É
Proibido Ser Diferente?
Curioso como as pessoas
tratam os radicalismos como algo abominável, execrável, desprezível, torpe, até
mesmo demoníaco ou diabólico. Engraçada essa postura, pois são os radicalismos
que movem o mundo, para o bem ou para o mal. Foram os radicalismos, por
exemplo, que levaram as grandes revoluções da humanidade. Foi um radicalismo
que nos fez abandonar as árvores, nos fez sair de dentro das cavernas, nos fez
explorar novas terras, nos fez pegar em armas e fazer a revolução burguesa, a
revolução francesa, a revolução industrial... Aqui no Brasil, tivemos o
movimento de independência, o movimento republicano, o movimento modernista, a
revolução de Trinta, a revolução de 64, a revolução de redemocratização, a
revolução do Fora Collor, a revolução dos 20 centavos, a revolução golpista do
Temer...
Daí você vai me
perguntar: Mas Victor, o que todos esses movimentos têm em comum? Simples,
pessoa, em todos esses casos, os radicais que puxaram a frente. Foram pessoas
radicais que começaram o burburinho até que essas revoluções se concretizassem.
Não estou dizendo que os radicais comandaram tais revoluções, mas foram eles
que deram o pontapé inicial, para esses acontecimentos, afinal, o radical é uma
pessoa insatisfeita ao extremo. E só as pessoas insatisfeitas se movimentam
para alterar o Status Quo. Isso é simples e notório, você nunca vai ver alguém
que se beneficia de determinada situação se indignar contra essa situação que o
beneficia. Então, os radicais são necessários para abalar o senso comum, faz
com que as pessoas repensem a sociedade em que estão inseridas, daí, com o
questionamento dos moderados é que surge uma solução real e viável para os
problemas.
Espero que você já tenha
entendido que eu não sou radical e nem defendo pensamentos extremos, muito pelo
contrário, mas estou aqui, reconhecendo que precisamos da presença das pessoas
radicais num estado democrático de direito. E porque estou falando isso? Fácil
de explicar também, é porque devemos aprender a respeitar as diferenças e
observando as diferenças, tirar o melhor proveito da diversidade, questionando
assim a nossa sociedade e o mundo que nos cerca. A maior parte das pessoas é
moderada, tende a se acostumar com a sociedade e vê-la com resignação, essa
visão só muda quando provocada, e aí é que entram os insatisfeitos, os
radicais, para destamparem os olhos moderados, que se acostumaram com a
sociedade, e só quando esses abrem os olhos que se acha um caminho coerente.
Porque tratar de
radicais, moderados, conservadores, pra que falar de tal assunto? Bem, ando
vendo as pessoas cheias de críticas para as pessoas que não possuem um pensamento
convencional, seja sobre relacionamento, sobre religião, sobre música, sobre
moda, sobre cultura ou qualquer outro assunto. Nossa sociedade está formando
uma geração pasteurizada, onde as pessoas querem cada vez mais serem iguais,
comuns, ordinárias, normais... Papos, roupas, visuais, posições, comportamento,
gostos, formas de falar, tudo aquilo que nos individualiza, acaba nos fazendo
únicos, está sendo posto de lado por uma geração que parece cada vez mais ser
uma única pessoa. Isso é algo que me causa espanto, principalmente, por eu ser
uma pessoa tida como fora da curva, então, eu seria considerado uma pessoa fora
do padrão. E pretendo continuar assim, pois não pretendo deixar meus poucos
cabelos crescerem, alisar eles e usar uma franja meio desajeitada sobre um
olho, usar regata cavada até no inverno, chamar malhação de treino e gastar
mais tempo me arrumando que uma mulher, além de não ter conteúdo para discordar
do senso comum.
Prezo muito pelo meu
individualismo, gosto de ser único, original, autêntico, então, não consigo
enquadrar meus pensamentos ao senso comum. Sou uma pessoa de pensamento livre,
o que me faz ter independência para pensar o que eu quiser, como quiser e sobre
o que eu quiser. Claro que não sou totalmente original, tenho influências dos
meus pais, de pessoas que me influenciaram, que me deram motivos para repensar
o mundo a minha volta, que me tornaram esse ser humano que eu sou, que é único
nesse imenso mundo, afinal, você não encontrar muitos homens, negros, na faixa
dos 30 e poucos anos, que consegue gostar ao mesmo tempo de samba e de heavy
metal, que tem na sua playlist Jorge Ben e Louis Armstrong, que curte filmes de
terror e filmes cabeças, que gosta tanto de praia, quanto de ir pra um show,
que ama trilhas e também jogar vídeo game... Eu sou dos caras que não tem um
tipo físico de mulher ideal, mas que ama as mulheres pelo que elas são, pelo
que elas podem lhe agregar de valor na sua vida.
