terça-feira, 18 de setembro de 2018

A Volta


A Volta

Sabe, sair do fundo do poço parece algo tão comum, tão simples, tão fácil e tão banal. Isso tudo pois as pessoas tendem a julgar a dor alheia, o esforço alheio, a capacidade alheia, mas não consegue se colocar no lugar do outro.
Posso falar abertamente sobre a minha depressão, um momento conturbado na minha vida, em que perdi minha motivação para viver, onde abri mão das minhas certezas e passei a questionar todas as minhas escolhas, toda a minha vida, tirando de mim as convicções, me jogando num lugar sombrio, medonho, onde poucas pessoas me enxergavam.
O pior, foi entrar nesse poço e nem perceber que estava entrando, ir me adaptando ao ambiente igual a lagosta quando é cozida, começando a ver tudo aquilo como normal. A tristeza, a apatia, a solidão e a falta de amor próprio foram se tornando tão aceitáveis e tão corretas e coerentes, que eu não questionei esses sentimentos, eu apenas os senti.
Quando me dei conta, estava no fundo do poço, olhava lá de baixo e via ao longe a luz, mas não conseguia escapar as suas paredes, não tinha cordas ou instrumentos de alpinismo. A única coisa que tinha era as minhas mãos, pois nem força de vontade eu tinha.
Mas como eu gosto de dizer: a noite é sempre mais escura antes do amanhecer. E o que parecia que não podia piorar, piorou. Parecia que o chão do poço era de areia movediça, pois eu mesmo vendo o que estava acontecendo, não tinha forças para sair, não conseguia me tirar daquela situação.
Foi dando um desespero, foi batendo uma agonia e eu não conseguia mais ver uma saída plausível e comecei a questionar se não era melhor dar cabo de tudo e acabar com todos esses sentimentos ruins que me enchiam o peito. Questionei-me muito a respeito do assunto e por alguns instantes cheguei a elaborar um plano para tentar contra minha existência.
Felizmente, consegui pensar melhor sobre o assunto e ver que essa não era a saída. Vi que só eu mesmo poderia dar um novo rumo para minha vida, que só com uma mudança de postura minha eu conseguiria sair daquela situação no fundo do poço.
E diferentemente do que muitos pensam, não era frescura, não era falta de Deus, não era mimimi, muito menos drama. Era simplesmente a falta que faz você encontrar o seu lugar no mundo, o seu propósito e ainda ter que lidar com os pesos e as convenções impostas por uma sociedade que não é nem um pouco simpática com as pessoas que não se sentem adequados a ela.
E então, comecei a buscar dar um propósito para mim, tentei fazer com que a minha vida fizesse sentido para mim, saindo de tudo isso, escapando dessas questões inferiores, comecei a ver o que era realmente importante para mim, fossem pessoas, sentimentos ou afazeres. Reavaliei tudo.
Parei de dar importância para as pessoas que só queriam sugar, que me usavam, que só se importavam comigo quando convinha, que não tinham amor por mim, que falavam mal... Resolvi tirar tudo de ruim da minha vida, tudo aquilo que tinha me jogado naquele poço fétido, imundo e escuro.
Quando tudo isso foi saindo da minha vida, fui começando a me sentir leve. Claro que tive que procurar ajuda para isso, inclusive profissional, mas até para isso, teve que partir de mim a escolha, eu tive que buscar, eu tive que me sentir forte o suficiente para ver que aquele lugar ao qual eu tinha me acostumado, não era o meu lugar.
Cheguei a ficar tão leve, que me senti mais leve que o ar. E comecei a flutuar. E quando eu flutuei, saí de dentro do poço. Mas não foi só isso, consegui arrumar meios de não só sair do poço, como selá-lo para sempre. Para deixá-lo para trás e seguir em frente.
E não, eu não destruí o poço. Ele está lá, ele tá presente em minha vida, está ali como um monumento, para me lembrar do lugar por onde andei, aquele ponto onde me enfiei e pensei que não conseguiria sair, ou melhor, que pensei que só conseguiria sair morto, mas que felizmente, eu consegui buscar uma outra saída.
Sendo assim, em pleno Setembro Amarelo, poder falar de depressão, suicídio e conseguir tirar algo de positivo disso, é uma volta por cima, é a certeza de que nem sempre as coisas vão dar certo, que nem sempre as coisas vão ser boas, mas que a vida, essa será sempre uma dádiva e nada, nem ninguém pode tirar o meu prazer de viver, nem mesmo eu!

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