sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Simulacro De Gente

Simulacro De Gente

O que fazer agora?
O gatilho eu já puxei
A bala já disparou
A ferida já abriu
E o sangue já derramou

Eu não tenho medo da morte
Mas ela só vem depois
Agora é só dor e agonia
O sentimento de vazio
A solidão atordoante

Sinto-me esvair de mim
Ir saindo de mim aos poucos
Não é só pelo buraco na têmpora
Mas por cada gota de sangue
Eu me vou um pouco de mim

A mente já vagueia
A vida passa diante dos meus olhos
Relembro o colo materno
E também do meu primeiro amor
Mas não consigo lembrar do porquê disso

Apenas me deixo levar pelo salão
O estampido foi alto, tão próximo ao ouvido
Sinto que a pele está queimada
O cheiro de pólvora enche o meu nariz
A ferida arde, dói e desumaniza

Vou deixando de ter o aspecto humano
Vou me tornando um arremedo
Tão rápido quanto a vida sai de mim
Me torno um simulacro de gente
Já não me lembro quem sou

Estou olhando pra lá
E vejo jogado ali o que já fui eu
Nem percebo mais porque eu era aquilo
A luz já me abraça e eu vou pra lá
Não tenho mais nada pra fazer aqui

Fui
Já não sou
Deixei a vida
Saí do mundo
Quem quiser, que conte a história

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