Pessoas
Vazias, Corações Cheios...
É curioso como as pessoas
gostam mesmo de lidar com a questão dos relacionamentos de uma forma até, meio
que simplória, ainda tendo uma lista de desejos para serem atendidas pela outra
pessoa que não são coisas que acabam nos fazendo ficar felizes realmente. Nos
apegamos a desejos meramente superficiais, abrindo mão de algo que tenha raiz
ou fundação capazes de superar tempestades e tormentas.
Falo isso, pois esse fim
de semana eu conversei com amigos meus e muito sobre isso. Na sua grande
maioria, meus amigos estão em relacionamentos, alguns que eu vejo que irão
muito além de um simples namoro, outros que eu não sei como estão conseguindo
ser mais do que uma mera questão de conhecer um pouco mais além de alguém. Contudo,
a cerne do nosso papo, sempre foi essa questão de entrar em sintonia com outra
pessoa, de permitir ela entrar ou não na sua vida, de você dividir ou não a sua
vida com uma outra pessoa, entende?
Nas minhas pesquisas de
campo sobre relacionamentos, acabo sempre esbarrando com as mesmas complicações
e os mesmos obstáculos e acho que a grande maioria das pessoas também. As pessoas
andam cada vez mais vazias, contudo, preenchendo os seus corações cada vez mais
rápido. Estamos passando por uma infestação de pessoas rasas e superficiais,
onde ninguém se preocupa realmente em se aprofundar em uma relação. Ninguém
quer se abrir realmente, quer se mostrar como realmente é, quer se deixar ser
observado como realmente é.
Ao meu ver, as pessoas
estão se apegando as coisas que dão menos trabalho e que sejam depois mais
fáceis de descartar. É muito mais fácil você abrir mão de algo raso do que algo
profundo. Muita gente quer se relacionar, mas não quer que a pessoa participe
de sua vida. Esses dias vi o meme em que falava de que a pessoa não nasceu para
ser contatinho, mas sim para receber ligação da sogra para ir participar do
almoço de família no domingo e ainda chegar e falar que é você quem vai lavar a
louça.
Fui criado e condicionado
a entender que em uma relação, a pessoa precisa viver os seus prós e os seus
contras, a pessoa precisa viver seus dias de sol e os seus dias de tempestade,
precisa conhecer as suas alegrias e as suas tristezas e vice-versa. Porém, o
que eu tenho mais visto é que as pessoas preferem um certo distanciamento, como
uma tábua de salvação, caso o relacionamento vá por água abaixo.
Perceba, pessoas não são
coisas, nunca é fácil você ter que se afastar de alguém, nunca é fácil você ter
que retirar alguém da sua vida, principalmente se essa pessoa é alguém que você
abriu seu mundo, se permitiu ser desvendado, se permitiu conhecer abertamente.
As pessoas querem ter relacionamento, sem ter vínculo, sem se conectar com a
outra pessoa, é uma individualidade em uma coisa que é coletiva. As pessoas se
preocupam muito com o individual, não valorizam a troca, o encaixe de estar em
contato com uma outra pessoa.
É aquilo, cada um de nós
é um universo único, por isso entendo que por isso mesmo a gente consegue se
bastar, contudo, a gente evolui mais quando permitimos que o nosso universo
entre em contato com um outro universo. Quando os dois universos se interligam,
trocam e vivem um no outro, temos uma vivência ainda maior e melhor.
Tanto é, que por isso
mesmo, creio na conjunção de almas, acho que as pessoas precisam se desnudar
mesmo, abrir suas vidas para o outro, compartilhar, conviver, coabitar,
coexistir, até mesmo coamar, ter um amor de partilha, um amor a dois, algo que
seja mais do que só perguntar como foi o dia e a pessoa responder que foi bom,
é você realmente se sentir apto a contar cada aspecto do seu dia, fazer questão
da opinião do outro, para quem sabe com uma outra perspectiva a coisa toda
mude, contudo, as pessoas estão preferindo o básico, o simples, o razoável.
