terça-feira, 23 de maio de 2017

Sobre Passado, Presente E Futuro

Sobre Passado, Presente E Futuro

Olha, eu não sou de ficar alardeando aqui coisas boas que acontecem em minha vida, mas eu realmente gosto de comentar quando as coisas estão se alinhando, quando a vida começa a sorrir pra mim, depois de tanto que eu sorri para ela. Já andei tanto tempo de birra com o universo, crendo que a vida não deveria me dar rasteiras e tal, que me esqueci que eu também preciso batalhar e fazer por onde, deixei de fazer a minha vida caminhar e me fechei as mudanças.
Caí numa depressão complicada, estive fechado para as pessoas a minha volta, tanto amigos quanto família, tive pensamentos não muito ortodoxos ao meu respeito, me fechei em mim e no meu mundo e acabei me tornando uma pessoa que eu não era, me esquecendo de quem eu um dia tinha sido e fazendo muito mal a mim e a quem me amava, me jogando num poço tão fundo e tão escuro, que não via soluções fáceis e rápidas para sair dele, chegando a achar que a única saída era tentar contra mim mesmo, me sabotando cada vez mais e mais.
Já tratei desse momento da minha vida em outros momentos e no atual texto quero abrir mais espaço para isso, embora o que valha de importante aqui é que eu já me considerei destruído e hoje, consegui superar isso. O texto de hoje é para tratar do inverso, quando as coisas começam a se encaixar, quando você percebe que o mundo pode ser um bom lugar, quando você nota que o mundo inteiro parece um grande playground pra você e você consegue se beneficiar disso, realmente.
Mas ao analisar o meu momento atual, me contraponho ao meu momento passado e percebo que fiquei muito, mas muito tempo me prendendo à minha zona de conforto, deixando de ir além do que eu poderia, aceitando certos rótulos, certas impressões e até certas imposições que a vida me obrigava, sendo que eu não concordava com nada daquilo que eu estava me tornando.
Os Titãs têm uma música chamada Não Vou Me Adaptar, que fala sobre a pessoa não se adaptar a ser aquela pessoa que ele se tornou. Eu estive assim, não me adaptava a ser aquela pessoa que eu tinha me tornado, eu estranhava e muito aquela pessoa que eu era, acabando não conseguindo ser feliz com o que eu era e rejeitando aquela pessoa que me tornei.
Era o clássico não gosto do que sou e não consigo conviver bem com isso, aquilo me deprimiu de tal forma, que eu não conseguia ver saída disso. Eu me conformei, me acostumei com aquela zona de conforto, acabei ficando na mesmice, na superfície, no raso e não conseguia ir além do que eu via como a minha vida. Acabei tendo momentos que hoje, considero patéticos, não me sentia mais como eu gostaria de ser e não reconhecia mais a face que eu olhava no espelho.
O ponto crucial disso, foi que me fez refletir muito sobre quem eu era, quem eu fui e quem eu queria me tornar. Uma coisa que eu aprendi nessa caminhada eterna que chamamos de vida, é: nenhuma rua é sem saída para quem sabe olhar para trás. Pois bem, eu comecei a olhar para o meu passado, rever pensamentos sobre onde eu queria estar, o que eu queria fazer da minha vida, com quem eu queria dividir minha vida, sobre o que eu queria que minha vida significasse para os outros, sobre o que eu, como uma pessoa qualquer poderia fazer para mudar o mundo.
Daí, comecei a refazer, me reconstruir, me reaproximar das pessoas que eu queria por perto, me afastar das que eu já não queria mais, mudei meus hábitos, reeditei outros, fui fazer coisas que me faziam bem, que me traziam alegria e satisfação, coisas que me mostravam quem eu realmente era, ou ainda, quem eu sempre fui, mas tinha me esquecido de ser.
Uma das coisas mais interessantes nesse processo todo, foi que eu redescobri a escrita como uma forma de catarse para mim. Sempre tive uma ótima relação com a escrita, sempre fui muito bom com as palavras e sabia usá-las como brinquedos, como diversão e como arte. Desde sempre, desde que eu me entendo por gente, eu gostava de “palavrear” (usar as palavras de uma forma aleatória, só para o meu prazer), daí, pegava o gravador de casa, uma fita e começava a falar, criar músicas, cantar, fazer entrevistas comigo mesmo e com o passar do tempo, com o avançar da idade, com o peso dos compromissos, acabei me afastando desse hábito.
Note, que sempre tive incentivo em casa para tal hábito. Lá em casa, sempre tivemos uma vasta biblioteca, meus pais são professores, sempre incentivaram a cultura, tivemos aulas de música, de línguas, de artes, de tudo que foi coisa e cada um de nós desenvolveu as suas habilidades forjadas por essas influências que tivemos de nossos pais. Sempre tivemos o incentivo à cultura, a sermos cultos, a termos conhecimentos e adquirirmos cada vez mais dele, para proveito próprio e das pessoas à nossa volta.
Porém, algo curioso, nunca fui incentivado a escrever, mesmo nos colégios ou em casa, nunca era uma coisa que as pessoas me encorajavam. Engraçado disso, é que eu comecei a ver que era bom com a escrita, por justamente contestar essa não apreciação que eu recebia dessa arte por parte de professores. Estudei no Imperial Colégio Militar do Rio de Janeiro, nome imponente para uma instituição mais que centenária e que já gerou muitas e muitas gerações de personalidades desse país, desde presidentes, ministros e outros tipos de políticos, até artistas, atletas e grandes personalidades.
