Um
Caderno E Meio
Já enchi um caderno e
meio de poemas em seu nome
Mas cadê a coragem para
te dedicar os meus escritos
Penso que eles não
merecem ser vistos pelos seus olhos
Pra mim, todos eles
deviam ser proscritos
Afinal, eu não sou poeta
e nem tenho talento
Só me dou ao trabalho de
narrar todas as minhas desventuras
Com isso, quem sabe eu
demonstro meus sentimentos
Tentando assim, quebrar
as suas arcaicas estruturas
Já enchi um caderno e
meio de bobagens
Sentimentos mal
correspondidos, coisa e tal
Agindo até com uma certa
irresponsabilidade
Até certo ponto, uma
anormalidade sentimental
Queria poder controlar os
meus sentimentos
Para que me fosse menos
afável
Não me fechar tanto em
conceitos herméticos
Deixar ebulir algo
agradável
Já enchi um caderno e
meio de devaneios
Crendo que você teria ao
menos noção da realidade
Eu te quero em minha
vida, mesmo quando você foge
É essa a minha grande
verdade
Quando eclode em mim o
sentimento
O papel acolhe os meus
pensamentos vadios
Mas enquanto eu catarso
minha sentimentalidade
Deixo os meus canais
lacrimais vazios
Já enchi um caderno e
meio de mentiras
Daquelas que se fala para
enganar alguém
Me pego tentando ser
aquilo que eu não sou
Acontece que eu sou
péssimo, não engano ninguém
Daí meus poemas não
merecerem mais do que lágrimas
Ou páginas amassadas de
um caderno esquecido no armário
Daqueles que vão ocupar
espaço por uma vida inteira
Tal qual pássaros gordos
em um campanário
Já enchi um caderno e
meio de vontade de você
Mas a vergonha de te
mostrar é maior
O sentimento de culpa me
corrói
Não sei então qual dor é
pior
A dor de não te mostrar o
que eu sinto
Ou a de não conseguir te
convencer
A dor de estar deixando
você ir embora
Ou a de não poder pra mim
te suster
Já enchi um caderno e
meio de desleixo
Do tipo que não faz bem a
quem sente
Eram frases desconexas e sem
sentido
Obras de uma pobre mente
doente
A doença foi causada
pelos sentimentos não correspondidos
Me fazendo preferir viver
num mundo imaginado
Onde só nós dois
habitávamos
E que pouco a pouco foi
sendo desmantelado
Já enchi um caderno e
meio de você
Mas me pego pensando qual
a causa disso
Se você não quer no fim
das contas realmente estar comigo
Se você não pensa em mim
pra compromisso
Se você só quer de mim a
parte boa de um casal
Não está disposta aos
reais sacrifícios
Não pensa que é bom amar
demais
Prefere se entregar a
outros vícios
Já enchi um caderno e
meio do que eu não quero mais
E agora só penso em como
jogar isso tudo fora
Não teria lixeira grande
suficiente
Para mandar esse
sentimento embora
É tanta coisa boa que eu
sinto
Mas nada é por ti
correspondido
Melhor queimar tudo no
fogo alto
Melhor mostrá-lo, para
não acabar arrependido
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