sábado, 30 de março de 2019

Só Mais Uma Noite


Só Mais Uma Noite

Estava eu, altas horas da noite, esperando a condução
Olhava desesperada para cada moto, cada carro e cada cidadão
Temia e tremia a cada som de passos que vinha em minha direção
Segurando a bolsa com toda a força, tentando esconder a tensão

Saco meu celular e acesso meu aplicativo para pedir um carro
Vai demorar uns cinco minutos, é o tempo de fumar mais um cigarro
Um homem de terno me alcança, bem que podia me pedir um trago
Enquanto vem alguém correndo em minha direção e eu só sinto o esbarro

Deixo a bolsa e o celular caírem no chão e os recolho com pressa
Noto que a pessoa começa a se levantar e parece que de forma expressa
Olho para a cor da sua pele e minha cara engessa
Acostumei que homem negro à noite é perigoso à beça

O homem pega meu celular e eu já grito por socorro
Ele me olha de cima à baixo e eu nem sei a quem recorro
Tomo meu celular da mão dele, sem saber se paro ou corro
Chegam alguns policiais querendo tratar o homem pior que cachorro

Ele apresenta seus documentos e tudo não passou de um mal-entendido
O homem também era policial e corria atrás de um bandido
Bandido esse, que estava de terno ao meu lado, e minha carteira já tinha suprimido
Mais um caso de racismo estrutural que no Brasil não é assumido

O bonitão de terno então é levado pelos policias para a delegacia
Eu, sem graça tento me desculpar com aquele que me defendia
Ele me explica suas dores e fala da sua história e correria
Mais um livro julgado pela capa sem ter contada a história que escondia

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