Para Ser Mais Que
Uma Temporada
Olha, vou
confidenciar um negócio para vocês, é difícil me acostumar com essa ideia de
ser uma espécie de conselheiro amoroso das pessoas. Desde que eu virei um
escritor, passei a trocar muito mais ideia com as pessoas e elas me dão muitos
feedbacks, porque se identificam com as minhas ideias, se identificam com os
meus pensamentos que são expostos nos meus textos. E por isso, acabam me
pedindo conselhos e tal, mas eu não me sinto preparado para tal.
Porém algumas pessoas
têm se identificado com o meu texto Alugando Amor Por Temporada, onde falo das
tendências das pessoas em evitarem se envolver mais profundamente com alguém
por conta da ideia de que em breve irá abrir mão dele, afinal, aquela pessoa
não está lá para ficar, ela é transitória, ela é descartável, ela não agrega,
logo não será um peso ou sacrificante se livrar dela.
Por mais incrível
que pareça, isso não é uma atitude que tenha a ver com gênero, com idade ou
qualquer outra coisa, isso é da nossa geração. Como eu já falei, as pessoas
estão cada vez mais egoístas, medrosas e superficiais, sendo assim, acabam elas
se fechando nos seus mundinhos, parecendo um siri dentro da lata, que se
esconde e ficam só ali, com as garras de fora, para se defenderem de qualquer
ataque.
Repare que estou
falando de se defender e atacar, vocábulos diretamente ligados a duelos e
batalhas, o que não deveria de ser normal para estar ligada a relacionamentos.
Parece que somos um bando de mimadinhos, criados pelas avós, que não
conseguimos ter maturidade suficiente para lidarmos com decepções e
contratempos, queremos tudo como, quando e do jeito que queremos. Só que tem o
outro lado, existem as pessoas que estão dispostas a encarar o desafio.
Só que, para esse
tipo de pessoas, quem está disposto a ir além do básico, as que se arriscam e
as que se mostram realmente interessadas, causam medo, causam um pavor, quase
uma fobia, capaz de fazer com que aqueles seres humanos, siris na lata, se
sintam acuados, perdidos, pressionados, impactados de tal forma, que a única
saída para eles é expulsar essas pessoas de suas vidas, é agir de uma forma que
aquele que está interessado perca o interesse.
Conversando com
uma amiga sobre o tema, ela abrindo o seu coração, me falando que se sentiu a
própria Bruxinha, me falou uma frase sobre esse assunto que ficou gravada na
minha mente. Quando tratávamos das possibilidades que a vida nos traz e o
quanto as pessoas que conseguem transpor as barreiras delas e se aproximar,
conseguem olhar com mais atenção para elas, elas entram num loop de pensamento
que é: Eu gostando dessa, acabo perdendo ela.
Daí, então, elas
preferirem colocar a pessoa que elas veem como a escolha perfeita no rol dos
amigos, pois é mais fácil de lidar, pois assim não têm como elas cagarem a
relação, afinal, a pessoa é muito legal, muito simpática, entende elas, sabe
dizer cada palavra que elas precisam ouvir, é um bom partido, mas ainda assim,
elas preferem que a pessoa se torne um amigo, pois por uma ideia
sadomasoquista, elas não o perderão assim.
Ou seja, essas
pessoas preferem abrir mão da felicidade por conta do medo de perder alguém que
é capaz de fazer elas se sentirem bem, preferem não se arriscar num
relacionamento, não forçarem se abrir ainda mais, nem baixarem as suas formas
de defesa, ou deixar de serem tão reativas e passarem a ser mais ativas, a
buscarem mais a felicidade delas. A pessoa é tão medrosa, tá tão acostumada a
situações ruins em sua vida amorosa, que o deslumbre de felicidade que ela vem
a ter com alguém que vai além da sua superficialidade, ela acha que é algo
absurdo, ofensivo e aterrorizante.
Ocorre, que os
siris não estão felizes com a forma como estão lidando com os seus
relacionamentos, aliás, eles não gostariam de se relacionar da forma como se
relacionam, mas ainda assim, não fazem muito para mudar isso, continuam
fechados, como se fossem ostras, agindo sempre na defensiva, achando que
qualquer pessoa que se aproxima deles está afim de partir os seus corações,
quando na verdade, temos pessoas que estão dispostas a algo mais, que querem
sim, criar vínculos.
Analisando as
conversas que tenho com amigos sobre o tema, acho que esse é o maior problema
das pessoas siris, elas não gostam de vínculos, pois vínculos significam
intimidade, conhecimento, amizade, companheirismo... Quando você cria vínculos
com alguém, você se fragiliza diante dessa pessoa, você mostra uma face sua que
nem sempre a melhor que você tem.
