terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Vidas Negras Importam! #SQN

Vidas Negras Importam! #SQN

Vão morrer negros em comunidade, sim. Vão morrer negros em comunidade pelas forças do Estado, sim. Vão morrer negros em comunidade pelas forças do Estado e não tem porque reclamar. Pois é. Vai morrer. E tem que morrer. Sabe porquê? Porque sempre morreu negro em comunidade pelas forças do Estado e ninguém nunca reclamou. E não é só em comunidades. Nenhum negro está imune as garras do Estado, até porque, é essa a função do Estado, exterminar os negros da nossa sociedade.
Algumas pessoas ainda se levantam contra isso, falam como se não fosse o dever do Estado clarear a nossa sociedade. Concretizar o extermínio negro está na nossa Constituição Federal, você não sabia disso? Pois é, tá lá. E ai de quem questione isso, pois é uma cláusula pétrea, nunca poderá ser alterada ou retirada da nossa Constituição.
Aliás, vou um pouco além, essa cláusula é da Constituição do nosso país. Desde o início da formação do nosso país que os negros são um peso para a sociedade. Em nosso país, ser negro é praticamente uma sentença de morte. E porque não deveria de ser?! Sempre agimos assim, sempre matamos negros com mais facilidade do que gado. Como bem cantou o poeta: A carne mais barata do mercado é a carne negra!
E não tem porque não ser. Um país com tantos negros e pardos, de tantos mestiços e pessoas de pele escura, que só estão aqui para servir a nossa sociedade, e tão somente para isso. Só ver que para nós, negros só podem ascender socialmente se forem atletas ou artistas. Negros que ascendem socialmente por méritos educacionais são vistos com uma estranheza tão grande, que são sempre alvo de blitz das polícias.
O extermínio negro é uma política de Estado sim e não vejo porque de questionarmos isso. Se quando negro era propriedade, isso era uma questão meramente econômica, agora, passa a ser uma questão de segurança pública, afinal, todo negro é suspeito e ninguém questione isso. Quem questiona qualquer uma dessas questões, quem levanta a voz para falar sobre essas questões, é tachado de petista, esquerdopata ou amante de bandido.
E é isso mesmo, afinal, todo negro é bandido e uma ameaça ao Status Quo da nossa sociedade. Negros devem saber o seu lugar em nossa sociedade, afinal, se os negros saíram das senzalas, hoje estão trancafiados nas favelas. E a sociedade brasileira deu a liberdade ao negro, há mais de 120 anos atrás, mas nunca quis que o negro deixasse de ser serviçal. Por isso mesmo, não deram educação aos negros, mandaram-nos para as guerras e encarceram-nos em cadeias.
Mas vão morrer negros em comunidade pelas forças do Estado e não tem porque reclamar, sabe porquê? Porque em nossa sociedade a vida negra vale menos, a reclamação negra vale menos, a dor negra vale menos, a pele negra vale menos, a pessoa negra vale menos, tudo que envolva o negro vale menos. Por isso que matar em favela não é nada demais, por isso que as favelas não são nada demais, por isso que hospital público é sucateado, por isso que escola pública é sucateada, simplesmente porque é a comunidade negra que depende delas.
Veja você, a nossa sociedade comete o genocídio negro desde que o primeiro navio negreiro ancorou em terras brasileiras e nunca se fez nada para mudar isso, nunca se importou realmente com a vida dos negros aqui na Terra Brasilis, nunca demos a devida atenção, sempre nos desfizemos dos negros, sempre maltratamos, humilhamos, flagelamos e ridicularizamos quem tem a pele escura.
Seja a cultura, seja a estética, seja a cultura, seja a beleza, tudo o que vem do negro é menosprezado pelas classes dominantes. Em nosso país, o negro só serve para servir e para entreter, mas desde que se sujeitem a fazer essas coisas de forma que agrade aos brancos. Se algo for feito por negros, pelos negros e para os negros, aí será visto como algo ridículo, a ser criticado e a ser destruído.
Negro não tem direito a se sentir representado na televisão, muito menos ter sua arte reconhecida ou ainda ter o seu valor elevado. Aliás, negro não tem valor, negro tem preço, e como eu já disse antes, a carne mais barata do mercado é a carne negra.
Então, entenda, negro, que você nesse país é apenas massa de manobra, você não tem voz e nem tem vez, você não é alguém, você não tem direito de ir e vir, você é sempre suspeito, você vai ser sempre suspeito, você vai ser sempre alvo de ações policiais, a sua vida vai ser sempre descartável, a sua morte nunca vai ser lamentada, mas sim apenas mais um número.
Mas você não tem porque reclamar, agora está rolando intervenção, você vai ser fichado, terá seu direito de ir e vir cerceado, mas afinal, sempre foi assim, né? Você faz isso quando entra em edifício, vai em repartição pública, não tem nada demais ser cadastrado para entrar em favela, não tem porque reclamar de ser abordado em blitz só por conta da sua cor, não tem porque reclamar de ser perseguido por carro de polícia por você estar dirigindo o seu carro quitado em uma via movimentada... Nada disso é racismo, é para sua segurança.
O texto acima é obra de Victor Hugo de Souza Mendes, um homem, negro, que é um sobrevivente há 35 anos, que embora não more em comunidade, sabe que é um alvo comum para as polícias, que não se sente representado em programas de televisão ou em filmes no cinema. É um defensor das políticas de afirmação e por se sentir capaz de falar em nome da comunidade negra, se valeu da ironia para escrever um texto reflexivo, com algumas das muitas frases que ele ouviu em nome da manutenção do Status Quo da sociedade brasileira, principalmente mantendo o genocídio negro.

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