Amores
Insipientes
Sabe quando você acredita
que as coisas poderiam ser melhores se cada um se esforçasse mais, se quisesse
mais que as coisas dessem certo, que se dessem mais a cara a tapa a vida
poderia ser melhor? Estou falando isso sobre o ponto de vista de
relacionamentos. É complicado você ver isso quando você se abre, você se joga,
você arrisca, você aposta, mas ainda assim, você sabe que a pessoa não está tão
disposta a apostar, não está tão disposta a se arriscar.
Sempre vi relacionamentos
como um risco. Seres humanos são voláteis, muito voláteis mesmo, são capazes de
num dia acharem que algo é tudo e no outro achar aquilo descartável. Como já
cansei de falar, somos insatisfeitos por natureza, queremos sempre mais, sempre
melhorar, sempre estar em melhor condição, sempre queremos que as coisas sejam
ainda melhores, mesmo que nossa vida seja perfeita. Neste caso, sempre teremos
algo que nos deixará com a pulga atrás da orelha, sempre teremos algo para
reclamar, para querermos mudar, nem que seja apenas pelo fato de querermos algo
diferente do que o nosso cotidiano de perfeição.
Eu tenho uma postura
muito contínua sobre relacionamentos, pra mim não são necessários rótulos,
nomes, convenções, acertos, bênção das famílias, pedidos ou coisas assim. Pra
mim, o que vale é o estar junto, é o estar ao lado, é o poder contar, é o estar
à disposição, é o se importar, é o dar valor, é o convívio, são os sacrifícios
feitos em nome do outro, são as coisas boas, os bons momentos, mas ainda assim,
é o você estar com o outro. Pra mim, o que vale o desejo de estar com a pessoa,
pouco me importa o nome que dá, o que as pessoas a voltam falam ou o que
pensam. Pra mim, só importa a opinião de quem está comigo.
Todos que leem esse
espaço sabem que eu pretendo ter uma família um dia, não quer dizer que para
isso eu precise me casar, apesar de ser uma situação que eu me sinto
confortável, mas mais do que isso, o que me importa mesmo é a vontade da outra
pessoa estar comigo e encarar esse desafio. Quero alguém que também tenha essa
disposição, porém, além disso, que esteja afim de construir algo a dois, que
esteja afim de ir além do básico.
Como sou muito
pragmático, há muito que eu não falava isso por aqui, eu acabo me policiando em
determinados pontos, para não me deixar empolgar com coisas simples. Não me
encanto com a beleza externa de alguém, claro que admiro, sinto tesão e essas
coisas, mas beleza não é o que me encanta ou enche os olhos. Já passei de uma
certa idade, pra mim o físico conta muito pouco atualmente, não que eu esteja
falando que não tenho a ideia de que a mulher deva ser bonita, não é isso.
Apenas estou dizendo que pra mim, uma mulher tida por todos como normal, pode
me encantar muito mais ao demonstrar como é o seu interior, mostrando o seu
caráter, seu humor e o seu jeito de ser.
Gosto de pessoas simples,
que gostam de conversar e conseguem conversar sobre tudo, que tem senso de
humor, que conseguem se colocar em qualquer lugar, que não se importam em rir
de si mesmas, que saibam entender meu jeito estranho de ser, que não se
importem que eu pareça um ogro de vez em quando, pois sabem que sou capaz de um
gesto romântico a qualquer momento... Gosto de que a pessoa goste de estar
comigo, mas não queira estar comigo o tempo todo, gosto de que a pessoa pense
em nós juntos, mas que não seja o fim do mundo nós termos nossas vidas em
separado.
Gosto de mulheres
independentes, de mulheres fortes, de mulheres que saibam o que querem, o que
gostam. Gosto de mulheres que não sejam inseguras, que saibam julgar as coisas
com discernimento, que não criem problemas por qualquer coisa, que entendam que
temos que alimentar o amor, cuidar da relação e fortificarmos a mesma,
fazendo-a crescer cada dia mais e mais, até que, quem sabe um dia, cheguemos a
constituir uma família. Ocorre que não é uma obrigação ter uma família, vejo
isso como uma consequência natural das coisas.
