segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Os Cariocas

Os Cariocas

Fui dormir ontem com uma sensação de desesperança, descrença, desilusão, desespero, como há muito tempo eu não sentia. Já fazia um tempo que eu estava com essa sensação, afinal, foram tantas coisas acontecendo na nossa vida política que eu desanimei, desacreditei que somos capazes de nos autorreger, uma vez que estamos atacando as pessoas e não o problema, preferimos odiar o jogador, quando o problema real está no jogo.
Uma campanha eleitoral onde as partes preferiram se atacar, ao invés de discutirem propostas, onde um candidato se escondeu, fugindo de debates e entrevistas, já que é péssimo em debates e o outro, no afã de vencer a disputa, apelou para práticas da velha política. Ao final, da votação, com o resultado já concretizado, me restou uma mistura de sentimentos ruins, onde eu não conseguia ver qualquer coisa boa vinda das respostas das urnas em nossa cidade. Contudo, nada como uma boa noite de sono, nada como colocar a cabeça no travesseiro para refletirmos.
O mundo não acabou! Ainda estamos aqui, firmes e fortes, talvez um pouco debilitados, um pouco menos unidos, um pouco menos crentes, um pouco menos alegres, mas ainda assim, ainda somos cariocas, a nossa cidade ainda é maravilhosa, nosso povo ainda é feliz, nós ainda temos motivos para acreditarmos num amanhã melhor. Afinal, já passamos por outros momentos de desesperança, já elegemos o César Maia, Garotinho, Rosinha, Conde, FHC, Marcelo Alencar, Dilma, Cabral e ainda assim, seguimos em frente, resistimos, ainda estamos aqui.
O carioca é um resistente por natureza, desde o início dos tempos, quando nos idos do século XVI, precisamos resistir as invasões e saques de forças estrangeiras, fomos fortes, valentes, moldamos nossa forma de agir, nos tornamos resistentes. Passamos assim a resistir, seja aos de fora, aos de dentro, seja aos governos, aos desgovernos, nós simplesmente seguimos em frente, resistindo.
Para nós, algo nunca é tão ruim que não possa piorar e ainda assim, a gente se mantém sorrindo. Já formos a principal cidade do país, o principal porto, já fomos a capital do império português, a capital do império brasileiro, a capital da república, a mais duradoura capital do país, um estado independente, a cidade do dinheiro, a sede administrativa do país e perdemos tudo. Hegemonia no futebol, já foi, melhor carnaval de rua, já foi, bolsa de valores, já foi, royalties do petróleo, também já foi... E ainda assim, estamos aqui, resistindo.
Não dá para negar, alguns de nossos infortúnios foram e são causados por nós mesmos, pois senão, só vermos, conseguimos ter uma tendência masoquista para o sofrimento. Conseguimos eleger Bolsonaro e Tarcísio Mota, Eduardo Cunha e Molon, Crivella e Lindhberg, conseguimos ser as duas faces de uma mesma moeda. Esquerda e direta, velho e novo, antigo e moderno, sagrado e profano, vanguarda e retrocesso... Aquilo como bem disse Caetano, nós somos o avesso, do avesso, do avesso.
Não tem como negar, apesar de tudo isso, ainda temos motivos para sorrir, para acreditar num amanhã melhor, até porque, amanhã o sol voltará a brilhar, a praia vai estar lá, o Cristo vai continuar de braços abertos nos abençoando, em fevereiro vai ter carnaval, ainda teremos o Maraca, o chopp a beira mar, o happy hour que vai de 17 às 22, a altinha, a floresta da Tijuca, o pôr do sol no Arpoador, o samba no Cacique, a capoeira, a Lapa, Madureira, ainda teremos o biscoito Globo, o mate com limão gelado na praia, a Lagoa, a Igreja da Penha, a orla Tim Maia (do Leme ao Pontal), o nosso jeito peculiar, nossa forma de fazer piada com tudo, nosso sorriso largo, nossa receptividade, nossa marra, nosso sotaque, nossa ginga, o nosso não gostar de dias nublados. Nós podemos ter mil motivos para nos entristecermos, mas temos sempre mil vezes mais para nos alegrarmos. Então, nós seguimos em frente e resistimos.
Não vai ser o Crivella, a Universal, o Edir Macedo, o Malafaia, o Freixo, o Paes, o Cabral, o Pezão, o Dornelles, a Dilma, o Temer, o Cunha, o Lula, a Lava Jato, a Petrobrás, a violência, a pobreza, a saúde, a educação, o rebaixamento dos nossos times, os dias de chuva, os dias nublados, o Bolsonaro, o Renan, o Maracanazzo, o trânsito caótico, o aumento da passagem, a má distribuição de renda, os bandidos fardados, as milícias, o tráfico, a bola perdida, o assalto que sofremos, a poluição de nossas águas, o lixo no chão, as enchentes, ou qualquer outra dessas mazelas que não enfrentamos, que vai nos derrubar. Pois ainda assim, estamos aqui, resistindo, seguindo em frente.
Estou otimista para os próximos quatro anos. Se ontem eu não via motivos para comemorar o resultado das urnas, hoje eu já vejo, estou realmente torcendo para que o Crivella me surpreenda e faça um excelente governo, que enfrente os problemas reais de nossa cidade e assim melhore, de verdade a vida de quem mora aqui, mesmo, embora eu não tenha votado nele e muito menos, apoie a sua visão política. Contudo, caso ele fracasse, seja uma negação como o prefeito da cidade do Rio, ainda assim, teremos porque nos alegrarmos, pois assim, estaremos execrando mais um personagem da velha política da nossa cidade, então, nós sairemos ganhando, mesmo quando parecer que estaremos perdendo. E novamente estaremos aqui, resistindo, seguindo em frente.
A esperança é a última que morre e a do carioca então, podemos dizer que é imortal, a gente acredita num amanhã melhor, tem fé que tudo vai melhorar, lidamos com nossos problemas com humor, aprendemos que sim, o que não nos mata, realmente nos fortalece, somos um povo que luta pelo que quer, que acredita num futuro melhor, que tem fé, esperança, que acredita, que dá voto de confiança, que é capaz de ver algo de bom até em aterro sanitário. Nós somos assim, seguimos em frente, caímos, mas nos levantamos, apanhamos, mas as feridas e os machucados saram, tropeçamos, mas não abandonamos a corrida, resistimos, pois é isso que somos. Um povo resistente, cheio de fibra, com sonhos e capacidade para vencer qualquer mal, até nós mesmos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário