sábado, 7 de julho de 2018

Ponto Final


Ponto Final

Cheguei ao fim
Não tem próxima linha
Próximo ato
Próxima música
Próxima página
Próximo passo
Proximidade
Ou próxima idade
Não haverá desalento
Nem desassossego
Não há de ter sofrimento
Ou ainda qualquer tipo de dor
Só o que tiver de ser depois
A partir de agora me desobrigo
Abro mão das minhas certezas
Me desfaço da minha noção de realidade
A verdade, é que a partir de agora, nada mais sei
Os pensamentos que me dominam me calam
Não consigo vislumbrar um depois
O bipar do monitor cardíaco me acompanha
E o inflar do meu respirador já não me preenche
O que me mantém vivo me machuca
E aquilo tudo que um dia me foi prazer
Hoje, só me causa dor
Estar vivo é sinal de resistência
Pode ser até resiliência, talvez
Olhar para trás e pensar no que podia ter sido
Dói
E como dói
Mas nada de arrependimentos
Me olhar no espelho me rasga
As rugas são feridas de guerra
Uma guerra perdida contra o tempo
Não sei se dói mais o físico ou a alma
O mental ainda me atrapalha
Não há motivos
Continuar é suicídio
O término do que fui eu, já é uma realidade
Sinto que me esvaio de mim
Em cada respiro
Em cada batida do coração
Cada segundo a mais é um segundo a menos
Me sendo bem sincero
É pouco me ver sair de mim
Saber que pouco a pouco
Vou deixando de ser quem sou
Para ser quem fui
E termino sendo exatamente o que nunca quis
Eu que sempre quis ser vírgula
No fim
Jazi sendo ponto final
Em uma história que deveria acabar em reticências
Que um dia um poeta escreva minhas crônicas
E encha de metáforas
Uma vida que era só paradoxos

Nenhum comentário:

Postar um comentário