Simulacro
De Gente
O que fazer agora?
O gatilho eu já puxei
A bala já disparou
A ferida já abriu
E o sangue já derramou
Eu não tenho medo da morte
Mas ela só vem depois
Agora é só dor e agonia
O sentimento de vazio
A solidão atordoante
Sinto-me esvair de mim
Ir saindo de mim aos
poucos
Não é só pelo buraco na
têmpora
Mas por cada gota de
sangue
Eu me vou um pouco de mim
A mente já vagueia
A vida passa diante dos
meus olhos
Relembro o colo materno
E também do meu primeiro
amor
Mas não consigo lembrar
do porquê disso
Apenas me deixo levar
pelo salão
O estampido foi alto, tão
próximo ao ouvido
Sinto que a pele está
queimada
O cheiro de pólvora enche
o meu nariz
A ferida arde, dói e
desumaniza
Vou deixando de ter o
aspecto humano
Vou me tornando um
arremedo
Tão rápido quanto a vida
sai de mim
Me torno um simulacro de
gente
Já não me lembro quem sou
Estou olhando pra lá
E vejo jogado ali o que
já fui eu
Nem percebo mais porque
eu era aquilo
A luz já me abraça e eu
vou pra lá
Não tenho mais nada pra
fazer aqui
Fui
Já não sou
Deixei a vida
Saí do mundo
Quem quiser, que conte a
história
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