O
Rio Se “Endireitou”
Um rio de conservação varreu o meu Rio de Janeiro. A
cidade que sempre foi de vanguarda, inclusive já apontada como uma das maiores
metróploles do mundo, sendo dita como uma cidade cosmopolita e sempre à frente
do seu tempo, parece ter se perdido no meio do caminho, se tornando retrato
fiel de um país que está se valendo do medo do novo para se voltar para o que
tem de pior, de mais tacanho, mesquinho e conservador.
Já venho sentindo isso há tempos. Quando da eleição de
Crivella eu já havia levantado essa hipótese, mas a votação expressiva de
candidatos à esquerda, para a câmara dos vereadores, me deu a falsa impressão
de que o movimento era meramente contra a pessoa do Freixo e não um
conservadorismo da minha maravilhosa cidade.
Contudo, as eleições de agora me deram essa certeza, o
Rio está perdendo o seu protagonismo por ação dos seus próprios moradores.
Elegemos políticos que são contra tudo aquilo que sempre foi uma marca nossa,
Carnaval, Diversidade Sexual, Tolerância Religiosa, Manifestações Artísticas e
Liberdade de Expressão.
A verdade é que essa raiva dos cariocas e fluminenses
pelo que é diferente está tornando a nossa cidade cada vez mais triste. Não
temos mais a alegria do protagonismo musical, do protagonismo literário e do
protagonismo teatral. Hoje vivemos a reboque do que é produzido fora das nossas
fronteiras, deixamos de ser aqueles para quem os olhos do mundo se viravam para
conhecer o Brasil.
É triste ver o Rio de Janeiro se voltando para
políticos que são contra as suas manifestações populares, contra a sua pluralidade
e seu protagonismo cultural. O Rio de Janeiro pena na mão de políticos, desde
que deixo de ser capital do Brasil, desde que deixou de ser uma cidade-estado,
desde que deixou... A verdade é essa, o Rio se deixou transformar nessa cidade
onde o rico cada vez fica mais rico, onde o pobre cada vez fica mais pobre,
onde manifestações populares só são válidas se agradam a maioria, onde os poderosos
mandam e os oprimidos que aceitem.
Infelizmente, teremos mais quatro anos onde iremos
sofrer nas mãos de oligarquias, onde um sobrenome vai abrir portas e a cor da
sua pele vai ser motivo para se preocupar com polícia ou bandido, dependendo da
cor dela. Pois é, o Rio se tornou isso, uma cidade triste, onde as pessoas
pensam mais em matar pessoas do que em fazer arte, onde se valoriza mais o
porte de arma do que o porte de uma ideia.
No frigir dos ovos, o Rio está se apequenando, está se
tornando uma cidade interiorana com complexo de grandiosidade. Queremos ter o
maior carnaval do mundo, mas desde que ele seja respeitador, com ordem e
altivez, queremos ter o maior réveillon do mundo, mas que ele não perturbe a
paz e a vida das “pessoas de bem”, queremos ter as melhores praias do mundo,
mas desde que elas possam ser usadas somente pelas pessoas que pagam IPTU alto
para morar em frente a elas.
O Rio se “endireitou” e isso vai ser uma caretice
tremenda. Nunca mais teremos a capacidade de atrair grandes artistas, grandes
poetas, grandes escritores, grandes pensadores... Vivemos tempos de repressão
ao que é diferente, ao que choca, ao que é fora da caixinha, vivemos tempos em
que se aplaude apenas o que é branco, heterossexual, protestante e de origem
europeia. Esqueceram assim que sempre fomos o diferente, o que há de vanguarda,
o que é fora da caixinha.
Abrimos mão do nosso protagonismo histórico em
nome de uma normalidade rasteira, que só prova o quanto estamos caminhando para
colocarmos a nossa cabeça na guilhotina e nem vamos poder reclamar quando a
lâmina cortar nossas cabeças. Seremos apenas mais uma cidade qualquer e não
mais a Cidade Maravilhosa. Parabéns aos envolvidos!
Show!!! Palavras perfeitas .
ResponderExcluirAgradeço o comentário. Sempre bom ver que nosso pensamento é ressoante.
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