quarta-feira, 5 de abril de 2017

Precisamos Falar de Certo E Errado

Precisamos Falar de Certo E Errado

Cara, eu assumo, eu tô cada dia mais chato, mas é do tipo de pessoa que está se tornando insuportável mesmo, daquelas pessoas que não consegue mais se contentar com as pessoas fazendo ou falando algo de errado e já se mete, já chega e emite a sua opinião, que fala o que pensa e que se dane o mundo. Mas pode ser também que eu esteja apenas respondendo ao mundo a minha volta, de pessoas chatas, insuportáveis, daquelas que não conseguem mais se contentar com as pessoas falando e fazendo coisas, no caso deles, certas ou erradas e já se metem, já chegam e emitem as suas opiniões, que falam o que pensam, não se preocupando com o que é certo ou errado, se tem cabimento ou não o que está falando e que se dane o mundo.
Pois bem, não sei qual dos dois casos é verdade, talvez os dois, mas eu realmente estou em uma cruzada pelo bem, para que as coisas boas sejam mais propagadas, mas aí, sou forçado a me deparar com coisas ruins, com coisas más mesmo, com gente defendendo bandido, só porque o mesmo mata bandido, é gente tentando justificar o mal, com o mal, é gente que acha que o fim justifica os meios, é gente que julga que o mal se paga com o mal, que a dor tem que ser curada com dor, que precisamos voltar para a época do olho por olho, dente por dente. E quando as pessoas passam a defender e clamar pela barbárie, a barbárie acaba encontrando elas.
Sou um cara de pensamento cristão, então, acima de tudo, penso que amor deve ser maior que ódio, além disso, sou sim de posicionamento social-democrata, algo que me alinha sempre a favor dos direitos humanos, independentemente de cor, credo, raça, status social, poder econômico, sexo, sexualidade, composição física, qualquer coisa que faça com que você não seja contemplado com todas as benesses que nossa sociedade, machista, misógina, racista, preconceituosa pode prover a um homem, branco, jovem, rico e bem nascido.
Quem lê esse espaço aqui, já sabe do meu posicionamento político e filosófico, da minha ideia de mundo, de como eu penso sobre o estado democrático de direito, como eu vejo as coisas, o que eu julgo ser justo ou não. Por isso mesmo, foi muito difícil ficar calado e vendo as pessoas falarem tantas barbaridades sobre muitos assuntos, dentre os esquemas de corrupção dos nossos governantes, passando pelo ato de violência policial ao executar meliantes desarmados, em plena luz do dia, até o caso de uma estudante de treze anos que foi assassinada dentro de uma escola pública.
Pra começar, vamos deixar bem claro, o que vou dizer, não vai agradar a todo mundo, mas alguém precisa dizer, até mesmo para que seja uma voz dissonante diante de toda essa boçalidade que está sendo dita todos os dias em redes sociais e afins. Então, se você não gosta dessa temática, sugiro que você pare por aqui a sua leitura, procure outro texto aqui nesse blog, para se entreter. Temos muitas coisas aqui com temas menos polêmicos ou que se alinhem mais com a sua forma de pensar. Mas como eu bem digo, esse espaço é para expor os meus pensamentos e não para fazer média com os outros.
Ademais, vamos lá, começando com o caso dos nossos governantes e afins. A corrupção deles é só um reflexo da nossa sociedade como um todo. Você vai me perguntar se eu concordo com o modus operandi deles, e eu vou te responder prontamente que não. Mas afirmo, cada um corrompe aonde pode, infelizmente. Eu fui criado por pais, que sei que sentiriam vergonha de me ver usando algo que não me pertence, que sempre me ensinaram que o meu é meu, o do outro é do outro e pronto. Que eu não podia pegar o que não era meu e devido a isso, desenvolvi uma barreira enorme com a possibilidade de ser pego por alguém cometendo determinada infração e o mal, a dor, o peso que eu traria aos meus pais por tal fato, os faria muito mal. E aí, esse mal que eu causaria, seria um peso que eu não conseguiria carregar.
Então, por conta disso, eu nunca me envolvi com essas coisas ilícitas, nunca quis fazer um gato net em casa, sempre busquei pagar meus impostos em dia, não infringir as leis que nos regem. Mesmo as mais imbecis, como a Lei Seca, eu já não consigo mais ignorar. Todavia, sei que nem todos pensam como eu. Muita gente não vê nada demais em pagar um cafezinho pro policial liberar o seu carro numa blitz, faz gato de água, luz, internet, para o carro em vaga de idoso/deficiente, não levanta de banco preferencial em transporte público e por aí vai. As pessoas acham que esses são males menores, que em nada prejudicam o mundo a sua volta.
