Estrangeiro
Hoje eu acordei me sentindo estrangeiro em mim
Como se eu fosse um outro eu
Me levando a crer que o meu eu não era assim
Não sabendo habitar o meu próprio corpo
Me sentindo, meramente, um clone
Olhando para esse novo eu e vendo o velho morto
Abria mão de mim, assim, sem receio algum
Não me enxergando, através do espelho, no fundo dos
meus olhos
Notando que minha alma, ali, não era minha
Num súbito esforço de me pertencer
Tentei gritar mais alto do que eu pude
E meu grito acabou por me entristecer
A vizinhança toda acorda com meu grito gutural
E a voz que sai da minha garganta não é minha
O parapeito do vigésimo quinto andar parece banal
E o vento batendo no rosto em meio à noite escura
Não afasta o estranhamento que estou sentindo em mim
Parece até que o contínuo espaço-tempo sofreu uma
ruptura
Eu me sinto impertinente em meio a tanta gente
estranha
Que fazem pouco caso da dor alheia
Enquanto para mim, a dor alheia me queima as entranhas
É tão estranho sufocar em palavras que não parecem
minhas
Em meio aos problemas que me cortam a garganta
Ficam as minhas memórias trabalhando na mente em
entrelinhas
Hoje eu sou um estrangeiro exilado em minha velha
carcaça
Habito um corpo velho com minhas memórias
Sofro por não saber como conter minhas esperanças
parcas
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