Foi
Um Rio Que Passou Nesse Carnaval
Acho engraçado como entra
ano e sai ano, sempre temos os mesmos questionamentos sobre o carnaval, é
sempre gente falando que sua escola foi roubada, que o título foi injusto, que
a escola A recebeu mais notas altas do que merecia, que a B não deveria ser
rebaixada, que a C não deveria nem ir para o desfile das campeãs...
Todos esses
questionamentos são válidos, ainda mais com algo que mexe tanto com a paixão da
gente, quanto o carnaval. O carnaval de Escolas de Samba tem muitas semelhanças
com o futebol, envolve paixão, entretenimento, negócio e acima de tudo, envolve
a Globo.
Diferentemente da maior
parte das pessoas, não acho que a Globo seja o mal maior do mundo. Ela em
muitas vezes é um mal? É, com certeza!!! Mas é o maior mal dos desfiles de
escolas de samba? Não, isso não é. E falo isso abertamente, pois sei que muita
gente vai falar o contrário.
Esse ano, tivemos o
resgate de duas escolas gigantes do nosso carnaval que passaram por anos sendo
muito malcuidadas e administradas, que foram a Portela e a Mocidade. Eu sou da
teoria de que você só é grande se os caminhos que você persegue para ser grande
lhe foram realmente desafiadores. Ou seja, pra mim, um título tem que ser
conquistado contra grandes adversários, seja ele no futebol ou então na
Sapucaí, mas de qualquer forma, para o brilho do troféu conquistado ser grande,
meu time ou minha escola precisam enfrentar grandes adversários.
Ano passado, a Mangueira
(minha escola), foi campeã, ganhou uma disputa acirradíssima com o Salgueiro e
a Unidos da Tijuca, foi um título mega merecido e ultra disputado, onde acabou
se sagrando campeã uma escola que conseguiu depois de anos voltar a levantar um
troféu. No ano passado, a Portela ficou no meio da tabela de classificação,
chegando ainda a ir ao desfile das campeãs e a Mocidade não passou da parte de
baixo da tabela, não chegando nem mesmo a flertar com um retorno no sábado.
Há tempos que a minha
escola vinha perseguindo esse título, se reestruturou, fez o dever de casa,
organizou a escola novamente, trouxe de volta a comunidade e conseguiu fazer um
grandioso desfile. Para esse ano, buscando o bicampeonato, foi para a avenida
com muita garra, beleza e ainda por cima, ousadia e dedicação, contudo,
escorregou em um saco plástico que se prendeu numa das rodas do carro #2, que
acabou tirando o título, mas não a beleza e o resgate da escola.
Portela já vinha também
perseguindo esse título. Não falo de 34 anos, pois em muitos anos que se
passaram, a escola flertou com o rebaixamento e em alguns, foi mantida no grupo
especial, meramente por ser a Portela, e não estou dizendo que isso não tem
peso, claro que tem, mas creio que se queremos lisura, precisamos que ela seja
para o bem e para o mal. A própria Mangueira, em algumas ocasiões, não mereceu
notas altas, que a mantiveram longe de rebaixamentos, única e exclusivamente
por ela ser a Estação Primeira.
A Azul e Branco de
Madureira sofre com problemas desde 84, afinal, houve uma cisão na escola que
fez surgir a Tradição, coincidindo ainda com o último título da escola de
Madureira. Além disso, as brigas internas e a falta de dinheiro, passaram a
fazer parte do carnaval da Portela, levando a escola a se apequenar, perder o
brilho e fazer papéis meramente figurativos na Marquês de Sapucaí.
Assim também ocorreu com
a Mocidade, devido a problemas internos e externos, que aqui não me cabe
detalhar, a Verde e Branco de Padre Miguel também se apequenou, passando a
flertar perigosamente com o rebaixamento. Para tentar um ressurgimento,
contratou Paulo Barros, que fez um desfile diferente do que a escola estava
acostumada a fazer.
Não sou dos que julga o
Paulo Barros a última bolacha do pacote, contudo, entendo que o cara sabe sim
fazer carnaval, o cara sabe organizar uma escola e sabe profissionalizar o
carnaval da escola em que ele se envolve. Então, tenho que dar o mérito ao
Paulo Barros por, ao ter aceito trabalhar na Mocidade, ter feito a escola
voltar a sonhar grande, a pensar em fazer mais do que lutar contra o rebaixamento.
