
o gingado se tornou brasileiro, o negro miscigenou a nação
Mas, ainda hoje, tem
gente que acha que um bom crioulo merece a sua alforria
Só que nesse país mulato,
de cabelo mais ou menos e subvalorizado
Que não reconhece que seu
racismo é uma prática enraizada
Que acha que negro
reclama de barriga cheia, pois já é livre
Que julga que a raça
negra é inferior, serviçal e por isso tem que ser explorada
Mas não é bem assim,
nossa gente bronzeada soube muito bem mostrar seu valor
Com muita luta e muita
dor, está sabendo assumir o seu lugar de destaque nessa sociedade
Não conseguimos nada de
graça, apenas com muita determinação se consegue ascender
Pense bem, já que no
Brasil, o defeito de ser negro é passado por hereditariedade
Somos só mais uma peça
importante dessa engrenagem chamada Nação Brasileira
Mas carregamos nos ombros
e nas chagas os anos e anos de trabalhos forçados
Nossos ancestrais foram
sequestrados, mortos, violentados e pouco mudou desde então
No Brasil, ser negro é
para muitos um péssimo predicado
Mas não nos consideremos
racistas, somos na verdade uma nação hipócrita
Criticamos as medidas
socioafirmativas, pois elas fazem o negro sair da senzala
Mas se o negro sair da
senzala acaba com o status quo, onde o negro é serviçal
Para muitos o lugar do
negro é atrás das grades ou então enterrado em uma vala
Saiba você que o negro é
mais que o seu racismo, o seu preconceito e o seu estereótipo
O negro é lindo, o negro
é vida, o negro é o que ele quiser e permitirem ele de ser
Dê asas e um negro irá
voar, dê conhecimento e ele irá vencer, dê vida e ele irá além
Em pleno século XXI,
ainda temos pensamentos que só faz o povo negro morrer
Mas nós somos mais que
isso, produzimos Pelé, Garrincha, João do Pulo, Cartola e Pixinguinha
Joãozinho Trinta,
Paulinho da Viola, Sinhô, Ismael Silva, Candeia, Milton Nascimento, Gilberto
Gil
Xica da Silva, Lampião,
Milton Santos, Joaquim Barbosa, Ruth de Souza e Machado de Assis
Taís Araújo, Camila
Pitanga, Lázaro Ramos, Lima Barreto, André Rebouças, Grande Otelo, MV Bill
Seu Jorge, Zezé Motta,
Daiane dos Santos, Abdias Nascimento, Leci Brandão, Glória Maria
Anderson Silva,
Anastácia, João Cândido, Martinho da Vila, Benedita da Silva, Aleijadinho,
Simonal,
Luiz Gonzaga, Dona Ivone
Lara, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Margareth Menezes
Tim Maia, Jair Rodrigues, Mr. Catra, Carol Konká,
Cafu, Elza Soares, Romero Britto, Carlinhos Brown
São tantos nomes, tantos matizes, tantas culturas,
tantas contribuições dessa gente negra
Que tenho que concordar com o poeta que disse: O Negro
é sim, lindo
Não posso me deixar inibir, não posso me deixar parar,
sou negro e sou brasileiro
Os meus antepassados foram por onde eu já fui e eu sou
o que eles acabariam um dia indo
Tenha orgulho da sua cor, da sua pele, da sua raça, da
sua história, do que você é
Seja qual for a cor pela qual te identifiquem, parda,
marrom ou preta
Saiba que você pode ser o que você quiser, sua raça
não te define
Mas se você quiser gritar, grite: Eu sou da raça
negra!
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