Um dos pontos que me
causa estranheza em relação a essa nova geração é justamente isso, eles querem
que as mulheres sejam todas iguais, tenham um jeito específico. Basta ver que
as meninas da sua faixa de 15 a 22 anos, todas se parecem, todas têm o cabelo
grande, liso e aloirado. São poucas as exceções, poucas são as mulheres que se
destacam na multidão, que conseguem ter uma identidade visual própria. E isso
ocorre porque a sociedade em que elas estão inseridas as repelem, exigem que
elas sejam mais do mesmo, sejam apenas mais uma parecida.
Não tá acreditando? Te
faço um desafio agora! Você convive com mulheres dessa faixa etária que eu
falei? Então, tente descrever três dessas mulheres de uma forma clara e
objetiva, falando só de características físicas e nomeando apenas 5 delas. Pois
bem, você conseguiu fazer com que algumas das descrições falasse só sobre uma
delas?! Não, né?! Pois é disso que estou falando. E isso se aplica aos rapazes
também. É a mesma coisa, os garotos dessa faixa etária são em sua maioria,
bombadinhos, com cabelos grandes, geralmente na altura dos ombros, capazes de
fazê-los usar sobre os olhos... É triste isso!
Eu me lembro, que estudei
no Imperial Colégio Militar do Rio de Janeiro, local onde a individualidade era
quase que impossível de ser praticada, afinal, todos deviam usar os uniformes
devidamente alinhados, cabelos milimetricamente cortados e tudo no uniforme era
padronizado, não podendo ninguém fugir ao padrão. E aí que a gente se
preocupava mais ainda em pensar formas de se individualizar naquele caos de
igualdade, criávamos formas de colocar a boina, de amarrar os cadarços, de pôr
as plaquetas e tudo o mais que pudesse nos individualizar no meio do todo. O
objetivo era nos fazer sermos mais um no meio da multidão, mas por isso mesmo,
em qualquer coisa que pudéssemos empenhar nossa individualidade, fazíamos.
Mas a característica
dessa geração que acho mais nociva é que eles tolhem tudo o que é diferente,
tudo o que não é o comum, tudo o que não é o que os iguala. Quando alguém diferente
surge, sofre logo bullying, justamente para que essa característica que o
destaca, seja reprimida e o mesmo tenha que se adaptar ao grupo, sendo
novamente transformado em só mais um na multidão. Há um tempo atrás, circulou
nas redes sociais a foto de meninos dessa faixa etária, numa choppada de um
curso da PUC, estavam todos com o mesmo corte de cabelo, mesmo formato de
corpo, mesmo tipo de vestimentas, mesmo tipo de calçados e só não estavam com o
mesmo tipo de camisa, pois todos estavam sem camisas.
Então, acho que devemos
de parar de nos preocupar com as pessoas que pensam fora da caixa, que pensam
fora do convencional, as maiores revoluções da humanidade foram feitas por
pessoas assim e por isso mesmo, espero que incentivemos mais as
individualidades, falo isso para todos os que possam ler esse texto, mas ainda
mais, para fomentar uma discussão, deixem cada um ser o que quiser, parem de
ficar querendo impor o que alguém pode ou não ser. Se um rapaz gosta de beijar
outros, deixe ele fazer isso, se ele for feliz, que assim o seja. Se uma moça
não tem o comportamento padrão de ser patricinha e tal, gostar de ouvir metal
pesado, se vestir de preto e usar o cabelo desarrumado, e isso a fizer feliz,
deixe-a ser feliz. Se alguém não curte o tipo de programas que a maioria, isso
não a fará uma pessoa melhor ou pior, só a fará diferente. Desta forma, deixa
cada um ser o que quiser, deixem as pessoas beijarem quem elas quiserem, deixa
as pessoas serem o que quiserem, viverem da forma que quiserem, agirem da forma
que quiserem, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer nada senão por
força da lei, afinal, como bem disse o poeta: Faça o que tu queres pois é tudo
da lei!
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