segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Precisamos Falar De Amor

Precisamos Falar De Amor

Minha capacidade de compaixão foi mega testada nesses dias e se provou muito grande e por isso mesmo, eu acabo me deixando envolver por certos acontecimentos trágicos. Dessas tragédias, geralmente acabo tirando uma lição, um ensinamento, uma história de inspiração, de superação, ou então, ao menos uma busca pelo sentido da vida, afinal, como algo tão frágil e tão efêmero pode ao mesmo tempo parecer tão eterno e tão fugaz? Claro que essa trágica história do voo da Lamia não me trouxe uma resposta, mas me trouxe questionamentos sobre a minha postura em relação a vida e aos meus entes queridos, a todos aqueles a quem eu quero bem.
Uma das vítimas desse acidente foi o irmão de um amigo querido, que na flor da idade, se foi; buscando fazer o que tanto amava, que era levar informação a todos, onde quer que ela estivesse. Este jovem, o repórter da Globo, Guilherme Marques, eu conhecia de vista. Honestamente, nos esbarramos em um ou dois eventos da paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Ou seja, o conhecia de vista, estava sempre com um sorriso no rosto, sendo agradável com todos, contudo, ao seu irmão, eu conheço bem. Henrique é um jovem cheio de vida, com um sorriso e abraço abertos para acolher a todos. Por conta disso mesmo, senti tanto a sua dor, senti tanto sua perda, a ponto de não conseguir emitir nenhuma mensagem diretamente para ele ou para os seus familiares.
Compaixão é a capacidade de alguém de se colocar no lugar do outro, quando você é capaz de sentir o que o outro sente, enxergar como o outro enxerga, olhar o mundo pelos seus olhos, experimentar os seus sentimentos, entendê-los e conseguir vivenciar uma experiência verdadeira para entender o que se passa com o outro. Assim como o Henrique, tenho um irmão que viaja muito em função do seu trabalho, principalmente viagens de avião, passeia por aí em todo tipo de aeronaves, desde as mais modernas até as mais antigas, das mais seguras até as nem tanto, das mais famosas até as menos conhecidas... Ocorre que por conta disso, acabei tendo ainda mais essa ligação com esse trágico acidente.
Esse meu amigo, o Henrique, perdeu o seu irmão e tá precisando aprender a lidar com a dor da ausência dele de uma forma impressionante, já que está sendo diante dos olhos do mundo, haja visto que o acidente é assunto no mundo todo e para onde quer que se olhe, não se fala de outra coisa. Então, a sua dor me vem a cada reportagem, cada homenagem feita, cada cerimônia de sepultamento, cada #forçachape que eu vejo, a cada vez que me recordo do acontecido, cada vez que me lembro do meu irmão e cada vez que me lembro desse meu amigo.
Não é algo natural para o ser humano se despedir, dizer adeus é muito difícil. Ninguém se prepara para dizer um último adeus, dar um último beijo, ninguém ensaia a última frase a ser dita para um ente querido, ninguém imagina a força a ser usada num último abraço, nem quantidade de lágrimas a serem derramadas numa despedida derradeira para um ente querido. Ainda mais quando esse ente é jovem e cheio de vida, como era o caso do Guilherme.
Me refiro ao Henrique, porque o conheço, pessoalmente, já tinha sentimentos de estima e amizade por ele, o que já me aproxima dele por isso só, me fazendo ter esses sentimentos e sentir a sua dor. Porém, entendo essa reflexão não como algo exclusivo a ele, mas estendido a todas as famílias das vítimas desse voo. Todos os familiares estão sofrendo sob os olhos do mundo e ainda assim, são capazes de nos fazerem aprender lições valiosíssimas, como dona Alaíde, mãe do goleiro Danilo, que encantou o mundo com sua compaixão, num momento de dor extrema, ao perguntar ao repórter Guido Nunes como ele tava se sentindo diante de todo o acontecido, de estar também tendo que enterrar tantos amigos e colegas de trabalho e ao final ainda pediu para abraçá-lo. Ali, as dores dos dois se abraçaram, se irmanaram, quem sofria também consolou. Ali, vimos que embora o mundo não seja um bom lugar, ao menos temos pessoas capazes de transformar nossa estadia aqui, em algo mais suportável.
Cada um desses familiares que perderam seus entes queridos demonstrou-nos o quanto uma dor extrema pode ser suportada. Pais enterrando filhos, filhos enterrando pais, esposas enterrando maridos, irmãos enterrando irmãos... E tudo isso assim, da noite pro dia, do nada, sem explicação, sem chance para se acostumar com a ideia aos poucos, sem chance para perceber que você pode perder um parente. Foi algo abrupto. Foi ligar e desejar uma boa viagem durante o fim da noite e ser acordado de madrugada, mergulhado na ideia da perda, aliás, ideia não, na certeza da perda.