Já falei um pouco
sobre essa questão, as pessoas tendem a mostrar somente os seus lados belos, as
coisas boas, mostram as suas qualidades, mas se esquecem que elas não são
perfeitas. As pessoas siris agem de uma forma ainda mais perigosa, elas não
mostram nada demais, elas permitem que as pessoas saibam poucas coisas sobre as
suas vidas, se contentam com o básico do básico, para terem uma válvula de escape
da relação ainda mais fácil.
Na verdade, essas pessoas
siris não querem algo que seja realmente profundo, pois isso implicaria em se ligar
a alguém, ter uma conexão, fazer com que alguém tenha uma relevância em sua
vida e a partir do momento que isso ocorresse, elas teriam mais dificuldade em
abrir mão, daí o pensamento de posse: quanto mais eu gosto de você, mais você
vai me fazer falta.
Então, essas
pessoas preferem não colocar pessoas legais no seu caminho ou no seu convívio
amoroso, pois se julgam um desastre em relacionamento, logo, vão perder pessoas
legais em suas vidas. Sendo assim, elas se envolvem com pessoas superficiais,
mas querendo pessoas profundas, com pessoas descartáveis, querendo pessoas
duráveis... Seguem agindo da mesma forma, pessoa após pessoa e acha que vai
obter resultados diferentes. Isso chega a ser surpreendente, pois se você somar
2 + 2 a sua vida inteira, vai dar sempre 4. Se você não alterar os fatores, não
tem como obter um resultado diferente, se você não passar a agir de outra
maneira, você não vai conseguir fazer com que o relacionamento seja de uma
outra forma.
No fim das contas,
todo mundo quer um amor, todo mundo quer ser feliz, todo mundo quer um
relacionamento maneiro. Ninguém gosta tanto de se dar mal, a ponto de se
sabotar, contudo, a vida foi tão dura com essas pessoas, elas sofreram tanto,
passaram por maus bocados, que elas descobriram que a melhor forma de se evitar
um coração partido é escondendo o seu coração, é enterrando-o tão fundo,
escondendo-o tão bem, que ninguém nunca mais vai ser capaz de pisar nele, que
por mais que alguém tente, demonstre ou fala a pessoa querer mudar, ela não
acha que vale a pena.
E por não valer a
pena, ela não se abre, não se mostra, não se arrisca, não se desnuda, não faz
nada além de dizer seu nome, sua idade, dizer seus interesses básicos e deixar
o tesão rolar solto. Vive nessa ciranda de encontrar alguém, sair com essa
pessoa, dar uns beijos na boca, se tiver que transar, transa, mas não consegue
desenvolver nenhum tipo de sentimento além da empatia básica, não se encanta,
não se apaixona, não gosta e não ama ninguém.
Quando perde o
interesse inicial, quando vê que aquela beleza não é nada, pois o outro não lhe
acrescenta nada, quando vê que aquela pessoa não te acrescenta nada, quando
percebe que aquela pessoa na verdade não era nada além de uma vontade que se
desfez, aí a pessoa siri se frustra mais e mais. Empurra ainda mais pro fundo o
seu coração, tornando ainda mais difícil o trabalho de quem quer que queira
enfrentar a hercúlea tarefa de conseguir chegar até esse coração.
Eu não consigo
enxergar com bons olhos essa atitude das pessoas siris, afinal de contas, quem
em sã consciência é capaz de sabotar o amor? Prefere viver lances do que ter
uma relação real? Prefere se cercar de pessoas superficiais e vazias ao invés
de pessoas profundas e com conteúdo? Quem pode dizer que não é desperdício de
tempo, energia, saúde e vida ficar se relacionar com pessoas que não são
capazes de saber 0,5% da sua vida?
Eu gosto de pessoas que me conheçam da cabeça aos pés, que não me perguntem o que eu quero ganhar de presente, que me surpreendem com algo que vai ser a minha cara, que querem realmente estar junto, que buscam fazer parte da minha vida, que se importam, que dividem seus problemas comigo, que somam comigo, que me fazem ser além, que conseguem entender o meu oi, que ouvem a minha voz e já me diagnosticam. Gosto de quem se importa, de quem quer bem, com quem demonstra, com quem dá valor, com quem se faz presente, com quem sabe ser parceiro, companheiro, amante e amado. Eu gosto de uma vida a dois por completo, se for pra ser só parte, então o melhor é mesmo me enfiar numa lata.
Eu gosto de pessoas que me conheçam da cabeça aos pés, que não me perguntem o que eu quero ganhar de presente, que me surpreendem com algo que vai ser a minha cara, que querem realmente estar junto, que buscam fazer parte da minha vida, que se importam, que dividem seus problemas comigo, que somam comigo, que me fazem ser além, que conseguem entender o meu oi, que ouvem a minha voz e já me diagnosticam. Gosto de quem se importa, de quem quer bem, com quem demonstra, com quem dá valor, com quem se faz presente, com quem sabe ser parceiro, companheiro, amante e amado. Eu gosto de uma vida a dois por completo, se for pra ser só parte, então o melhor é mesmo me enfiar numa lata.
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