segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O Rio Se "Endireitou"


                 O Rio Se “Endireitou”


Um rio de conservação varreu o meu Rio de Janeiro. A cidade que sempre foi de vanguarda, inclusive já apontada como uma das maiores metróploles do mundo, sendo dita como uma cidade cosmopolita e sempre à frente do seu tempo, parece ter se perdido no meio do caminho, se tornando retrato fiel de um país que está se valendo do medo do novo para se voltar para o que tem de pior, de mais tacanho, mesquinho e conservador.
Já venho sentindo isso há tempos. Quando da eleição de Crivella eu já havia levantado essa hipótese, mas a votação expressiva de candidatos à esquerda, para a câmara dos vereadores, me deu a falsa impressão de que o movimento era meramente contra a pessoa do Freixo e não um conservadorismo da minha maravilhosa cidade.
Contudo, as eleições de agora me deram essa certeza, o Rio está perdendo o seu protagonismo por ação dos seus próprios moradores. Elegemos políticos que são contra tudo aquilo que sempre foi uma marca nossa, Carnaval, Diversidade Sexual, Tolerância Religiosa, Manifestações Artísticas e Liberdade de Expressão.
A verdade é que essa raiva dos cariocas e fluminenses pelo que é diferente está tornando a nossa cidade cada vez mais triste. Não temos mais a alegria do protagonismo musical, do protagonismo literário e do protagonismo teatral. Hoje vivemos a reboque do que é produzido fora das nossas fronteiras, deixamos de ser aqueles para quem os olhos do mundo se viravam para conhecer o Brasil.
É triste ver o Rio de Janeiro se voltando para políticos que são contra as suas manifestações populares, contra a sua pluralidade e seu protagonismo cultural. O Rio de Janeiro pena na mão de políticos, desde que deixo de ser capital do Brasil, desde que deixou de ser uma cidade-estado, desde que deixou... A verdade é essa, o Rio se deixou transformar nessa cidade onde o rico cada vez fica mais rico, onde o pobre cada vez fica mais pobre, onde manifestações populares só são válidas se agradam a maioria, onde os poderosos mandam e os oprimidos que aceitem.
Infelizmente, teremos mais quatro anos onde iremos sofrer nas mãos de oligarquias, onde um sobrenome vai abrir portas e a cor da sua pele vai ser motivo para se preocupar com polícia ou bandido, dependendo da cor dela. Pois é, o Rio se tornou isso, uma cidade triste, onde as pessoas pensam mais em matar pessoas do que em fazer arte, onde se valoriza mais o porte de arma do que o porte de uma ideia.
No frigir dos ovos, o Rio está se apequenando, está se tornando uma cidade interiorana com complexo de grandiosidade. Queremos ter o maior carnaval do mundo, mas desde que ele seja respeitador, com ordem e altivez, queremos ter o maior réveillon do mundo, mas que ele não perturbe a paz e a vida das “pessoas de bem”, queremos ter as melhores praias do mundo, mas desde que elas possam ser usadas somente pelas pessoas que pagam IPTU alto para morar em frente a elas.
O Rio se “endireitou” e isso vai ser uma caretice tremenda. Nunca mais teremos a capacidade de atrair grandes artistas, grandes poetas, grandes escritores, grandes pensadores... Vivemos tempos de repressão ao que é diferente, ao que choca, ao que é fora da caixinha, vivemos tempos em que se aplaude apenas o que é branco, heterossexual, protestante e de origem europeia. Esqueceram assim que sempre fomos o diferente, o que há de vanguarda, o que é fora da caixinha.
Abrimos mão do nosso protagonismo histórico em nome de uma normalidade rasteira, que só prova o quanto estamos caminhando para colocarmos a nossa cabeça na guilhotina e nem vamos poder reclamar quando a lâmina cortar nossas cabeças. Seremos apenas mais uma cidade qualquer e não mais a Cidade Maravilhosa. Parabéns aos envolvidos!

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