Assim, pra mim, o que
vale mesmo é o querer estar junto. Quando as pessoas sentem aquela necessidade
de partilhar a vida com uma outra pessoa, quando não veem mais como viver as
suas vidas sem a outra pessoa. O curioso disso, é que muita gente acha que a
paixão é o mais importante. Eu já desisti de me apaixonar, nunca aconteceu
realmente comigo. Já me encantei, fiquei gamado, fiquei até mesmo enfeitiçado
por alguém, mas apaixonado não. Mas uma coisa boa disso, é que sempre que eu
quis me desvencilhar das pessoas, eu consegui. E mais, sempre que eu quis amar
a pessoa, eu consegui também.
Vejo esse amor com uma
maturidade maior, pois foi algo escolhido e não algo imposto, eu quis amar
alguém, eu vi que com aquela pessoa a minha vida era melhor, vi o quanto aquela
pessoa me fazia bem e o quanto eu me beneficiava de ter ela na minha vida e
queria retribuir esse sentimento, queria que a pessoa ficasse bem comigo, que ela
se sentisse melhor ao estar ao meu lado, que o benefício fosse mútuo e
contínuo, aí eu pegava e me entregava aos sentimentos.
Amei poucas pessoas em
minha vida, apesar de ter me relacionado com muitas pessoas. Só tive namoros,
daqueles convencionais, com pessoas com as quais eu amei, aquelas que eu tive a
escolha de permitir que o sentimento se desenvolvesse e seguisse em frente.
Graças a Deus, os sentimentos foram correspondidos, fiquei muito tempo em
namoros e minhas ex, apesar de não estarem mais comigo, são pessoas pelas quais
eu tenho muito carinho, justamente por saber que eu amei e fui amado.
Claro que o amor se
transformou em outra coisa com a separação, não é mais o mesmo sentimento que
eu tinha por cada uma delas, mas o importante é que eu pude vivenciar esse
sentimento de forma intensa e extrema. Hoje, sou grato por ter vivenciado isso
com elas e mais, por ter aprendido que eu era capaz de amar e ser amado, que eu
era capaz de ter um sentimento tão puro e maduro, sem essa coisa fantasiada de
contos de fadas, pude viver um amor singular, que se não foi eterno, posso
dizer que foi excelente e extremamente engrandecedor e importante para mim.
Ocorre que, em todos
esses casos, toda vez que eu amei alguém, foi porque eu corri riscos, eu me
joguei, apostei e acabei quebrando a banca. Portanto, acabo achando estranho
alguém querer jogar o jogo do amor, com medo de perder, com medo de que não vai
dar certo, ou ainda, acreditando que uma paixão incandescente pode ser maior e
melhor que um amor maduro e tórrido.
Atualmente, muitas
mulheres ainda acreditam em contos de fadas, em cavaleiros de armadura
brilhante montado em um cavalo branco... Eu não sou príncipe encantado, se
fosse para me considerar algum personagem de contos de fadas, eu seria o Shrek.
Risos! Mas cortando o ogro verde, acho que se fossem me retratar como um
personagem de contos de fadas, eu seria o cavaleiro negro, aquele com quem a
princesa flerta, mas acaba sempre escolhendo o cara que é tido perfeito.
Eu não viso ser perfeito,
viso apenas ser a cada dia o melhor que eu posso ser, por isso mesmo, espero
poder amar alguém cada dia mais e mais, que essa pessoa não se apaixone por
mim, mas escolha me amar, de corpo e alma, para que eu a ame de forma
intensamente igual. Que possamos viver nossas vidas a dois, tendo um ao outro
como eterna e melhor companhia.
Hoje, as pessoas preferem
viver amores insipientes, amores pobres, amores vis, ao invés de se entregarem
a alguém que as conhece, as faz bem, que saiba cuidar delas, que as entenda,
que faça questão de entender suas mentes, que não as julgue, mas acima de tudo,
que seja uma pessoa que é talhada a fazê-las feliz. Mas o problema maior que eu
vejo, é que muita gente ainda vê felicidade em viver amores incolores,
insípidos e inodoros, enquanto para mim, amor tem cor, cheiro e sabor, enquanto
pra mim, o amor é chama que não se consome, ilumina, aquece e alimenta. Pra
mim, mais vale se arriscar por amor, do que viver falsas paixões.
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