Assim sendo, as duas
escolas voltaram a pensar grande, voltaram a pensar que elas precisavam fazer
mais do que somente participar da festa. Escolas como Mocidade, Portela,
Mangueira, Salgueiro, Império Serrano, Beija-Flor e Vila Isabel não podem se
contentar em fazerem parte da festa do carnaval, essas escolas são
protagonistas, chamam a atenção, são verdadeiras bandeiras do samba, sendo,
inclusive as grandes responsáveis pelo desfile das escolas de samba do carnaval
do Rio de Janeiro, ser o maior espetáculo da Terra.
Logo, o resgate dessas
gigantes do carnaval fazem bem ao carnaval, fazem bem ao mundo do samba, fazem
bem ao espetáculo, mas acima de tudo, fazem bem a dignidade da disputa do
carnaval de escolas. Mesmo, embora, a LIESA tente sabotar o seu próprio
espetáculo, dando títulos seguidos para escolas que não merecem, por não apenas
não serem as melhores nos quesitos técnicos, como também não empolgarem na
avenida.
Nesse ano, ficou
comprovado o que já se esperava, as notas das escolas são conhecidas antes da
apuração, afinal, nada mais justificaria a necessidade de se blindar alguma
escola com o não rebaixamento como foi feito. Observem, que não estou
questionando aqui o título da Portela, questiono o não rebaixamento da Tijuca.
Nada contra a Azul e
Dourado do Borel, que acho que é uma escola que está trazendo frescor ao
espetáculo, que tá profissionalizando a coisa, que soube mudar um pouco a mesmice
de desfiles técnicos, trazendo o povo para o seu lado e implementando novas
ideias ao carnaval. Contudo, o carnaval da Tijuca nesse ano, foi prejudicado
por um erro, não sei de quem e não estou aqui também para julgar, o que se viu,
foi a escola inteira passar em 15 minutos pela a avenida, uma vez que a escola
demorou uma hora para passar com a comissão de frente pela linha final na praça
da Apoteose.
Ocorre que, com isso
tudo, embora eu concorde que a Unidos da Tijuca não poderia de forma alguma
perder pontos em fantasia, bateria, mestre sala e porta bandeira, comissão de
frente e samba enredo, contudo, nas categorias técnicas como evolução, harmonia
e também alegorias e adereços ela deveria ser muito descontada. Infelizmente, a
Tijuca foi a maior beneficiada no carnaval 2017, sendo livrada de um
rebaixamento que seria extremamente merecido, uma vez que todos os problemas de
carros na avenida, foram causados e/ou não minimizados pelas escolas
envolvidas.
Desta feita, creio que a
atitude da LIESA foi lesiva ao carnaval carioca, deixou de mostrar que independentemente
de qualquer coisa, está preocupada é com a lisura e com a qualidade do
espetáculo, afinal, ao resguardar a Tijuca e permitir que jurados dessem notas
maiores para a escola Azul e Dourado do Borel, do que para São Clemente, União
da Ilha e Vila Isabel, corroborou com a tese de muitos de que o carnaval é um
jogo de cartas marcadas e que o nome da escola pesa mais do que a qualidade do
seu desfile.
Que a LIESA nunca foi um
poço de virtudes, todos nós sabemos, contudo, a mesma ao jogar contra a lisura
do seu campeonato, está jogando contra o próprio espetáculo, contra o carnaval,
contra o samba e contra si mesma, mostrando que embora já tenhamos evoluído no
quesito espetáculo, ainda estamos pecando nos quesitos organização e lisura.
Sendo assim, fico
orgulhoso de ver que minha escola passou bem, perdeu pontos onde deveria perder
e o sentimento de que se não tivesse falhado aonde falhou, hoje eu estaria
comemorando um bicampeonato. Mas deixo aqui, claro que não questiono a
qualidade da Portela, veio primorosa e mereceu o título. Fico com o sentimento
de resgate, com esse carnaval de 2017, que o samba não seja um rio que passe em
nossas vidas, mas sim um oceano, que permaneça por milhões e milhões de anos em
nossas vidas, alegrando nossos corações. Salve a Portela, salve a Mocidade,
salve a minha Mangueira, salve o Império Serrano e salve todas as grandes
escolas do carnaval carioca e que ano que vem tenhamos ainda mais resgates e
que não haja o jogo de cartas marcadas na hora das notas, está na hora de
deixarmos de ser protecionistas e julguemos pra valer o carnaval.
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