domingo, 13 de agosto de 2017

Ser Pai do Filho Que Não É Meu

Ser Pai do Filho Que Não É Meu

Olha, sou uma pessoa que tenho uma família que mesmo com seus altos e baixos, mesmo com suas alegrias e tristezas, mesmo com seus dramas e problemas, e ainda, sem muitos luxos, sem muitas extravagâncias, com muito amor e muito carinho entre nós. Com isso mesmo, eu cresci, evoluí, me tornei um homem capaz de entender todo esse amor, carinho e ainda dar esse amor e carinho para os outros.
Com a minha família eu aprendi que a vida é capaz de te pregar algumas peças, te fazer mudar completamente os seus paradigmas e suas certezas. A gente vai vivendo, vai sendo atropelado pela vida, ela vai mudando o nosso mundo, muda a nossa vivência, nosso jeito de ser. A vida te surpreende e é algo surpreendente.
Bem, como todo mundo sabe, eu ainda não sou pai. Quer dizer, eu ainda não era pai. Bem, até esse dia dos pais, eu não era pai. Não, antes que muita gente se altere, eu não engravidei ninguém, não fui surpreendido com um adolescente batendo na minha porta com uma carta de sua mãe explicando a situação de nossa relação e muito menos adotei uma criança num impulso incontrolável de ser pai. Não, nada disso. Eu apenas fui surpreendido com a sinceridade de uma criança.
Mas você já deve ter reparado que algo deve ser novo pra mim. Pois é, tem algo novo sim. Esse ano eu fui surpreendido com uma paternidade que não fiz por onde eu ter. Não tive aquela paternidade de ver a barriga da mãe crescer, acompanhar o pré-natal, muito menos de começar a projetar como seria a minha relação com o meu rebento.
Como disse o poeta: “Quando seu moço, nasceu meu rebento, não era o momento dele rebentar...”. Não era mesmo, meu rebento surgiu na minha vida durante a gravidez da sua mãe, mas naquela época eu não me preocupava se teria que ter atitude de pai. Naquela época eu só seria tio. Minha função era essa, ser tio. E eu era um tio muito legal. Sempre fui, tanto pros sobrinhos, quanto pros afilhados.
Ocorre que a vida é surpreendente, a vida tem aquelas coisas de viradas no enredo, que a gente se pega no meio dessas mudanças e não tem o menor controle sobre isso, apenas precisamos colocar o assento na posição vertical, afivelar o cinto e nos preparar para levantar voo, sem saber o destino.
Mas vamos voltar a realidade, minha paternidade não é presumível, não é biológica, nem é adotiva. Minha paternidade é imposta, não por mim, mas pela minha filha. Sim, eu ganhei uma filha. Diga-se de passagem, uma filha maravilhosa, que eu tive o prazer de receber como minha com o passar desse último ano. Eu ganhei uma filha muito esperta, amorosa, inteligente e por essa sua inteligência e noção de mundo, resolveu me fazer de pai.
Sim, minha filha é minha sobrinha Manuela, que desde o início do ano passado passou a morar na minha casa. Com essa mudança eu passei a ter a tal gestação da minha paternidade. Sim, pois foram necessários aproximadamente nove meses para eu me adaptar a ideia de ser “pai” dela. Afinal, não era uma responsabilidade que deveria ser minha, eu apenas tinha a responsabilidade de ser tio, e nisso eu era muito bom.
Ocorre, que com o passar do tempo, com a convivência direta, com aquela presença diária, com a “gestação” rolando, fui me acostumando com a ideia de ser pai. Minha paternidade foi aflorando, germinando, crescendo e se acentuando, até que explodiu nos últimos meses. De uns tempos pra cá, não tem como não me sentir não mais como tio apenas, mas ainda sendo um pai.
É engraçado como as pessoas não entendem que paternidade não tem nada a ver com a questão biológica, não é pelo fato de haver o laço sanguíneo. Como ainda sou muito novo nessa onda de ser pai não tenho muita prática com isso, estou apenas tateando ainda a paternidade, mas felizmente eu tive grandes exemplos em minha vida.
Não somente o meu pai, que é um grande exemplo, que me ensinou desde sempre como ser pai, que me ensinou como era exercer uma paternidade não pela autoridade, mas pelo amor e pelo exemplo. Tenho meus tios, Carlinhos e Cristóvão, que me ensinaram o que aconteceu comigo, você para ser pai não precisa de ter o seu sangue correndo nas veias do seu filho. Ainda tive a felicidade de ver a minha geração sendo pai também, meu primo Thiago, que me mostra sempre como é o amor paternal que nós aprendemos a ter com os outros três. E meus compadres, Vando, Amaro e Andinho, que me mostram sempre que ser pai é uma questão de você se propor a exercer tal papel.
Hoje foi o meu primeiro dia dos pais. Pretendo ser o melhor pai possível para a minha filha e que meus futuros filhos consigam me ver com os mesmos olhos que a irmã mais velha deles. Pois foi com ela que eu aprendi o que é ser pai, aprendi o que é amor de pai, aprendi o que é pensar no melhor por uma outra pessoa e não mais somente por mim, consegui descobrir como é o meu coração bater em outro peito, aprendi que eu sou exemplo, que minhas atitudes influem na vida dela, que eu preciso muito ser alegre, que eu preciso ser cuidador, preciso ser protetor, preciso ser mais do que eu seria por mim, pois agora eu tenho um outro serzinho que depende de mim e que me ama, justamente pelo que eu sou e que me faz muito bem saber que eu sou pai, não por ter sido algo que eu fiz, mas porque a paternidade me escolheu.
PS: Um feliz dia dos pais a todos os pais, principalmente os pais que estão em minha vida e que me mostram sempre que ser pai é muito mais do que ser doador de esperma, é participar, é se envolver, é saber amar mais, é você educar, é ser exemplo, é saber que você pode dar a sua vida por um outro alguém, é querer fazer de tudo pela felicidade de um outro alguém.

PS2: Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de poder me tornar pai da minha princesa, pois só ela para me tornar um pai, antes de ser pai biológico. Te amo!

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