Acontece que, o Colégio Militar não é um dos ambientes mais propícios a você formar uma personalidade desviante como a minha. Lá, você recebe um número que passa a te identificar por toda a sua estada no Colégio, que é pra demonstrar bem que você ali é mais um. Nada contra, devo muito do meu conhecimento a forma como o Colégio Militar lida com o conhecimento, sendo sempre altíssimo nível.
Contudo, eu não tinha como me expressar da forma como eu queria, não tinha como tratar de temas complicados como os que um adolescente passa, falando abertamente com o sargento da minha companhia. Não, é complicado você tratar de sexo quando o seu colégio não permite nem a interação homem/mulher. Você tem os desejos, mas não pode consumá-los, você tem as ideias, mas não pode externa-las, você tem os pensamentos, mas não tem como pô-los em prática.
Aí entra a escrita na minha vida, passei a abusar dela, pois assim eu conseguia expor o que eu pensava e o que eu queria sem criar muitos problemas para mim. Professoras de redação não conseguiam entender o meu estilo narrativo ou as minhas ironias no papel, muitas das minhas redações não eram narrativas, mas sim reflexivas e meus poemas tratavam de uma temática romântica, quando eu só externava pensamentos bobos e banais, tornando meus versos quase que uma antítese do que eu era.
Assim, a escrita foi a minha grande válvula de escape. Quando eu sentia que o mundo estava complicado demais, era só transpô-lo para o papel que aí ele descomplicava. Parecia passe de mágica, o mundo nunca mais foi o mesmo para mim. Passei a controlar o meu mundo com tinta e papel, com imaginação, hipérboles, ironias, metáforas, metonímias, figuras de linguagem, em forma de verso ou prosa.
A caneta e o papel traçavam a minha rota de fuga da mesmice que as pessoas queriam me obrigar a viver. Com o passar dos anos, encontrei parceiros que me incentivaram a escrever, encontrei pessoas que admiraram a minha forma de lidar com as palavras, mas dificilmente eu via isso como uma coisa além de um hobby ou algo assim. Todavia, ao me encontrar em situação tão deplorável, a ponto de estar odiando até viver a minha vida, eu tinha abandonado a escrita como um hábito, fazendo dela quase que uma coisa comercial, escrevendo apenas quando necessitava mostrar um lado meu que poucos conheciam ou que não tinha muita vontade de conhecer.
Ao me afastar da escrita, acabei me afundando ainda mais de quem eu era e de quem eu gostava de ser, me deixei tomar por pensamentos que não conseguia mais expor de forma clara no papel, me deixei tomar por ideias que em nada me serviam sobre mim e que mais eram motivos de alegria para quem achava que eu deveria ser simplesmente aquilo que eles esperavam.
Mas, porque eu resolvi tratar de tudo isso? Bem, uma coisa muito simples, meus caros amigos, eu voltei a ser quem eu era, voltei a ser quem eu queria ser, quem eu admirava e quem eu tanto lutei para ser, depois que eu voltei a me dedicar a essa arte. A escrita me fez voltar a crer em mim, me ter total apreço.
Hoje, me olho no espelho todos os dias e consigo reconhecer aquela pessoa do outro lado, ter orgulho de quem ela se tornou, saber que apesar do que ela passou, ela não desistiu de si mesma, mesmo que tenha sofrido com isso, tenha aceitado ter pensamentos nada convencionais sobre si e sobre o que fazer consigo, mas tudo isso é coisa do passado. O que importa hoje é o pra frente e olhando pra frente, me vejo muito mais forte, muito mais contente e muito mais preparado para enfrentar os infortúnios da vida, pois sei que mesmo que eu caia de novo, tenho em que me apoiar para me levantar.
Agora, tratando do tema original desse texto, me pego em uma fase excelente, pois estou feliz comigo mesmo por estar retomando o rumo da minha vida, buscando novos desafios, saindo da minha zona de conforto, indo além, entrando mais no mar, buscando águas mais profundas...
Estou no momento de encontrar novas realidades para mim, retomando a escrita como um hobby valioso para mim, aprendendo como é escrever transcrevendo o meu interior, colocando o que sou eu pra fora, não mais me afastando de quem eu sou e me aproximando mais e mais do que eu quero ser. Sentindo orgulho do que eu sou, do que me torno e do que eu pretendo ser.
Falo isso, pois hoje me reconheço com um escritor, como alguém que consegue se conectar com os interlocutores, consigo fazer quem está do outro lado se colocar no meu lugar ou ainda saber como a minha experiência se encaixa na sua vida também. Isso me traz a certeza de estar indo pelo caminho certo de estar buscando nas artes a saída de momentos ruins, mas que hoje, como a minha vida mais em ordem, vendo o mundo a minha volta me trazendo coisas boas, me faz ficar com a sensação de que quando a gente se redescobre, quando a gente foca em fazer o que nos faz bem e nos deixa felizes, não tem nada e nem ninguém que possa jogar contra.
A autoestima é uma coisa muito necessária, foi somente quando eu voltei a me enxergar com bons olhos que eu pude voltar a exercer minha arte com plenitude, e chegar ao ponto onde hoje me encontro. Não que seja algo de extraordinário, mas você ser considerado um escritor com potencial por pessoas do ramo, realmente envaidece alguém que está buscando um caminho para o seu trabalho artístico. Só posso agradecer por ter retomado o rumo da minha arte e focar em cada vez mais, me manter nessa levada, para quem sabe um dia, realmente poder chegar a ser reconhecido como um escritor de renome. Vamos em frente, que a vida está retribuindo todos os sorrisos que eu voltei a lançar para ela.

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