Dia Do Samba
Ser sambista no
Rio de hoje é um ato de resistência, é um ato de resignação, é um ato de boa
vontade. Ser sambista no Rio de hoje, é nadar contra a maré, é correr risco, é
saber que a qualquer momento o poder público pode querer acabar com o seu
samba. Ser sambista no Rio de hoje é encarar os desafios de ser novamente
marginalizado, ser perseguido, ser atacado.
Mas nem por isso o
samba morre, nem por isso o samba acaba, podem cortar verbas, podem acabar com
eventos, podem fechar barracões, podem calar os autofalantes, podem quebrar os
instrumentos, podem não dar as devidas autorizações, podem lançar orações contra
o samba, podem querer "universalizar", que ainda assim, o samba é
maior.
Mas ser sambista é
mais! Ser sambista é ser mais feliz, ser sambista é gostar da noite, é gostar
do agito, é gostar do som de uma batucada, é gostar da cadência perfeita do
samba. Ser sambista é ter um sorriso aberto, é não fazer amigos bebendo leite,
é saber que camarão que dorme a onda leva. É reverenciar a malandragem, seja o
malandro da antiga, o malandro agulha ou aquele malandro que vira otário quando
ama.
O samba chegou a
Marte, o samba saiu das favelas, ganhou o asfalto, ganhou a cidade, ganhou o
país, ganhou o mundo, ganhou o universo... O samba sim é universal. Não serão 4
anos de um prefeito que disse que faria um governo para as pessoas, sem deixar
de mencionar que seriam as pessoas dele, que o samba vai se calar.
Afinal de contas,
o samba já foi contravenção, mas hoje em dia, é a mais pura expressão popular.
É arte popular do nosso chão. É a produção do show pelo povo, assinando ainda a
direção. O samba não tem fronteira, existem em qualquer lugar. O samba não tem cor,
não é preto e nem branco, embora seja de alma negra, vindo do semba,
diretamente de Angola.
Muitos tentam
calar o samba, buscam sufocar sua voz. Acham que o samba é árvore que deve
morrer. Só que o samba é árvore de raiz forte, pois enfrentou a chibata,
enfrentou a opressão, enfrentou o preconceito e hoje se faz presente, desde o
lar mais humilde até o palácio mais abastado. Ninguém pode mais dizer que o
samba é apenas para quem é vagabundo ou desocupado.
Mas sejamos
sinceros, para cada ato contra o samba, nós, como sambistas, temos o direito e
o dever de criar um ato de resistência pacífica. Para cada roda de samba
fechada, abrimos mais duas, para cada instrumento quebrado, ensinamos mais três
pessoas a tocarem, para cada caixa de som destruída, temos mais um coro de
velha guarda entoando um cântico, para cada sambista que se vai, nasce uma criança
com o samba no pé.
Não importa se
você curte samba de raiz, samba de breque, samba de terreiro, samba canção,
samba de quadra, samba de roda, samba pra frente, pagode, partido alto,
samba-enredo... O importante é que você gosta de samba. O que importa é que
quando você ouve um riscado de cavaco, o som de um pandeiro, ou a batucada dos
nossos tantans, você se emociona, toca dentro de você, no seu coração, que
passa a vibrar na mesma ressonância da percussão.
Pessoas vem e vão,
mas como diz o poeta: "O Samba agoniza, mas não morre"! Viva o samba!
Viva o povo do samba! Viva quem faz samba! Viva quem ama o samba! Que embora
tantas coisas venham para nos derrubar, que o samba seja sempre essa força para
nos alegrar e nos fazer felizes. Feliz dia nacional do samba para todos nós!
Que em mais um dia
do samba, a gente possa reverenciar esse ritmo, mas também todos aqueles que
fizeram e fazem parte da sua história. Que venham mais tantos e tantos anos de
samba, afinal, se com um século, o mesmo ainda não possui o respeito que
merece, que nos próximos anos, o mesmo possa recuperar de volta o respeito que
tentam lhe roubar. Por isso, vê lá onde pisa e respeita a camisa que a gente
suou. Respeite quem pode chegar onde a gente chegou!
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