Contudo, essa capacidade dessas pessoas em superarem as suas perdas nos trouxe, os supracitados, exemplos, lições e afins. Em seu discurso no velório do seu irmão, super emocionado, na sede do seu querido Botafogo, o Henrique se lembrou de uma lição que aprendermos no Encontro de Jovens com Cristo que frequentamos e onde nos conhecemos, na NSP, que quando se trata de amor, nunca é demais dá-lo, que nunca devemos economizar amor, nunca devemos deixar de transmiti-lo, ainda mais para as pessoas importantes em nossas vidas. Não podemos deixar que as pessoas em nossas vidas se esqueçam que nós os amamos, que elas são importantes, que significam algo para nós e que nós as amamos e nunca vamos deixar de amar.
Nesse discurso, o Henrique lembrou da relação dele com o irmão, de como ele fazia questão de transmitir esse amor ao Guilherme. Um alento pra quem fica é saber que quem se foi, levou consigo todo o amor que lhe fora transmitido durante a sua vida e continuará recebendo, onde quer que esteja, agora com a sua morte. Assim, me serviu de alerta o discurso do meu caro amigo, para me relembrar que muitas vezes a gente se esquece, se cansa ou simplesmente não quer falar de amor para quem a gente ama, por acharmos que é besteira, que é bobeira ou somente porque eles já sabem.
Desde sábado estou com essa lição na cabeça: Por mais que você demonstre o seu amor por quem você ama, nunca é demais falar, demonstrar e transmitir esse amor. Assim, a partir de então, estou em campanha para que o amor que eu sinto pelos meus pais, irmãos, sobrinhos, primos, tios, amigos e colegas, chegue até eles, seja com um sorriso, com um abraço, com um beijo, com uma mensagem ou qualquer coisa que o valha. Não temos como prever o futuro, apenas viver o nosso presente e o presente tem esse nome por um motivo, por é um presente conseguir viver o presente, é um presente o dom da vida, é um presente viver. E é um presente, pois só conseguimos viver o agora, o passado já foi e o futuro só a Deus pertence.
Por só podermos viver o agora, não sabemos o que o futuro nos reserva, o que iremos viver daqui pra frente e nem olhar o que já vivemos, então, hoje eu comecei uma campanha para levar mais amor a esse mundo e demonstrar para quem eu amo o tamanho desse amor que sinto por eles. E não estou preocupado com a estranheza que as pessoas podem ter com o meu ato, pouco importa isso. O que vai me importar é saber que quer eu quero bem pode saber que eu o amo e quero muito bem. Mesmo pessoas de quem eu me distanciei um pouco, por conta das voltas que o mundo dá, eu quero que saibam que mesmo distante, o amor ainda prevalece.
Sempre penso que a morte é a ruptura do terreno, do corporal com o etéreo, o espiritual. Assim sendo, fico com as minhas dúvidas humanas e mundanas sobre o tema, deixando-me, contudo, com algumas certezas. A primeira delas é: Ame como se fosse viver para sempre, ou seja, distribuir amor para todas as pessoas que eu amo, independente dela estar longe ou perto, de estar com raiva ou carinhosa, estar cansado, de estar no celular ou ao vivo, de estar junto ou separado, de ser de dia ou de noite, de ser seu pai, sua mãe, seu irmão, sua irmã, seu tio, sua tia, seu primo, sua prima, seu avô, sua avó, seus sobrinhos, suas sobrinhas, seu amigo, sua amiga... Independente de quem quer que seja, você deve amar, cuidar, zelar, querer bem e demonstrar.
A segunda é: A vida é muito frágil e fugaz para nos privarmos de dar amor a alguém. Deixemos o orgulho de lado, podemos brigar com as pessoas que amamos, discutir e tudo mais, mas que não excluamos as pessoas que amamos de nossas vidas, que não deixemos esses sentimentos pequenos e mesquinhos tomarem conta. Ninguém é perfeito, então, saibamos que até as pessoas que amamos têm seus defeitos e nem por isso, devemos nos privar de dar nosso amor para elas. Todas elas merecem ouvir o nosso eu te amo, sem que a gente imponha condições, por isso mesmo, ignore o seu orgulho babaca, jogue fora a sua soberba e foque no amor.
A terceira e nem por isso, menos importante das lições é: Só tem amor quem sabe dar. Amor é a única coisa que quanto mais você dá, mais você recebe de volta, quando mais você doa, mais você ganha de volta. É até simples, você entrega amor, você vai ter a retribuição por tal sentimento, não tem mistério. Alguém que é cauteloso, cuida, zela, está pensando no bem do próximo, ou seja, é amoroso, só pode receber o amor de volta. Um sábio diz que quem planta vento, colhe tempestade. Com meu amigo Henrique, que quem planta amor, colhe amor, para a eternidade.
Texto dedicado a todas as famílias das vítimas do voo da Lamia, que levou tragicamente a equipe da Chapecoense, seus dirigentes, dirigentes da federação catarinense de futebol, repórteres da mídia esportiva brasileira, bem como a tripulação do voo. Que suas almas cheguem ao céu, sejam recebidas pelos anjos e santos com muita festa e com a felicidade merecida e o reconhecimento por seus trabalhos. Amém!

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