Ser Pai do Filho
Que Não É Meu
Olha, sou uma
pessoa que tenho uma família que mesmo com seus altos e baixos, mesmo com suas
alegrias e tristezas, mesmo com seus dramas e problemas, e ainda, sem muitos
luxos, sem muitas extravagâncias, com muito amor e muito carinho entre nós. Com
isso mesmo, eu cresci, evoluí, me tornei um homem capaz de entender todo esse
amor, carinho e ainda dar esse amor e carinho para os outros.
Com a minha
família eu aprendi que a vida é capaz de te pregar algumas peças, te fazer
mudar completamente os seus paradigmas e suas certezas. A gente vai vivendo,
vai sendo atropelado pela vida, ela vai mudando o nosso mundo, muda a nossa vivência,
nosso jeito de ser. A vida te surpreende e é algo surpreendente.
Bem, como todo
mundo sabe, eu ainda não sou pai. Quer dizer, eu ainda não era pai. Bem, até
esse dia dos pais, eu não era pai. Não, antes que muita gente se altere, eu não
engravidei ninguém, não fui surpreendido com um adolescente batendo na minha
porta com uma carta de sua mãe explicando a situação de nossa relação e muito
menos adotei uma criança num impulso incontrolável de ser pai. Não, nada disso.
Eu apenas fui surpreendido com a sinceridade de uma criança.
Mas você já deve
ter reparado que algo deve ser novo pra mim. Pois é, tem algo novo sim. Esse
ano eu fui surpreendido com uma paternidade que não fiz por onde eu ter. Não
tive aquela paternidade de ver a barriga da mãe crescer, acompanhar o
pré-natal, muito menos de começar a projetar como seria a minha relação com o
meu rebento.
Como disse o
poeta: “Quando seu moço, nasceu meu rebento, não era o momento dele rebentar...”.
Não era mesmo, meu rebento surgiu na minha vida durante a gravidez da sua mãe,
mas naquela época eu não me preocupava se teria que ter atitude de pai. Naquela
época eu só seria tio. Minha função era essa, ser tio. E eu era um tio muito
legal. Sempre fui, tanto pros sobrinhos, quanto pros afilhados.
Ocorre que a vida
é surpreendente, a vida tem aquelas coisas de viradas no enredo, que a gente se
pega no meio dessas mudanças e não tem o menor controle sobre isso, apenas
precisamos colocar o assento na posição vertical, afivelar o cinto e nos
preparar para levantar voo, sem saber o destino.
Mas vamos voltar a
realidade, minha paternidade não é presumível, não é biológica, nem é adotiva.
Minha paternidade é imposta, não por mim, mas pela minha filha. Sim, eu ganhei
uma filha. Diga-se de passagem, uma filha maravilhosa, que eu tive o prazer de
receber como minha com o passar desse último ano. Eu ganhei uma filha muito
esperta, amorosa, inteligente e por essa sua inteligência e noção de mundo, resolveu
me fazer de pai.
Sim, minha filha é
minha sobrinha Manuela, que desde o início do ano passado passou a morar na
minha casa. Com essa mudança eu passei a ter a tal gestação da minha
paternidade. Sim, pois foram necessários aproximadamente nove meses para eu me
adaptar a ideia de ser “pai” dela. Afinal, não era uma responsabilidade que
deveria ser minha, eu apenas tinha a responsabilidade de ser tio, e nisso eu
era muito bom.
Ocorre, que com o
passar do tempo, com a convivência direta, com aquela presença diária, com a “gestação”
rolando, fui me acostumando com a ideia de ser pai. Minha paternidade foi
aflorando, germinando, crescendo e se acentuando, até que explodiu nos últimos
meses. De uns tempos pra cá, não tem como não me sentir não mais como tio
apenas, mas ainda sendo um pai.
É engraçado como as
pessoas não entendem que paternidade não tem nada a ver com a questão
biológica, não é pelo fato de haver o laço sanguíneo. Como ainda sou muito novo
nessa onda de ser pai não tenho muita prática com isso, estou apenas tateando
ainda a paternidade, mas felizmente eu tive grandes exemplos em minha vida.
Não somente o meu
pai, que é um grande exemplo, que me ensinou desde sempre como ser pai, que me
ensinou como era exercer uma paternidade não pela autoridade, mas pelo amor e
pelo exemplo. Tenho meus tios, Carlinhos e Cristóvão, que me ensinaram o que
aconteceu comigo, você para ser pai não precisa de ter o seu sangue correndo
nas veias do seu filho. Ainda tive a felicidade de ver a minha geração sendo
pai também, meu primo Thiago, que me mostra sempre como é o amor paternal que
nós aprendemos a ter com os outros três. E meus compadres, Vando, Amaro e
Andinho, que me mostram sempre que ser pai é uma questão de você se propor a
exercer tal papel.
Hoje foi o meu
primeiro dia dos pais. Pretendo ser o melhor pai possível para a minha filha e
que meus futuros filhos consigam me ver com os mesmos olhos que a irmã mais
velha deles. Pois foi com ela que eu aprendi o que é ser pai, aprendi o que é
amor de pai, aprendi o que é pensar no melhor por uma outra pessoa e não mais
somente por mim, consegui descobrir como é o meu coração bater em outro peito,
aprendi que eu sou exemplo, que minhas atitudes influem na vida dela, que eu
preciso muito ser alegre, que eu preciso ser cuidador, preciso ser protetor,
preciso ser mais do que eu seria por mim, pois agora eu tenho um outro serzinho
que depende de mim e que me ama, justamente pelo que eu sou e que me faz muito
bem saber que eu sou pai, não por ter sido algo que eu fiz, mas porque a
paternidade me escolheu.
PS: Um feliz dia dos
pais a todos os pais, principalmente os pais que estão em minha vida e que me
mostram sempre que ser pai é muito mais do que ser doador de esperma, é
participar, é se envolver, é saber amar mais, é você educar, é ser exemplo, é
saber que você pode dar a sua vida por um outro alguém, é querer fazer de tudo
pela felicidade de um outro alguém.
PS2: Agradeço a
Deus por ter me dado a oportunidade de poder me tornar pai da minha princesa, pois
só ela para me tornar um pai, antes de ser pai biológico. Te amo!
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