Mergulhando Em
Águas Mais Profundas
Engraçado como os valores
das pessoas, no que tange relacionamentos, anda mudado, não é? As pessoas
valorizam relacionamentos superficiais e se escondem de relacionamentos
profundos. Elas procuram amores duradouros em transas aleatórias e tratam como
se não fosse nada interesses sérios. É uma questão de valorizar o que deve ser
descartado e descartar o que deve ser valorizado, que no meio desse jogo todo,
dessa loucura que é buscar um relacionamento sério atualmente, quem se expõe,
quem busca mostrar que está interessado, acaba sendo descartado, justamente por
isso, por se mostrar interessado.
Conversando com alguns
amigos, colegas e conhecidos, me peguei com um pensamento que me martelou muito
até eu começar a escrever esse texto: Qual será o porquê de as pessoas agirem
assim? Há muito tempo penso que a ideia de autodefesa é a mais correta nesses
casos, as pessoas preferem não se expor para não sofrerem e aí acabam sabotando
os seus relacionamentos.
Contudo, de uns tempos
para cá, tenho analisado mais a fundo a questão e criado um novo conceito sobre
a coisa. Percebi que muitas das vezes as pessoas agem assim, para que seja mais
fácil descartar o relacionamento. Ou seja, as pessoas tratam esses
relacionamentos de forma superficial para que assim, os relacionamentos acabem
se tornando descartáveis. Logo, quando não for mais de interesse da pessoa, ela
pega e joga fora.
E tal conceito se aplica
as relações humanas como um todo e não só com relação aos relacionamentos
amorosos. Basta ver o seguinte, qual foi a última vez que você perguntou com
real interesse como estava a sua mãe? Ou o que seu irmão andava fazendo? Ou o
que seu melhor amigo estava passando? A verdade é que com o aumento das
tecnologias, a civilização humana aproximou quem estava longe e separou quem
estava perto.
Hoje, sabemos ou temos
como saber mais da vida de celebridades do que dos nossos amigos. Ah, tá, você
vai falar que basta entrar nas redes sociais e sabe tudo sobre o outro, mas não
é verdade. Você só saberá aquilo que a pessoa quer mostrar, não tem
conhecimento real sobre os sentimentos da pessoa. Aquela relação olho no olho,
quando você percebe o que se passa com o outro só de ouvir a sua voz, isso já
não acontece mais.
Quando voltamos a tratar
de relacionamentos amorosos, vemos que as pessoas estão cada vez mais focadas
em se mostrarem nas redes sociais, em parecerem descoladas e terem mais
seguidores e curtidas, do que interagirem de verdade umas com as outras. Afinal
de contas, ninguém é 100% feliz o tempo todo, ninguém sai bem em todas as fotos
e ninguém está se divertindo sempre. A vida não é um mar de rosas sempre, a
gente passa por problemas, privações e afins. Mas quando isso acontece, a gente
nunca mostra nas redes sociais, não é?
Mas não estou falando que
você precisa falar dos seus problemas nas redes sociais, mas também não precisa
fazer da vida real uma extensão das suas redes sociais. Você precisa saber em
quem confiar, com quem compartilhar, com quem trocar ideia, ou seja, você
precisa ter amigos, de parceiros, de pessoas que te sirvam de um porto seguro.
Daí minha estranheza com
essa postura das pessoas no âmbito dos relacionamentos, haja visto que elas
tornam superficial uma relação que exige extrema intimidade, para gerar a
confiança, mas ainda assim, preferem tratar de forma superficial. Ou seja, elas
não trocam com o parceiro. Não interagem com ele, não aprofundam a relação e
fazem com quem aquela pessoa tão presente na vida dela, não seja nada além de
um estranho que frequenta a sua casa.
Uma característica dessa
geração é mostrar interesse pelo total desinteresse, quase um desprezo. Quanto
mais a pessoa se mostra desinteressada, aí que ela acha que o outro precisa
correr atrás, precisa fazer por onde, precisa mostrar que quer, para fazer a
pessoa perceber que aquele outro, que está se mostrando interessado é digno.
Como eu canso de falar,
cheguei em uma idade que sei bem o que eu quero e o que eu não quero, sendo
assim, se a pessoa não demonstra interesse, eu não quero. Claro que entendo que
existe o charme, o jogo e tudo mais, contudo, não me prendo muito a essa
questão. Com a minha idade e a minha cabeça, só consigo pensar que qualquer
joguinho é perda de tempo. A pessoa pode ter dúvidas sobre o que vai ser
daquilo, se vai valer a pena, mas ela não pode ter dúvida se quer ou não quer.
É algo bem simples para
mim: eu não tô aqui para perder tempo procurando estar com alguém que não faz
questão da minha companhia. E para mim, tudo é a reciprocidade, não vejo
problema em ouvir os problemas da pessoa, desde que ela esteja disposta e
interessada nos meus também. É muito fácil viver só as coisas boas ao meu lado,
estar aberta a viver as festas, as glórias, os eventos de família, mas quero
ver enfrentar doença, desemprego, problemas de família...
A questão é que
relacionamento é muito mais do que só momentos felizes, a vida é muito mais do
que isso, a gente chora também, sofre, tem problema, briga, discute, reclama,
tem mau humor, passa por poucas e boas, mas se você não pode contar com a
pessoa que você escolheu para partilhar a sua vida, você vai contar com quem?!
Mas aí vem outro ponto,
como a pessoa vai poder te ajudar com os seus problemas se você nunca falou dos
seus problemas para ela? Muitos de nós se escondem atrás de uma máscara de
perfeição, que precisamos forjar, para que mantenhamos nossa imagem imaculada
de que somos perfeitos, sem que assim, possamos representar um fardo para a
pessoa que se dispõe a estar ao nosso lado, fingindo um interesse superficial,
enquanto fazemos a mesma coisa pela pessoa.
Bem, isso para mim não
serve. Não quero alguém que se interesse por saber do meu dia só até eu
responder que foi tudo bem, quero poder partilhar, quero poder trocar, quero
poder conversar, pedir conselho, desabafar, quero poder pedir colo, quero poder
chorar na frente da pessoa, quero poder fazer qualquer coisa, quero saber que
para ela, minha vida não precisa ser perfeita, mas é comigo, mesmo no meu caos,
no meu armagedom, com quem ela quer passar o resto da vida dela, ao lado, sendo
parte integrante da minha vida, assim como eu serei da dela. Afinal, eu gosto
de mergulhar em águas mais profundas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário