segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Consciência Negra

Consciência Negra

Desde que o primeiro negro foi arrancado do seio da Mãe África
O Brasil se beneficia de sua luta e de sua mão de obra barata
Era só o português atravessar o mar oceano de lado a lado
Que obtinha quando queria, como queria, com a força escravocrata

Amaldiçoados, trazidos amordaçados nos porões dos navios negreiros
Sendo feitos mercadorias para alimentar a ganância da coroa portuguesa
Indignos, impuros, sub-raça, sub-humana, espancada e trocada por dinheiro
Uma raça escravizada, humilhada, raptada, por ser indefesa

Por essas terras, a carne negra sempre foi desvalorizada
Açoitada, mutilada, presa a grilhões e correntes
Mas mesmo assim, o povo negro se rebela contra os maus tratos
E ainda arruma motivo para sorrir um sorriso contente

Quase 500 anos sofrendo os flagelos sobre a pele escura
Embora em nossas veias corra o mesmo sangue quente e vermelho
Ainda assim alguns insistem em tratar diferente
Aqueles com a cor de ébano, que é seu igual diante do espelho

Mesmo após a Lei Áurea ter sido, por Isabel, assinada
O povo negro sofreu e até hoje ele ainda sofre
Afinal, todo camburão tem um que de navio negreiro
E de fome, de lástima e de miséria é só o negro que morre

É muito difícil, ainda hoje, ser negro no Brasil Varonil
Mesmo embora, liberto, o povo negro ainda sofre os males da escravidão
Afinal, hoje vivem os filhos, os netos, os bisnetos de quem sofreu no tronco
Povo esse miserável, sofrido, mestiço, miscigenado, que ainda não viu a reparação

A cultura se popularizou, se modificou e se expandiu
O samba ganhou escola, a capoeira se profissionalizou e a feijoada se tornou iguaria
A ubanda ganhou terreiro, o gingado se tornou brasileiro, o negro miscigenou a nação
Mas, ainda hoje, tem gente que acha que um bom crioulo merece a sua alforria

Só que nesse país mulato, de cabelo mais ou menos e subvalorizado
Que não reconhece que seu racismo é uma prática enraizada
Que acha que negro reclama de barriga cheia, pois já é livre
Que julga que a raça negra é inferior, serviçal e por isso tem que ser explorada

Mas não é bem assim, nossa gente bronzeada soube muito bem mostrar seu valor
Com muita luta e muita dor, está sabendo assumir o seu lugar de destaque nessa sociedade
Não conseguimos nada de graça, apenas com muita determinação se consegue ascender
Pense bem, já que no Brasil, o defeito de ser negro é passado por hereditariedade

Somos só mais uma peça importante dessa engrenagem chamada Nação Brasileira
Mas carregamos nos ombros e nas chagas os anos e anos de trabalhos forçados
Nossos ancestrais foram sequestrados, mortos, violentados e pouco mudou desde então
No Brasil, ser negro é para muitos um péssimo predicado

Mas não nos consideremos racistas, somos na verdade uma nação hipócrita
Criticamos as medidas socioafirmativas, pois elas fazem o negro sair da senzala
Mas se o negro sair da senzala acaba com o status quo, onde o negro é serviçal
Para muitos o lugar do negro é atrás das grades ou então enterrado em uma vala

Saiba você que o negro é mais que o seu racismo, o seu preconceito e o seu estereótipo
O negro é lindo, o negro é vida, o negro é o que ele quiser e permitirem ele de ser
Dê asas e um negro irá voar, dê conhecimento e ele irá vencer, dê vida e ele irá além
Em pleno século XXI, ainda temos pensamentos que só faz o povo negro morrer

Mas nós somos mais que isso, produzimos Pelé, Garrincha, João do Pulo, Cartola e Pixinguinha
Joãozinho Trinta, Paulinho da Viola, Sinhô, Ismael Silva, Candeia, Milton Nascimento, Gilberto Gil
Xica da Silva, Lampião, Milton Santos, Joaquim Barbosa, Ruth de Souza e Machado de Assis
Taís Araújo, Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Lima Barreto, André Rebouças, Grande Otelo, MV Bill

Seu Jorge, Zezé Motta, Daiane dos Santos, Abdias Nascimento, Leci Brandão, Glória Maria
Anderson Silva, Anastácia, João Cândido, Martinho da Vila, Benedita da Silva, Aleijadinho, Simonal,
Luiz Gonzaga, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Margareth Menezes
Tim Maia, Jair Rodrigues, Mr. Catra, Carol Konká, Cafu, Elza Soares, Romero Britto, Carlinhos Brown

São tantos nomes, tantos matizes, tantas culturas, tantas contribuições dessa gente negra
Que tenho que concordar com o poeta que disse: O Negro é sim, lindo
Não posso me deixar inibir, não posso me deixar parar, sou negro e sou brasileiro
Os meus antepassados foram por onde eu já fui e eu sou o que eles acabariam um dia indo

Tenha orgulho da sua cor, da sua pele, da sua raça, da sua história, do que você é
Seja qual for a cor pela qual te identifiquem, parda, marrom ou preta
Saiba que você pode ser o que você quiser, sua raça não te define
Mas se você quiser gritar, grite: Eu sou da raça negra!

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