A mim o básico não
satisfaz, o simples não completa e o razoável não é compatível, eu preciso de
conexões complexas, de raízes profundas, de fundações sólidas e indestrutíveis,
pois só assim eu faço relacionamentos inesquecíveis. Mesmo com as minhas
ex-namoradas, minhas relações foram marcantes, profundas e inesquecíveis. Canso
de falar isso, não é porque um relacionamento acabou que ele foi uma merda,
muito pelo contrário, o relacionamento foi ótimo por muitos e muitos momentos,
acontece que ele não está mais sendo bom o suficiente para se sustentar e aí, é
melhor terminar do que acabar transformando o que foi bom em sentimentos ruins.
Hoje em dia, as preferências
estão deturpadas, a pessoa prefere se relacionar com alguém que pouco quer
saber da sua vida, que pouco pergunta, que pouco se importa... Pra mim isso não
serve, eu quero uma pessoa que tenha a minha vida como uma extensão da sua, não
no sentido de querer tomar conta, ter ciúmes ou viva a vida dela em função a
minha. Não, não é por aí, pra mim, é a questão da pessoa fazer questão de estar
inserida, de se interessar, realmente, de demonstrar afeto, carinho e atenção,
de se preocupar, de estar atenta aos detalhes a ao que importa.
Já cansei de falar sobre
isso, mas pra mim é realmente aquela coisa da música dos Tribalistas: “Meu
melhor amigo, é o meu amor”, penso que esse é o auge de um relacionamento, você
estar com alguém que seja o seu melhor amigo, que seja a pessoa com quem você
quer dividir seus momentos bons e ruins, que você pensa em trocar ideias sobre
todos os assuntos, que você quer falar desde sobre o que você comeu, até como
foi stressante o trabalho, é aquela pessoa que te levanta quando você precisa e
que te traz de volta pro chão quando você vai pro mundo da lua, é aquela pessoa
que sabe o seu lado bom e o seu lado ruim e que entende que é justamente essa
mistura toda de complexidades que te faz alguém único.
Eu acho que quando você
resolve se permitir gostar de alguém, abrir espaço para se apaixonar e
consequentemente para amar alguém, você está escolhendo conviver com alguém
mais intimamente, algo além do: ‘Opa, e aí, vamos pra onde hoje?’, é muito mais
do que isso, é você saber que a pessoa estará lá para você quando você
precisar, é você precisar que ela tente te ajudar a melhorar a sua vida, pois a
sua vida hoje é parte da vida dela, é ela saber que você também fará o mesmo,
pois a recíproca é verdadeira. É você entender de uma vez por todas, que pra
você se relacionar com alguém, todos os aspectos são importantes, mas a
interpessoalidade e integração são extremamente necessárias e devem ser
valorizadas.
Portanto, aconselho a
quem estiver afim de realmente se relacionar com alguém, busque alguém que seja
importante para você do que mais do que dez minutos, que seja realmente
interessante, que te traga coisas boas, que te veja com bons olhos, mesmo
quando você está triste, quando você está frágil, quando você está chorando,
alguém que não te julgue, que veja com bons olhos as suas loucuras, que consiga
entender o seu humor, que não se bronqueie quando você não está muito afim de
falar, que respeite as suas individualidades e que seja capaz de te entender e
te amar por tudo aquilo que você é, os prós e os contras, as coisas boas e as
ruins.
Procure alguém que
consiga ser capaz de absorver suas críticas como construtivas e não como uma
declaração de guerra, que invista em vocês, que queira realmente viver uma
relação saudável, que tenha pensamentos como os seus, que tenha objetivos como
os seus, que tenha interesses semelhantes aos seus, mas acima de tudo, busque
alguém que esteja disposto, busque alguém que ache que vale a pena ir além da
beirada da sua alma, que consiga te decifrar de olhos fechados, que saiba
quando você quer falar, quando você quer calar e quando você simplesmente quer
um afago. Em suma, procure pessoas que se aprofundem em você e que sejam um
mergulho interminável para você também. Para que assim, a vida a dois, seja
sempre uma aventura.
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