quinta-feira, 6 de junho de 2019

Mazelas Cotidianas

Mazelas Cotidianas

Muitos olham a cidade
Mas poucos a enxergam de verdade
Através de suas ruas, becos e vielas
O cheiro fétido de urina
A podridão que queima os pelos do nariz
O ar poluído que entorpece o vai-vem das ruas
O andar trôpego dos cidadãos perdidos
Os moradores de rua sem perspectivas
Aqueles outros que estão morrendo por dentro
Os copos meio cheios ou meio vazios nos botecos
As ruas que parecem artérias entupidas de lixo
Consumido por uma cidade boquirrota
Prostitutas, bêbados e loucos se divertem
Aproveitadores e desonestos se engalanam
E o frio massacrante do inverno corta na carne
As meretrizes se despem nos pontos da Atlântica
E os ricaços enchem seus narizes de farinha
Enquanto mais uma bala perdida acha alguém
Policiais não conseguem chegar ao assassino
E o juiz manda soltar o político corrupto
Mais um menino preto morre sem pai
Perpetuando na favela a mesma história
O transe frenético do mar de gente amontoada
Amordaçada e cheia de medo
Cedendo os seus direitos a torto e a direito
Enquanto os poderosos fumam charutos cubanos
Mais um idoso morre na fila de um hospital
Outro assalto acontece nos arredores da Central
Crianças sem escola por conta de uma ação da polícia
E todo mundo acha tudo comum
Enquanto eu enlouqueço um pouco mais a cada dia
Perdendo o pouco de sanidade que ainda me resta
A noite cai sobre a cidade e se abate a melancolia
Será mais um sequestro relâmpago
Mais um ônibus que para fora do sinal
Mais uma criança fugindo de casa
Mais um animal maltratado
Mais uma mulher espancada
Mais um deslizamento de terra
Tudo acontece ao mesmo tempo
E ninguém se dá conta de nada
Uma facada no Leblon é demais
Que se foda o que acontece em Costa Barros
A guerra de facções e milícias
Filho chora e a mãe não vê
Ou prefere não ver para não morrer junto
Lagosta na cela de Benfica
Quero ver o Caveirão ir atrás dos de colarinho branco
Mazelas cotidianas de um abandono
Crônicas viscerais da minha cidade
Que já foi maravilhosa
Mas amanhã é um novo dia
E começa tudo de novo
Vai ser tudo igual
E segue o baile
Um dia a menos ou a mais, tanto faz
O Rio de Janeiro continua indo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário