Alma
Calma
Subiu no parapeito, olhou
para baixo e tremeu
As pernas falharam, a
mente foi longe
Imaginou-se largado na
imensidão da queda
Eram trinta e cinco
andares de vazio
Sabia que a queda seria
fatal
Afinal, era o que havia
planejado originalmente
Se perder no vazio em
queda livre
Se estatelando no meio do
passeio público
Acreditava que assim, sua
breve história
Acabaria fazendo algum
sentido
Porém, quando chegou no
alto
Bateu um leve desespero
Tonteou e quase
desequilibrou
Sua carta ao mundo quase
se soltou de sua mão
Pensou brevemente no que
ia fazer e não se alegrou
Parecia tudo mais fácil e
certo de manhã
Era sempre melhor pensar
nisso, na escuridão do quarto
Sentia o aconchego
acolhedor dessa ideia destrutiva
Seria só abdicar de
alguns instantes de dor
Para na calçada encontrar
a paz
A vertigem o fez pensar
em outras coisas
Recordou a tenra infância
Pensou nos momentos em
que foi feliz
Sentiu uma leve alegria
dominar
Contudo, vieram os
momentos de tortura
De solidão completa
De abandono
A vida não lhe foi justa
Daí recordou o real
sentido de tudo isso
O ar rarefeito inebria
O calor do sol o acalenta
Abriu os braços para se
equilibrar
A dor latente o
transforma
Ao menos agora vislumbra
uma dor é física
Sabendo a causa e o
porquê
Não precisa mais me
preocupar com nada
Um salto que pode lhe
trazer um sopro de vida
Acredita que se perdendo,
se achará
Abrirá mão do que não lhe
pertenceu
Sempre teve que agradar a
tudo e a todos
Cada um que um dia lhe
cobrou
Hoje terá o resultado
Será apenas mais um corpo
estatelado
No meio da multidão,
atrapalhando o tráfego
Já não vê mais a sua vida
pretérita
Passa a enxergar o futuro
Passa a ver um jovem
jogado no chão
Sua face espelha
desesperança e frustração
Parece em seus olhos que
têm uma dor
Mas olhando de perto vê
que ela não é física
É uma dor de dentro, uma
dor da alma
Que parece que não vai
embora, vai ficar pra sempre ali
Pensa que soltando a
vida, soltará os problemas
E por isso mesmo, se
recompõe no alto do prédio
Agora só pensa em seguir
adiante
Se libertar das amarras
com o salto
Visualiza o chão como a
liberdade
Não como um obstáculo
duro
Mas sim como braços
acolhedores
Que vão lhe livrar do
sofrimento
Já não consegue mais
pensar em nada
Seu corpo se lança no ar
O bailado de braços e
pernas
Chega a parecer
coreografado
Cinegrafistas amadores e
curiosos acompanham
Os últimos segundos de
sua prisão
O barulho ensurdecedor
acordou a vizinhança
Com o romper de seu
corpo, irrompeu a felicidade
Agora já é um novo ser
A morte do que se foi não
lhe faz mal
Ele agora está livre para
ser o que quiser
O desespero já não o
consome
Ele precisa mesmo é se
deixar pra trás
Precisa seguir em frente,
ele já não é
O que é agora ele nunca foi
Agora ele só é alma,
calma
Belo texto suicida. Rsrs
ResponderExcluirZoando.
É o segundo, mas é que estou aceitando o desafio de falar desses sentimentos que me prejudicaram um tempo. Agora é botar pra fora isso. Chegou o momento.
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