quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Reptiliano


Reptiliano

Quando fecho os olhos e escuto o farfalhar reptiliano das asas do ser que me habita
Então o medo me domina e me congela a espinha
Pois eu sei que esse ser é maligno e vai assumir o comando
Tento crer que eu não tenho maldade ou pecados
Mas só de ouvir o seu caminhar soturno, eu já percebo o que vem
No fundo da minha alma eu escondo os meus pensamentos mais sombrios
Acabo concedendo o controle para o que vem do obscuro
Aceito a transformação por completo
O sangue em minhas veias começa a fervilhar
A adrenalina sobe a níveis inimagináveis
Me permitindo ser o mais letal possível
A síntese de toda a maldade humana
Olhando no fundo dos meus olhos diretamente no espelho
Encaro a minha face modificada pelo ódio, a raiva e a fúria
Tudo de ruim que vem do ser humano
Abrigado em minha alma fraca e triste
Quando eu me torno um passageiro da agonia
Percebo que sou igual a toda e qualquer patética pessoa
Triste, insegura, inapta, fraca, ignorante e morta por dentro
A sombra do mal que se levanta no horizonte da minha alma
Avança ferozmente sobre o resto de humanidade que me sobrou
Me fazendo duvidar se ainda sou capaz de bons sentimentos
Me fazendo duvidar se ainda sou capaz de viver o amor
Então, percebo que sou meio o médico e o monstro
Luto contra a minha complexa humanidade
Me afastando do que me faz egoísta, mesquinho e solitário
Buscando ser cada vez mais, altruísta, solidário e benevolente
Abraçar o ideal do amor e do bem, esquecendo do mal em mim
Tentando sufocar tudo aquilo que vem do meu ser sombrio
Me equilibrando na corda bamba que é viver
Sabendo que o bem e o mal estão em mim
E eu que devo escolher sempre qual lado devo seguir
Há dias em que eu sou Jekyll, há dias em que sou Hyde
Mas no fim das contas, eu lido com os demônios de ser sempre eu

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