E essa é a maior mentira que podemos contar, que o mal que a gente faz é insignificante. Afinal, o mundo é feito por todos nós, não depende só de quem está no poder, depende do povo. E se o povo é corrupto, se o povo se corrompe, não pode exigir lisura.
Fiz esse breve relato para falar de uma conversa que tive com um amigo que se apregoa super engajado e tudo mais. Falávamos sobre Cabral, Adriana Anselmo e afins, a gangue que tomou conta do estado do Rio de Janeiro e tomou dinheiro do povo. Pois bem, esse meu amigo defende que se Cabral, Anselmo e seus asseclas devolverem todo o dinheiro roubado, poderiam nem ir pra cadeia, pois o crime deles é pequeno, diante de assassinatos, roubos, estupros e tantos outros crimes contra a vida, que são cometidos em nossa sociedade.
Eu entendo essa visão simplista, compreendo, consigo até ver lógica nela. Contudo, a mesma é totalmente contrária à minha visão de justiça, que estudei e comungo. Acho que um político que se corrompe está cometendo uma porção de crimes, não só o desvio de verbas e tudo mais, mas além de tirar o dinheiro dos cofres públicos, está deixando de aplicar tais verbas em saúde, educação, segurança e outras melhorias para o povo, além de estar acabando com a esperança do povo de dias melhores. Em muitos desses casos, pais de família entram em tal desespero, que acabam recorrendo a meios ilícitos para conseguir sustentar as suas famílias. E essa é uma conta que não se faz só com juros e multa. Por tal fato que eu acho que corrupção além de ser elevada à categoria de crime hediondo, deveria não prescrever.
Disso eu tiro um pouco de indignação, afinal, quem que decreta qual crime é ou não mais lesivo? Pois governantes nunca vão colocar que um crime cometido por eles é mais grave que um crime cometido contra a vida de outrem. Só ver, as pessoas ficaram indignadas com o goleiro Bruno voltar a trabalhar, mas não estranham termos mais de 70 congressistas, ministros e afins, investigados pela PF e ainda assim, estarem exercendo os seus mandatos tranquilamente.
Como disse o MV Bill: “(...) Então me diga o que causa mais estrago, cem gramas de maconha ou um maço de cigarro/O povo rebelado ou polícia na favela/A música do Bill ou a próxima novela? (...)”. Tais questionamentos são mega pertinentes, afinal, o que é pior, um bandido que comete assaltos à mão armada ou um político que desvia milhões e impede o desenvolvimento do país? Deixo esse questionamento sobre esse assunto.
O segundo assunto, são os policiais agindo como pistoleiros e bandidos, trazendo de volta a Lei de Talião, do olho por olho, dente por dente. Se você defende esse tipo de atitude e chegou até aqui, ainda na leitura desse texto, faço um apelo: pare agora e vá fazer algo de mais útil para a sua vida, pois aqui você não vai encontrar palavras que corroborem com a sua teoria.
Pois bem, pra começar, o policial é a figura do Estado, uso aqui letra maiúscula, pois apesar de ser um representante do estado do Rio de Janeiro, no casos os PMs que assassinaram dois homens já rendidos na porta da escola, os mesmos além de tudo, são representantes do Estado, no caso, entidade de poder, a qual, todos nós, cidadãos, abrimos mão de parte dos nossos direitos, para que possamos viver em sociedade, sob a tutela do mesmo.
Então, você acha que bandido pode tirar a vida de pessoas? Não, meu caro, ninguém pode tirar a vida de ninguém, está no nosso código penal, artigo 121: Matar alguém – Pena: Reclusão de 6 a 20 anos. Ou seja, qualquer um que cometa tal ato, deve ser punido. Daí eu te digo algo, que de repente pode ser surpresa pra você, mas e nosso país, não existe pena de morte. NÃO EXISTE! Não adianta você tentar procurar uma justificativa, mas em nosso Estado Democrático de Direito, nada e nem ninguém pode tirar uma vida, muito menos o Estado, que muito pelo contrário, está lá na Constituição como garantidor e mantenedor da vida dos seus cidadãos e dos que aqui habitam.
Não serei leviano de falar que policial tem que ir lá com bandeira branca e pedir por favor, para vagabundo parar de fazer as merdas que tá fazendo. Não é isso! O que eu tô dizendo é que o execução de criminoso não é uma das atribuições do Estado, sendo assim, não é atribuição policial matar ninguém. Claro que o policial, em confronto, deve sim usar de sua perícia para eliminar a ameaça, que no caso, não é só a ele, mas a seus colegas e a população em geral.
