segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Epidemia Da Depressão

A Epidemia Da Depressão

Eu não tenho o conhecimento do que acontece na vida dos outros. Mal tenho do que acontece na minha e ainda assim, em alguns momentos eu acabo sendo pego de marola. Mesmo, embora, eu tente ser uma pessoa bem aberta a ouvir os outros, ser um bom amigo, um bom ouvinte e alguém acolhedor, sei que em muitas vezes, as pessoas precisam se sentir prontas, aptas e abertas para compartilharem os seus problemas.
Muitas vezes as pessoas acham que vão ser ridicularizadas ou até mal interpretadas sobre os seus problemas, sobre os seus males e sobre as coisas que lhe afligem, preferindo manter aquilo só para si, achando que não vale a pena introduzir os seus problemas da vida de outro. Por acreditarem que irão sempre causar um mal aos outros, preferem se calar e sofrerem em silêncio.
A questão é que não estamos alimentando a solidariedade e a empatia entre nós. Estamos numa competição louca em que tudo nosso é maior e mais importante que o do outro, onde a gente compete por atenção, por compaixão e até por pena. Esquecemos que do outro lado também há um ser humano, alguém que está sofrendo, que está passando por problemas e que muitas vezes, só quer ver se ainda é considerado um ser humano pelos outros a sua volta. Quer saber se ainda faz diferença a sua presença nesse mundo ou não.
Eu tenho uma certa propriedade para tratar do assunto, pois eu também passei por esse processo. Essa doença, que parece ser o mal do novo milênio, se intensificando cada vez mais, agindo como uma epidemia e atingindo cada vez mais a população mundial, não tendo distinção de raça, cor, credo, sexo, idade, nacionalidade... Pois é, a depressão está cada vez mais presente em nossas vidas. Seja por um amigo, um parente ou um conhecido que está imerso nessa patologia ou, em muitos casos, nós mesmos, termos desenvolvido tal doença e, infelizmente, não somos preparados pela vida e pela sociedade para lidarmos com ela da melhor forma possível.
Quando eu estive depressivo, poucas foram as pessoas que perceberam, poucos foram os que deram o devido valor as minhas ausências, aos meus sumiços ou as minhas poucas e parcas palavras. Amigos, parentes, conhecidos, colegas de trabalho e tantas pessoas em minha vida, mas poucos se deram ao trabalho de um dia conversar comigo, de ouvir o que eu tinha para dizer, de não se apiedar de mim, mas sim me tratar com dignidade, me ouvindo e estando ao meu lado.
Não é fácil você lidar com isso. É muito fácil você se afundar cada vez mais nisso, como se você estivesse num poço de areia movediça, que quando você para pra ver e finalmente percebe, está quase sufocando, atolado, só com o nariz de fora, mas ciente de que o fim é certo. E quando você se dá conta, está com pensamentos muito perigosos, chegando a não ver uma solução plausível para os seus problemas, não chegando a ver uma saída melhor do que a de tentar contra a própria vida.
Muitas pessoas não entendem isso, acham que alguém com depressão tem que estar triste o tempo todo, que não ri e nem se alegra com mais nada. Porém, a verdade não é essa. Vivemos normalmente nossas vidas, mas nossos pensamentos apenas nos levam para lugares mais sombrios de nossas almas, onde não vemos muita razão para vivermos nossas vidas, onde não vemos motivos para continuar lutando contra essa força que nos oprime e que nos machuca.
E quando essa dor psicológica começa a ser sentida fisicamente, aí você começa a achar que está tudo perdido mesmo e só pensa numa fora dessa dor acabar, só quer saber de dar um jeito para que essa dor cesse. Mas ninguém mais além de você é capaz de fazer isso, só você pode resolver essa questão. Em alguns casos, como o meu, quando você começa a por para fora esses sentimentos ruins, quando você começa a retirar de si esses pensamentos negativos, quando você volta a buscar ter prazer com a vida, as coisas mudam, as coisas melhoram.
Porém, em outros casos, o estágio está mais avançado, você perde o interesse pela sua vida, começa a achar que nada mais vale a pena, que você é apenas mais um peso para a sociedade, que talvez, todos os males do mundo sejam causados por você e que só com uma saída drástica da vida você vai resolver, não só os seus problemas, mas os problemas de todos a sua volta. O que com toda a certeza não é verdade, mas que dentro de uma mente perturbada e adoecida, passa a ser a única realidade possível.
Quantas vezes eu quis gritar para o mundo aquelas coisas que eu estava sentindo e passando? Quantas vezes eu não queria apenas que um amigo meu estivesse ao meu lado e eu não tive esse apoio? Quantas vezes eu não precisava que alguém me chamasse para conversar e não para beber? Quantas vezes eu não sorria para as pessoas querendo mesmo era chorar? Quantas vezes eu queria apenas que alguém não quisesse competir com os meus problemas? Quantas noites eu passei em claro? Quantas vezes eu pensava que poderia não haver um amanhã? Quantas vezes?
Pois é, mas eu consegui sair, não sei como, não sei porque, mas sei que Deus me ajudou, sei que eu pude buscar forças e procurar um tratamento, me reapaixonar por mim, me reapaixonar pela vida, me reapaixonar pelas pessoas, me reapaixonar pelas coisas... Pude readquirir o prazer de estar fazendo coisas por mim, em querer o meu bem, em querer estar bem comigo e com a vida. Assim, pude sair do fundo do poço, consegui estar com só o nariz de fora do poço de areia movediça e consegui em seguida retirar todo o meu corpo. E hoje poder caminhar bem longe desse poço perigoso.
Faço esse relato, depois de perder mais uma pessoa para essa trágica doença. Ficando aqui em mim a sensação de que eu não fiz por ela o que era preciso, que não dei a devida atenção, que não me atentei aos sinais, de que não deixei a porta aberta para quando ela quisesse entrar, que não me mostrei preocupado o suficiente para que ela percebesse que poderíamos procurar uma outra saída. Sei que são pensamentos pequenos, diante da fragilidade que é a vida, mas não deixa de ser uma ideia fixa de que todos nós sempre podemos fazer mais.
Uma vida sempre será uma vida. E quando uma jovem decide tirar a sua por conta de não conseguir ver uma outra saída, é porque algo estava muito errado com ela e todos nós, a sua volta não conseguimos perceber, não conseguimos fazer com que ela sentisse que sim, ela fazia diferença em nossas vidas, que por conta dela o nosso mundo era melhor.
Alguns de vocês que estão lendo esse relato, podem não me conhecer, sendo novos leitores aqui do blog ou simplesmente por não termos assim tanta intimidade, contudo, tenha certeza, que se por algum acaso, você estiver passando por um problema desse, se você estiver com pensamentos não muito bons ao seu respeito ou não querendo zelar muito pela sua vida, você pode me procurar. Venha conversar comigo. Me mande uma mensagem no Facebook, no Instagram, no Skype, no WhatsApp, por e-mail, qualquer que seja o meio utilizado, eu estarei aqui para te ouvir e te ajudar.
Afinal, essa jornada não é fácil, mas se tivermos a certeza de que teremos apoio, que teremos carinho, que teremos empatia e que teremos amor, nada será impossível. Eu deixo aqui a minha porta aberta, quem precisar entrar e quiser conversar, só chamar. Pode contar comigo.

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