Sobre Passado,
Presente E Futuro
Olha, eu não sou
de ficar alardeando aqui coisas boas que acontecem em minha vida, mas eu
realmente gosto de comentar quando as coisas estão se alinhando, quando a vida
começa a sorrir pra mim, depois de tanto que eu sorri para ela. Já andei tanto
tempo de birra com o universo, crendo que a vida não deveria me dar rasteiras e
tal, que me esqueci que eu também preciso batalhar e fazer por onde, deixei de
fazer a minha vida caminhar e me fechei as mudanças.
Caí numa depressão
complicada, estive fechado para as pessoas a minha volta, tanto amigos quanto
família, tive pensamentos não muito ortodoxos ao meu respeito, me fechei em mim
e no meu mundo e acabei me tornando uma pessoa que eu não era, me esquecendo de
quem eu um dia tinha sido e fazendo muito mal a mim e a quem me amava, me
jogando num poço tão fundo e tão escuro, que não via soluções fáceis e rápidas
para sair dele, chegando a achar que a única saída era tentar contra mim mesmo,
me sabotando cada vez mais e mais.
Já tratei desse
momento da minha vida em outros momentos e no atual texto quero abrir mais
espaço para isso, embora o que valha de importante aqui é que eu já me
considerei destruído e hoje, consegui superar isso. O texto de hoje é para
tratar do inverso, quando as coisas começam a se encaixar, quando você percebe
que o mundo pode ser um bom lugar, quando você nota que o mundo inteiro parece
um grande playground pra você e você consegue se beneficiar disso, realmente.
Mas ao analisar o
meu momento atual, me contraponho ao meu momento passado e percebo que fiquei
muito, mas muito tempo me prendendo à minha zona de conforto, deixando de ir
além do que eu poderia, aceitando certos rótulos, certas impressões e até
certas imposições que a vida me obrigava, sendo que eu não concordava com nada
daquilo que eu estava me tornando.
Os Titãs têm uma
música chamada Não Vou Me Adaptar, que fala sobre a pessoa não se adaptar a ser
aquela pessoa que ele se tornou. Eu estive assim, não me adaptava a ser aquela
pessoa que eu tinha me tornado, eu estranhava e muito aquela pessoa que eu era,
acabando não conseguindo ser feliz com o que eu era e rejeitando aquela pessoa
que me tornei.
Era o clássico não
gosto do que sou e não consigo conviver bem com isso, aquilo me deprimiu de tal
forma, que eu não conseguia ver saída disso. Eu me conformei, me acostumei com
aquela zona de conforto, acabei ficando na mesmice, na superfície, no raso e
não conseguia ir além do que eu via como a minha vida. Acabei tendo momentos
que hoje, considero patéticos, não me sentia mais como eu gostaria de ser e não
reconhecia mais a face que eu olhava no espelho.
O ponto crucial
disso, foi que me fez refletir muito sobre quem eu era, quem eu fui e quem eu
queria me tornar. Uma coisa que eu aprendi nessa caminhada eterna que chamamos
de vida, é: nenhuma rua é sem saída para quem sabe olhar para trás. Pois bem,
eu comecei a olhar para o meu passado, rever pensamentos sobre onde eu queria
estar, o que eu queria fazer da minha vida, com quem eu queria dividir minha
vida, sobre o que eu queria que minha vida significasse para os outros, sobre o
que eu, como uma pessoa qualquer poderia fazer para mudar o mundo.
Daí, comecei a
refazer, me reconstruir, me reaproximar das pessoas que eu queria por perto, me
afastar das que eu já não queria mais, mudei meus hábitos, reeditei outros, fui
fazer coisas que me faziam bem, que me traziam alegria e satisfação, coisas que
me mostravam quem eu realmente era, ou ainda, quem eu sempre fui, mas tinha me
esquecido de ser.
Uma das coisas
mais interessantes nesse processo todo, foi que eu redescobri a escrita como
uma forma de catarse para mim. Sempre tive uma ótima relação com a escrita,
sempre fui muito bom com as palavras e sabia usá-las como brinquedos, como
diversão e como arte. Desde sempre, desde que eu me entendo por gente, eu
gostava de “palavrear” (usar as palavras de uma forma aleatória, só para o meu
prazer), daí, pegava o gravador de casa, uma fita e começava a falar, criar
músicas, cantar, fazer entrevistas comigo mesmo e com o passar do tempo, com o
avançar da idade, com o peso dos compromissos, acabei me afastando desse
hábito.
Note, que sempre
tive incentivo em casa para tal hábito. Lá em casa, sempre tivemos uma vasta
biblioteca, meus pais são professores, sempre incentivaram a cultura, tivemos
aulas de música, de línguas, de artes, de tudo que foi coisa e cada um de nós
desenvolveu as suas habilidades forjadas por essas influências que tivemos de
nossos pais. Sempre tivemos o incentivo à cultura, a sermos cultos, a termos
conhecimentos e adquirirmos cada vez mais dele, para proveito próprio e das
pessoas à nossa volta.
Porém, algo
curioso, nunca fui incentivado a escrever, mesmo nos colégios ou em casa, nunca
era uma coisa que as pessoas me encorajavam. Engraçado disso, é que eu comecei
a ver que era bom com a escrita, por justamente contestar essa não apreciação
que eu recebia dessa arte por parte de professores. Estudei no Imperial Colégio
Militar do Rio de Janeiro, nome imponente para uma instituição mais que
centenária e que já gerou muitas e muitas gerações de personalidades desse
país, desde presidentes, ministros e outros tipos de políticos, até artistas,
atletas e grandes personalidades.