Sim, estou dizendo que em confronto, eu acho natural um policial, sendo alvejado por bandidos, devolver em força contrária e proporcional, atentando contra a vida dos marginais. Ou seja, policial pode e deve atirar para matar em confronto. Isso é totalmente aceitável, em qualquer parte do mundo. O problema todo aqui, é que nossos policiais são jogados aos leões, o cara tem que sair pra fazer patrulha sem colete, muitas vezes somente com uma pistola ou então uma submetralhadora. Pelo amor de Deus, o cara tá arriscando a vida dele, recebendo tiro de fuzil, de arma de bateria anti-aérea e não querer que ele atire de volta para matar, seria até desumano.
E como eu disse, sou dos direitos humanos! Então, é uma questão humanitária os agentes do Estado poderem efetuar esse tipo de autodefesa. Que aliás, está prevista na nossa legislação, qualquer pessoa que se defenda de uma agressão, cometendo ato que é considerado crime, mas que tenha sido para sua autodefesa ou de outrem, não pode ser punido. Então, está claro que em caso de confronto, não há mal algum em termos baixas. O problema está quando os agentes do Estado se valem disso para cometerem execuções e depois, forjam provas para cometerem tal crime.
Aliás, esse é um ponto importante de se frisar, é um CRIME, é um assassinato de forma vil e cruel, de forma torpe e sem chance de defesa para a vítima. A partir do momento que o agente comete tal ato, ali não é ele cometendo, é o Estado. E aí, acarretam todas as consequências do Estado agir como bandido, o Estado tem que pagar por isso. Em direito administrativo a gente aprende sobre a Responsabilidade Objetiva do Estado. Lá, você descobre algo que vai deixar muita gente de queixo caído, mas eu vou explicar de uma forma simples: Se algum agente do Estado faz merda, o Estado é obrigado a ressarcir quem sofreu por essa ação, seja uma ação ativa ou comissiva.
Agora, vamos a outro ponto dessa questão: Bandido Bom É Bandido Morto! Pois bem, se é crime matar alguém, e o Estado mata alguém, o Estado se torna bandido, aí, temos que matar o Estado. Sem o Estado, seremos novamente regidos pelo cada um por si e Deus por todos. Voltaríamos a época da selvageria, afinal, crime é crime, não? Então, seria, mais ou menos assim: Jogou papel no chão? Morre. Furou fila? Morre. Pagou cafezinho pro PM? Morre.
- Ah, mas aí é exagero!, você vai dizer. Mas eu te garanto, não, não é nenhum exagero. Como disse, crime é crime. Quem comete crime é criminoso, bandido, logo, quem infringiu a lei, tem que ser morto, essa é a lógica de vocês. E não tem essa de que é um crime pequeno, é um crimezinho, é um crime que quase não faz mal a ninguém, pois crime é crime. Qualquer um que cometa um crime desse tipo, estará cometendo crime, crime passível de punição e segundo vocês a única punição é a morte. Então, se você defende que um policial pode ser além de policial, juiz e carrasco, você não é melhor do que as pessoas que você diz que devem morrer.
Por último, falo do caso da menina Maria Eduarda, assassinada dentro da escola em que estudava. A partir do momento que perdemos a sensibilidade da gravidade que significa tal coisa, quando deixamos de lado a nossa sensibilidade de que essa vida foi perdida é uma vida perdida por cada um de nós, nós acabamos nos tornando tão criminosos quanto os que a mataram, sejam eles criminosos de fardas ou os criminosos assassinados.
Toda vida é válida, como cristão e principalmente como católico, eu tenho que pensar nisso. Tenho que defender isso, tenho que achar errado as pessoas tentarem justificar que a menina foi morta, por conta de uma suposta ligação dela com o tráfico, pois acharam uma foto, de uma menina, que se parecia com ela, com um fuzil, dando algum tipo de salvo-conduto para que o Estado tirasse a vida de uma menina, uma jovem, que tinha um futuro enorme pela frente e que foi retirada da vida pela ação de criminosos.
Não me julgo uma pessoa melhor do que ninguém, não estou aqui para dizer o que cada um deve fazer, como deve agir, mas estou aqui dando a minha visão das coisas. Acho que todo mundo pode ser bom, todo mundo pode fazer o bem, todo mundo pode ser amor, pois Deus nos fez assim. Alguns escolhem seguir por esse caminho, outros preferem pegar o lado totalmente oposto, porém, não acredito que alguém possa se tornar tão insensível a ponto de achar que trair suas crenças, trair seus ideais. Entendo que isso possa acontecer em alguns momentos, quando acabamos perdendo nossa fé ou ficamos desiludido, mas creio que quando retomamos um pouco da sanidade perdida por essas coisas, percebemos que não se paga o mal com o mal. Só se vence o mal com o bem! Só o bem pode vencer e depende de cada um de nós.

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