sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ninguém Mete A Colher?

Ninguém Mete A Colher?

No início tudo eram flores
Juravam-se amores
Quem via de fora
Não tinha dúvidas de que era amor

Mas veio a primeira discussão
O primeiro empurrão
Um puxão pelo braço
E palavras que causaram dor

Ela chorou uma noite inteira
Achou que tudo não passou de besteira
Fez pouco caso do próprio infortúnio
Acreditando que ele fez por amá-la

O tempo passou e veio a segunda briga
Um tapa no rosto, um soco na barriga
Ela aguentou tudo calada
As marcas serviam para humilhá-la

Não tinha com quem se abrir
Depois de perder um dente parou de sorrir
Se sentia coagida em sua própria casa
Ele passou a ser cada vez mais agressivo

Teve o celular quebrado por ciúmes
Aceitar acabou sendo uma faca de dois gumes
Foi se submetendo aos caprichos dele
Fez do amor um sentimento possessivo

Ela queria gritar e ele não deixava
A cada dia a sua moral mais baixava
Ele tinha o controle de toda a situação
Não era só com tapa que ele machucava

Não podia mais usar roupas curtas
Se sentia abandonada como as murtas
Já não suportava mais isso tudo
Assumia que a vida derrocava

Um dia se rebelou e procurou ajuda
Correu porta a fora com sua dor aguda
Tentou que alguém lhe fizesse justiça
Só conseguiu um mero mandado

Mas no Brasil, a lei não pega
O ex-amor a ela ainda se apega
Fez juras de amor e de morte
O destino dela estava referendado

Com um revólver na mão o ódio o cegou
Uma bala o corpo dela transpassou
Tombou mais uma vítima do machismo
Um número na sessão casuística

Em briga de marido e mulher
Ninguém quis meter a colher
Nem o delegado e nem o juiz
Mais uma mulher virou estatística

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