Acontece que, o
Colégio Militar não é um dos ambientes mais propícios a você formar uma
personalidade desviante como a minha. Lá, você recebe um número que passa a te
identificar por toda a sua estada no Colégio, que é pra demonstrar bem que você
ali é mais um. Nada contra, devo muito do meu conhecimento a forma como o
Colégio Militar lida com o conhecimento, sendo sempre altíssimo nível.
Contudo, eu não
tinha como me expressar da forma como eu queria, não tinha como tratar de temas
complicados como os que um adolescente passa, falando abertamente com o
sargento da minha companhia. Não, é complicado você tratar de sexo quando o seu
colégio não permite nem a interação homem/mulher. Você tem os desejos, mas não
pode consumá-los, você tem as ideias, mas não pode externa-las, você tem os
pensamentos, mas não tem como pô-los em prática.
Aí entra a escrita
na minha vida, passei a abusar dela, pois assim eu conseguia expor o que eu
pensava e o que eu queria sem criar muitos problemas para mim. Professoras de
redação não conseguiam entender o meu estilo narrativo ou as minhas ironias no
papel, muitas das minhas redações não eram narrativas, mas sim reflexivas e
meus poemas tratavam de uma temática romântica, quando eu só externava
pensamentos bobos e banais, tornando meus versos quase que uma antítese do que
eu era.
Assim, a escrita
foi a minha grande válvula de escape. Quando eu sentia que o mundo estava
complicado demais, era só transpô-lo para o papel que aí ele descomplicava.
Parecia passe de mágica, o mundo nunca mais foi o mesmo para mim. Passei a
controlar o meu mundo com tinta e papel, com imaginação, hipérboles, ironias,
metáforas, metonímias, figuras de linguagem, em forma de verso ou prosa.
A caneta e o papel
traçavam a minha rota de fuga da mesmice que as pessoas queriam me obrigar a
viver. Com o passar dos anos, encontrei parceiros que me incentivaram a
escrever, encontrei pessoas que admiraram a minha forma de lidar com as
palavras, mas dificilmente eu via isso como uma coisa além de um hobby ou algo
assim. Todavia, ao me encontrar em situação tão deplorável, a ponto de estar
odiando até viver a minha vida, eu tinha abandonado a escrita como um hábito,
fazendo dela quase que uma coisa comercial, escrevendo apenas quando
necessitava mostrar um lado meu que poucos conheciam ou que não tinha muita
vontade de conhecer.
Ao me afastar da
escrita, acabei me afundando ainda mais de quem eu era e de quem eu gostava de
ser, me deixei tomar por pensamentos que não conseguia mais expor de forma
clara no papel, me deixei tomar por ideias que em nada me serviam sobre mim e
que mais eram motivos de alegria para quem achava que eu deveria ser
simplesmente aquilo que eles esperavam.
Mas, porque eu
resolvi tratar de tudo isso? Bem, uma coisa muito simples, meus caros amigos,
eu voltei a ser quem eu era, voltei a ser quem eu queria ser, quem eu admirava
e quem eu tanto lutei para ser, depois que eu voltei a me dedicar a essa arte.
A escrita me fez voltar a crer em mim, me ter total apreço.
Hoje, me olho no
espelho todos os dias e consigo reconhecer aquela pessoa do outro lado, ter
orgulho de quem ela se tornou, saber que apesar do que ela passou, ela não
desistiu de si mesma, mesmo que tenha sofrido com isso, tenha aceitado ter
pensamentos nada convencionais sobre si e sobre o que fazer consigo, mas tudo
isso é coisa do passado. O que importa hoje é o pra frente e olhando pra
frente, me vejo muito mais forte, muito mais contente e muito mais preparado
para enfrentar os infortúnios da vida, pois sei que mesmo que eu caia de novo,
tenho em que me apoiar para me levantar.
Agora, tratando do
tema original desse texto, me pego em uma fase excelente, pois estou feliz
comigo mesmo por estar retomando o rumo da minha vida, buscando novos desafios,
saindo da minha zona de conforto, indo além, entrando mais no mar, buscando
águas mais profundas...
Estou no momento
de encontrar novas realidades para mim, retomando a escrita como um hobby
valioso para mim, aprendendo como é escrever transcrevendo o meu interior, colocando
o que sou eu pra fora, não mais me afastando de quem eu sou e me aproximando
mais e mais do que eu quero ser. Sentindo orgulho do que eu sou, do que me
torno e do que eu pretendo ser.
Falo isso, pois
hoje me reconheço com um escritor, como alguém que consegue se conectar com os
interlocutores, consigo fazer quem está do outro lado se colocar no meu lugar
ou ainda saber como a minha experiência se encaixa na sua vida também. Isso me
traz a certeza de estar indo pelo caminho certo de estar buscando nas artes a
saída de momentos ruins, mas que hoje, como a minha vida mais em ordem, vendo o
mundo a minha volta me trazendo coisas boas, me faz ficar com a sensação de que
quando a gente se redescobre, quando a gente foca em fazer o que nos faz bem e
nos deixa felizes, não tem nada e nem ninguém que possa jogar contra.
A autoestima é uma
coisa muito necessária, foi somente quando eu voltei a me enxergar com bons
olhos que eu pude voltar a exercer minha arte com plenitude, e chegar ao ponto
onde hoje me encontro. Não que seja algo de extraordinário, mas você ser
considerado um escritor com potencial por pessoas do ramo, realmente envaidece
alguém que está buscando um caminho para o seu trabalho artístico. Só posso
agradecer por ter retomado o rumo da minha arte e focar em cada vez mais, me
manter nessa levada, para quem sabe um dia, realmente poder chegar a ser
reconhecido como um escritor de renome. Vamos em frente, que a vida está
retribuindo todos os sorrisos que eu voltei a lançar para ela.
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